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Não chores… – por Orlando FOnseca

… Argentina. A ideia para o título me ocorreu com a lembrança de um musical do final dos anos setenta, criado por Andrew Lloyd Webber e Tim Rice: “Evita”, cuja canção principal era “Não Chores Por Mim Argentina”. Em 1996, Madonna conseguiu a façanha de popularizar, tanto a personagem-símbolo do peronismo, quanto a letra da música que também se tornou simbólica pelo anúncio de seu título. A Argentina não saíra apenas derrotada na guerra das Malvinas, em 1983, mas voltava, aos trancos, à normalidade após a eleição de Raul Alfonsin, e convivia com todos os sobressaltos do governo Menem, 1989-1999. Suprimi o “ por mim” da frase inicial, de propósito, porque, ao certo, não sei o que dizer ao povo hermano, com a posse de Javier Milei, no último domingo. Eles o elegeram conforme processo democrático legítimo. No entanto, pairam muitas dúvidas sobre o futuro próximo da nação vizinha. Com ingredientes que nós, brasileiros, conhecemos na prática, no finado mandato presidencial brasileiro.

Milei é uma incógnita para mim, desde que apareceu no noticiário por aqui, já em plena campanha eleitoral. Entendo que o povo argentino, cansado das ineficácias dos dois lados do espectro político de seu país (peronismo/kirchenerismo e neoliberalismo de Macri), acabou escolhendo, com tremenda expectativa, uma solução inédita. Assim como já aconteceu nos EUA, com a opção por Trump, e no Brasil, com a ascensão mítica do bolsonarismo, as propostas (ou ausência delas) não testadas serviram como alívio imediato. Nos EUA, bem entendido, temos uma parcela significativa da população que é conservadora nos costumes (radicalismo evangélico-protestante) e pró mercado, na concepção de uma grande nação capitalista. No Brasil, na esteira da reação conservadora (com as fileiras, agora, engrossadas pelos neopentecostais), persistia um saudosismo da ditadura militar que é difícil compreender.

O agora presidente argentino, ainda apresenta um comportamento errático, já conhecido por lá, mas que persiste nestes primeiros momentos de seu mandato oficial. Não apenas pelo fato de que diz dialogar com seus cães (por telepatia), mas por se anunciar como um arauto do “anarcocapitalismo”, e pregar a dissolução da Suprema Corte, o fim do Banco Central e fazer ataques à classe política, à qual tem chamado de “casta”. Mas, principalmente, porque não apresenta um projeto consistente, minimamente exequível (nas condições que conhecemos) de tirar a Argentina do buraco da crise, que chega às raias da tragédia. Com uma inflação galopante e a falta de empregos, a população miserável chega aos 40%. Assim é que, em vez de discursar perante a Assembleia Legislativa, como é a tradição, ele optou por fazer seu discurso de posso para seus seguidores, de costas para o Congresso, afrontando a política tradicional. Falar para o cercadinho é fácil, porém, ao contrário de Bolsonaro no Brasil, quero ver o que fará sem maioria no Congresso. Isso prenuncia dificuldades tremendas para fazer funcionar suas ideias na prática. Por isso a tentação de dizer à Argentina que não chore.

Javier Milei, economista de extrema direita, anuncia-se como anarcocapitalista. Em seu discurso, apresentou detalhes de suas reformas, privatizações, aumentos de tarifas e mudanças no sistema de trabalho e previdência social. Tais reformas, embora não tenham sido detalhadas em sua totalidade, seguem a cartilha neoliberal, conhecida pelas suas ineficácias (será que justo com Milei funcionarão?). O populismo de direita em tempo de crises nacionais, com Mussolini, Hitler e Franco e seus discípulos, como Salazar e os generais sul-americanos, marcado por reação conservadora e obras de impacto, nunca apresentou avanços importantes na história. Nos países que conseguiram se livrar dos extremismos, com uma direção ao centro pela formação de governos de coalizão e pautas que deram na social-democracia, houve equilíbrio entre avanços econômicos (industriais e culturais) e justiça social.

O futuro do governo de Milei agora dependerá de sua capacidade de negociar com o Congresso, pois as reformas e mudanças anunciadas são controversas e gerarão debates acalorados no país, nos próximos meses. Um contrassenso flagrante do anarcocapitalista portenho: proposta de dolarizar a economia, com a moeda estável dos americanos. Estado forte na casa dos outros pode. Talvez não seja o caso de pedir à Argentina que não chore, mas está bem difícil segurar o riso. Entretanto é cedo para qualquer posição decisiva, portanto, é preciso esperar pra ver se quem ri por último ri melhor.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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14 Comentários

  1. ‘[…] mas está bem difícil segurar o riso.’ Rindo não sei do que. Perderam a eleição porque fizeram um monte de c@g@d@s e acham engraçado porque o eleito não vai conseguir resolver também? Ou talvez esteja rindo da inflação de 150% e os mais de 40% abaixo da linha da pobreza que a esquerda deixou. Bota ‘humanismo’ nisto. O mundo se resume num pleito, numa ideologia. Resolver os problemas é completamente secundario, nada que uma grana para publicidade não resolva.

  2. ‘[…] com a moeda estável dos americanos. Estado forte na casa dos outros pode.’ O que faz funcionar a Ianquelandia não é ‘Estado forte’, é a sociedade civil que se organiza e não espera pelo Estado. Alem dos aspectos culturais, ‘devolver para a comunidade’. Vermelhos querem ‘encaixar’ uma ideologia que deu errado em todo lugar que foi aplicada mesmo que não seja o caso.

  3. ‘[…] se livrar dos extremismos, com uma direção ao centro pela formação de governos de coalizão e pautas que deram na social-democracia, houve equilíbrio entre avanços econômicos (industriais e culturais) e justiça social.’ Isto poderia até ter sido verdade no passado. Porém a politica não é fator unico e nem o mais importante. Tomada de decisão sem recursos é boa intenção estéril. Crise economica na Europa, crise migratoria, o bem estar social esta indo para a conta. Da Suecia ao Reino Unido. NHS, sistema que serviu de modelo para o SUS, degringolou.

  4. ‘[…] marcado por reação conservadora e obras de impacto, nunca apresentou avanços importantes na história.’ Defina ‘avanços importantes na historia’. IDH do Chile é 0.855, do Brasil é 0.754. Apesar de todas as bagunças da esquerda por lá. Melhor universidade da AL é a PUC de Santiago do Chile. USP perdeu o posto porque os vermelhos conseguiram quebrar o sistema estadual paulista anos atras, sistema que é responsavel por mais de 80% da produção cientifica tupiniquim.

  5. ‘[…] seguem a cartilha neoliberal, conhecida pelas suas ineficácias […]’. Muito Reagan e Thatcher. Basta ver os dados economicos para ver que não é verdade. Engraçado é que sempre que um vermelho detona a economia elegem um ‘neoliberal’ depois. Vermelhos gostam de persistir na c@g@d@. O antecessor da Dama de Ferro era do Partido Trabalhista.

  6. ‘[…] afrontando a política tradicional.[…]’. Defina ‘politica tradicional’. Sim, vejamos o Casarão da Vale Machado. Setima Legislatura: Cesar Schirmer, Erony Paniz, João Gilberto Lucas Coelho, Osvaldo Nascimento da Silva. Nona Legislatura: Simon do Monte, Marcos Rolim, Sergio Blattes e Sergio Cechim. Decima: Pizarro, Humberto Gabbi Zanatta, Capsicum, Rejane Flores. Só uma amostra, também não é bom avançar muito por motivos obvios. Observa-se o que a Casa tem para oferecer hoje e os assuntos que la se tratam. Santa Maria Cidade Universitaria. Imagine as demais. O mesmo exercicio pode ser feito em POA, na AL e no Congresso Nacional. ‘Politica tradicional’ virou uma ideia abstrata que leva a nada. Como é um problema que não se resolve sozinho (nem com mimimi) e beneficia ‘uma casta’ a solução é esperar chegar no fundo do poço. Depois é ver o que acontece.

  7. ‘[…] porque não apresenta um projeto consistente, minimamente exequível (nas condições que conhecemos) de tirar a Argentina do buraco da crise, que chega às raias da tragédia.’ Esquerda coloca o pais no buraco e quer cobrar soluções para os problemas que ela criou. Que beleza! Mais, o otimismo. Burocratas querem um ‘projeto’. Dirigismo de um liberal! É só para dar risada! Kuakuakuakuakua! Parcela da população abaixo da linha da pobreza já bate nos 50%, não 40. Inflação bate nos 150%. Reservas na rapa do tacho. Questão toda é se já não passaram do ponto sem retorno.

  8. ‘[…] fazer ataques à classe política, à qual tem chamado de “casta”.’ Critica faz parte da democracia. Talvez não na Republica Popular Democratica da Coréia. Faoro falava weberiamente em estamentos. No frigir dos ovos é uma casta. Como é uma casta o conjunto dos servidores publicos. Não deixa de ser verdade porque alguns não gostam. Servidores tem estabilidade, ferias gordas, aumento de salario sem relação com a produtividade. Ministros com vinhos finos e lagostas. Viagens. Politicos tem o cargo eletivo e se o voto não aparece surge um cabide. Nem que seja no partido sustentado com fundo partidario. Muito diferente do resto da população que tem que correr atras e sustentar mordomias. É assim na Argentina, no Brasil e muitos outros paises por ai. Batata esta assando, se vai dar alguma coisa já é outro papo. Pessoas se acostumam com tudo.

  9. ‘[…] o fim do Banco Central[…]’. Não vai rolar. De qualquer maneira já foi comentado no passado aqui, não existem paises liberais porque, grosso modo, todos têm BC.

  10. ‘[…] e pregar a dissolução da Suprema Corte,[…]’. Isto é novidade ou fake news. Quem quis impichar a Suprema Corte foi Alberto Fernandez, iniciou procedimento legislativo no iniciou deste ano. Alas, é moda na midia da aldeia, misturam opinião com ‘dados duvidosos’ para disfarçar fake news.

  11. Maduro, o podre, conversa com passarinhos. Até ouviu recado de Chavez, o que significa que o inferno tem serviço de mensagens.

  12. Falklands. Lembrando que os correntinos foram derrotados. Qual a parte de ‘derrotados’ não ficou clara? Alas, Maduro Podre, um vermelho, quer anexar uma parte da Guiana. Aparentemente iria perder no tribunal internacional onde estava o pleito e resolveu aproveitar para ganhar uma sobrevida na eleição vindoura. Alas, invadir outros paises por conta do petroleo é coisa que os vermelhos acusavam os ianques. Alas, Maduro Podre está marcado como agente desestabilizador, o que pode levar no futuro a queda. Alas, Falklands tem depositos de petroleo e gas ao redor. Para os vermelhos o melhor dinheiro é o dos outros porque não precisa trabalhar.

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