DestaqueEsporte

FUTEBOL AMERICANO. A história de Gustavo Petter, o treinador “ex-Soldiers” com mais títulos estaduais

Por sete anos, o santa-mariense vestiu o verde-preto dentro e fora de campo

Com cinco títulos do Gauchão, “head coach” é o técnico mais vitorioso do Rio Grande do Sul (Foto Radar Esportivo/Divulgação)

Por Pedro Pereira

Conforme anunciado pelo Santa Maria Soldiers no dia 16 de janeiro e noticiado em primeira mão no Site em dezembro do ano passado, Oscar Capuchino será o head coach (líder da comissão técnica) do time verde-preto em 2024. Contudo, o trabalho “extracampo” do “Exército”, por muitos anos, esteve nas mãos do treinador multicampeão estadual Gustavo Petter, agora longe das sidelines (lateral do campo).

Em cinco dos oito títulos do Campeonato Gaúcho conquistados pela equipe do Coração do Rio Grande, o santa-mariense estava presente – seja vestindo chuteiras de trava ou à beira dos gramados com uma prancheta. Além disso, ele auxiliou os Soldados na campanha vitoriosa da Copa RS de 2016 e no acesso à primeira divisão nacional daquele período, na mesma temporada. Diante disso, conheça a história do ex-técnico de futebol americano com mais títulos no Estado e, agora, professor universitário.

De estudante a atleta

Petter conta que conheceu o Soldiers em 2012 através de um projeto de extensão do curso de Fisioterapia da UFSM formulado para atender os times da cidade. Na época, o head coach estava na reta final da graduação. A conexão entre a iniciativa e o “Exército” partiu do lado verde-preto, por meio do jogador Vinícius Zanon, que foi atrás dos responsáveis pelo programa para entender como funcionava.

O santa-mariense apenas realizava o serviço proposto pelo grupo universitário, mas logo iniciou a praticar com o elenco no campo à frente das piscinas do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), aos sábados. Embora soubesse da existência da modalidade dominante nos Estados Unidos através de filmes, não acompanhava – o interesse surgiu mesmo a partir da parceria com os Soldados, em 2013.

Por duas temporadas, Petter foi ‘wide receiver’ do Soldiers (Foto Massuelo Brazil/Divulgação)

“Quando eu comecei a jogar eu fazia a função de wide receiver o tempo inteiro mas, naquela época, a gente não fazia tanta distinção de posições com treinamentos e leituras específicas de jogo”, revelou o ex-comandante acerca das funções que executava dentro das quatro linhas. Como jogador, Petter atuou pelo “Exército” até 2014. Foi de 2015 a 2019, último ano do ex-técnico à frente da casamata verde-preta, que ele auxiliou os atletas de fora do campo.

Assumindo a bronca

Quando jogava, o esquadrão era comandado por Ademilson Lopes, coach renomado do cenário de futebol americano da Região Sul do Brasil. Com o afastamento do treinador, alguém precisaria assumir a função. Sobre o período, o santa-mariense relata: “a gente já sentia que estava fazendo muita falta alguém que liderasse e montasse uma comissão técnica de verdade”.

Então, com base no interesse de Petter em estudar e aprender mais sobre o esporte e da ausência do desejo de outros integrantes do clube em transicionar para o cargo, o fisioterapeuta acabou se tornando o novo técnico. “Nunca foi uma vontade ou uma pretensão, mas foi algo que, entre as opções da época, eu acho que eu era o menos pior. Mas foi uma loucura”, declarou.

Em 2015, o head coach teve seu primeiro teste como liderança do Soldiers: reestruturar o time que, após o afastamento de peças importantes do plantel no fim de 2014, passou a sofrer com o desinteresse dos jogadores. O santa-mariense destaca que a equipe não apresentava um nível bom de competitividade e nem organização, naquele momento.

A edição do Gauchão daquela temporada foi realizada de maneira diferente: não havia fase de grupos, apenas mata-mata. Dessa forma, o esquadrão que perdesse no primeiro confronto da competição estava eliminado e retornaria aos gramados apenas na segunda metade do ano. O Soldiers foi um dos “premiados”, visto que foi derrotado pelo Juventude FA, de Caxias do Sul, pelo placar de 19 a 0.

