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Ida de Dino para o STF inicia a implosão da extrema direita bolsonarista? – por Carlos Wagner

Se confirmada a indicação, a Direita “terá uma chance de descer do trem”

Efeito Flavio Dino no Supremo: Direita conseguirá se livrar dos bolsonaristas e voltar ao jogo político? (Foto Reprodução)

A aprovação no Senado da indicação de Flávio Dino para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pode ser o início do processo de implosão do bolsonarismo de extrema direita e significará uma oportunidade para a direita voltar ao jogo político.

Em 2018, a direita, acreditando que poderia dominar a extrema direita, apostou no então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PL). Não conseguiu dominar Bolsonaro. Quem não saiu do governo foi demitido, e os que ficaram tiveram que jogar com as cartas da extrema direita.

Atualmente, o símbolo da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o ex-presidente, mesmo depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o tornou inelegível por oito anos por estar respondendo a dezenas de processos e investigações, como a tentativa de golpe de 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicalizados quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no STF e no Congresso, em Brasília.

Desde o início do governo Lula, Dino ocupa o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Foi indicado ao STF na semana passada e sua audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado foi marcada para o próximo dia 13, uma quarta-feira. Também na semana passada o procurador federal Paulo Gonet foi indicado para ocupar a Procuradoria-Geral da República. Gonet não deverá ter problemas para a sua aprovação.

A bronca da oposição bolsonarista é com Dino. Vão tentar derrubar a indicação para o STF batendo em duas teclas. A primeira é que ele é comunista, portanto, contra os princípios cristãos, como acusou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A segunda é que teria sido um péssimo ministro da Justiça e Segurança Pública.

No primeiro caso, ser comunista não é crime no Brasil. No segundo, a bronca deve-se ao fato de Dino ter sido um dos que articularam a reação do governo contra os golpistas de 8 de janeiro, que resultou na prisão de 1,2 mil pessoas, entre elas manifestantes, financiadores do golpe e autoridades que conspiraram contra a democracia. As investigações estão sendo conduzidas pela Polícia Federal (PF), que é vinculada ao Ministério da Justiça, através da Operação Lesa Pátria, já em sua 17ª edição.

Lembremos o seguinte: é um direito do presidente da República indicar os ministros do STF. E tem sido tradição do Senado aprovar a indicação sem grandes problemas, mesmo nos tempos em que a polarização da disputa política era entre o PT e o PSDB. Por que o rolo agora? Foi o que restou para a oposição bolsonarista.

Enquanto isso, o governo está envolvido com grandes projetos econômicos, políticos e com uma pauta internacional que dá visibilidade ao país e resulta em bons negócios. Usando palavras que viraram moda na imprensa política do Brasil. É simples assim.

A direita já tentou e falhou em se livrar do bolsonarismo. Foi nas eleições presidenciais de 2022. Na ocasião, apostou em consolidar um candidato a quem chamaram de terceira via, com a intenção de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Fracassou e continua refém dos bolsonaristas.

Aliás, nos dias atuais até o ex-presidente se declara uma pessoa de direita para fugir da imagem de extremista que ganhou devido as manifestações golpistas de 8 de janeiro e das 700 mil mortes de brasileiros ocorridas durante a pandemia de Covid, que têm a digital do seu governo, como demonstram as 1,3 mil páginas do relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19, a CPI da Covid.

Existe um cálculo do governo que Dino fará no plenário do Senado 62 votos dos 81 senadores, o que seria uma senhora derrota para a oposição bolsonarista. Se Dino ganhar, implodirá a extrema direita bolsonarista? Não acredito e vou explicar a razão.

Analisando tudo que temos publicado sobre o assunto e o conhecimento que adquirimos sobre como funcionam as coisas entre as quatro paredes do bolsonarismo, vejo que a maior aposta deles não é barrar a indicação de Dino. Mas aproveitar o espaço que ganharam na grande imprensa com o estardalhaço que estão fazendo sobre a indicação. É assim que as coisas funcionam. Lembremos que no próximo ano haverá eleições municipais, nas quais o prestígio político do ex-presidente será testado.

Essa maneira de agir de Bolsonaro vem desde os tempos que ocupou por três décadas o mandato de deputado federal pelo Rio de Janeiro. Na época, ele era conhecido como um deputado do baixo clero, termo usado pelos jornalistas para designar parlamentares de pouca relevância, mas que costumava atrair a atenção dos jornalistas defendendo teses exóticas. E nas muitas vezes que conseguia virar manchete de capa lembrava aos seus colegas que o importante era os jornais falarem sobre ele, não importando se falassem bem ou mal.

O ex-presidente não mentiu para a direita sobre as suas intenções caso fosse eleito. Disse que liberaria geral o acesso à Floresta Amazônica e aos seus povos originais, que defenderia a compra e o uso de armas e que trabalharia por um golpe de estado. Tentou tudo o que prometeu, basta dar uma olhada nos processos que tramitam na Justiça. Se acontecer um milagre e os bolsonaristas de extrema direita conseguirem barrar a aprovação de Dino para o STF eles ganham prestígio e a direita do Brasil continuará sua refém por um bom tempo. Caso contrário, terá uma chance de descer do trem da extrema direita, como dizem os moradores do interior de Minas Gerais.  

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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6 Comentários

  1. Correndo por fora o problema em Maceió. CPI para garantir a narrativa. Cumpanheros envolvidos, Renan entre eles. Odebrecht. STF? Ainda tem 8 anos de Gilmar e algumas decadas de Xandão. Se tivermos azar. Alas, Xandão é um ano mais moço que Sapo Dino. Resumo da ópera é que este pais não tem jeito mesmo. Quem puder a melhor saída é o aeroporto.

  2. ‘[…] o governo está envolvido com grandes projetos econômicos, políticos e com uma pauta internacional que dá visibilidade ao país e resulta em bons negócios’. Gasta-se muito dinheiro não se sabe muito onde, resultados não aparecem. Parece que o destino final são bolsos. Pauta internacional? Todo mundo lá fora já percebeu, Rato Rouco discursa condenando combustiveis fosseis de manha e fala em entrar na OPEP+ de tarde.

  3. Nomeação de Sapo Dino é aparelhamento puro e simples. E o ministro que entrou em territorio controlado pelo trafico no RJ sem muita escolta. Na gestão dele a Dama do Trafico perambulou nos corredores do poder em BSB. PF anda fazendo operações e prendendo traficantes de armas com grande fanfarra da midia cumpanhera. Depois de amanha outros substituirao os presos. Obvio.

  4. Sapo Dino é comunista, verdade. Requisitos legais serão atendidos, é verdade. Repetiu o chavão, atuação tecnica e imparcial. Para quem acreditar nele tenho um viaduto para vender na BR-158 e uma universidade no bairro Camobi. Simples assim. Nesta hora aparecem os imbecis do juridico falando que na sera mesozoica um integrante do governo ianque foi nomeado para o Supremo deles e votou contra os interesses do mesmo logo depois. Como se tivesse uma coisa aver com outra, cultura diferente, sistema diferente, honestidade diferente.

  5. Sapo Dino deve ser aprovado no Senado. Até prova em contrario o resto é circo para a midia gerar audiencia e clicks. Gonet tem dedo do Gilmar, logo será aprovado.

  6. Não consegui encontrar ligação logica entre Sapo Dino ir para o STF, a direita expurgar os cavalistas e abraçar o governo Molusco com L., abstemio, honesto e famigerado dirigente petista. Não há espaço para desenho aqui, reclamação antiga. Nem toda direita é cavalista, mas a grande maioria é anti-vermelha, anti-PT e anti-Rato Rouco.

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