“Eu lembro que, logo depois da nossa eliminação, a gente fez uma reunião lá no campo mesmo, onde sentamos em círculo e, ao invés de irmos para o treino, tivemos uma discussão sobre quem queria realmente assumir o compromisso com o time e quem estava só a fim de treinar, sem muito compromisso competitivo. A partir daquele momento, a gente conseguiu começar a criar uma nova mentalidade, ou pelo menos uma sementinha disso.” relembrou Petter.

Para Petter, conquista do Gigante Bowl, foi um dos pontos altos de sua carreira (Foto Arquivo Pessoal)

Para ajudar a solucionar os problemas do clube, o comandante revela que o plantel recorreu a nomes como Douglas Rodrigues, Fernando Gross e o próprio Zanon, atletas que estiveram nas primeiras formações do Soldiers e, naquela época, atuavam pelo Istepôs FA, de Santa Catarina. Os resultados das reuniões em busca da evolução da equipe prontamente apareceram no semestre seguinte.

Esforço vale a pena

Na Liga Nacional de 2015 (antiga segunda divisão brasileira), ainda que não tenham conseguido ascender à elite, os representantes do Coração do Rio Grande chegaram ao último jogo com chances de avançar de fase. Em 2016, entretanto, o mundo dos Soldados virou de cabeça para baixo com a conquista do Gigante Bowl – como foi chamada a grande final do Estadual – e da vaga ao certame que se tornaria a Liga Brasileira de Futebol Americano.

Para Petter, o título do Gauchão de 2016 foi um dos pontos altos de sua carreira no futebol americano. No triunfo em cima do Juventude FA, que havia eliminado o Soldiers na edição anterior, estavam presentes cerca de 12 mil pessoas no anel inferior do Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. “É o maior evento que já aconteceu no Rio Grande do Sul. Foi um dia para se lembrar durante o resto da vida”, afirmou o ex-treinador.

O outro destaque dado pelo santa-mariense é a participação na 2ª Conferência Brasileira de Futebol Americano, em São Paulo. “Talvez seja difícil para algumas pessoas entenderem, mas querendo ou não tem uma relação entre o que eu estava fazendo no esporte e a minha vida profissional, como pesquisador. Foi importante pra mim porque justamente uniu esses dois mundos”, disse o ex-head coach.

Embora inativo no cenário atualmente, Gustavo Petter não fecha portas para o futebol americano (Foto Camila Thomaz/Divulgação)

De portas “entreabertas”

No fim de 2019, a relação entre Petter e o Santa Maria Soldiers precisou chegar ao fim por diferentes fatores. Na época, ele era professor substituto da UFSM, fechando o primeiro semestre do contrato, e desejava se dedicar mais ao cargo. Ao mesmo tempo, sua esposa estava morando em Belo Horizonte, Minas Gerais.

A chegada da pandemia, em 2020, o fez definir seu futuro, que seria em território mineiro. Hoje, contudo, o santa-mariense mora em Porto Alegre, onde faz seu doutorado e trabalha na Faculdade Sogipa. O ex-técnico conta que segue acompanhando o Soldiers através das redes sociais e de notícias na internet, além de trocar mensagens com os atuais atletas quando acontece algum jogo “de peso”, na temporada.

“Tenho muito carinho por todo mundo que passou, embora a gente não tenha um contato próximo. Sempre que encontro alguém eu paro para conversar. Sinto muita saudade do pessoal”, comentou. Por certo tempo, Petter ainda tentou ajudar o plantel à distância mas, naturalmente, a falta de atenção com as questões do time o acabaram afastando mais uma vez. “Mas nunca houve qualquer briga”, deixa claro o santa-mariense.

Apesar de ter um bom relacionamento com o Canoas Bulls e onde trabalha existir um projeto parecido com o que fazia parte em sua graduação na UFSM que trabalha com o Porto Alegre Pumpkins, a rotina profissional do ex-treinador o impediu de retornar ao cenário de futebol americano – mesmo com agremiações geograficamente próximas. Porém, embora a pouca disponibilidade e acreditar que não voltará a se envolver com a modalidade, Petter conclui: “não tem nenhuma porta fechada” – e isso também vale para o Soldiers.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo