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Reconstrução Pós-Enchente: Alvarez & Marsal e um “favor” que pode sair caro – por Arilson Wünsch

A indicação da Consultoria Alvarez & Marsal para atuar no período de reconstrução pós-enchente em Porto Alegre tem sido objeto de controvérsia e críticas. Em vez de confiar e valorizar os profissionais qualificados disponíveis localmente, provenientes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, que há tempos alertam sobre desafios e emergências climáticas, o Prefeito Sebastião Melo se apressou em terceirizar responsabilidades, levantando preocupações sobre transparência, prioridades e potenciais interesses ocultos.

Inicialmente apresentada como uma solução “gratuita” nos primeiros 60 dias, a intervenção da consultoria levanta suspeitas sobre a real gratuidade, uma vez que parece inviável implementar mudanças significativas no enfrentamento de uma catástrofe de tal monta em um período tão curto. É evidente que, em última instância, esses serviços não serão isentos de custos e recairão sobre o erário, ou seja, do bolso dos cidadãos.

Além disso, a história pregressa da Consultoria Alvarez & Marsal, especialmente sua participação decisiva na conturbada privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), suscita preocupações adicionais. O sigilo em torno desses processos, eivados de irregularidades, imposto pelo governo do Estado e a submissão do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, alimenta a desconfiança da população e destaca a falta de transparência em decisões que impactam diretamente a sociedade.

É essencial ressaltar que o “trabalho” da consultoria não se limita à reconstrução pós-enchente, mas parece estar direcionada a preparar o terreno para a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), que está realizando um trabalho de superação durante a tragédia, devido ao sucateamento imposto pelo executivo municipal. Isso levanta sérias questões sobre as prioridades do governo, que parece mais focado em agendas controversas do que na recuperação efetiva da cidade. Aproveitando-se do caos e da distração pública decorrentes da tragédia causada pela enchente, o prefeito Sebastião Melo parece estar avançando com uma agenda que pode ter consequências desastrosas para o futuro da comunidade.

Isso nos leva a questionar se os líderes estão verdadeiramente comprometidos com o bem-estar do município ou se estão perseguindo interesses obscuros. Semelhança que observamos no governo Leite e Bolsonaro que aproveitaram um momento de desespero da sociedade para “passar a boiada” em diversas questões especialmente na ambiental, e o resultado está aí para todos verem.

A intervenção da Consultoria Alvarez e Marsal suscita preocupações legítimas sobre transparência, responsabilidade e prioridades na reconstrução pós-enchente. A comunidade e os órgãos de fiscalização devem permanecer vigilantes e exigir prestação de contas dos líderes eleitos, garantindo que as decisões tomadas reflitam genuinamente o interesse público e que contribuam para um futuro em que a falta de gestão e investimentos públicos não contribuam para novas tragédias como a que a população gaúcha está submetida nesse momento.

*Arilson Wünsch é presidente do Sindiágua/RS e secretário do Meio Ambiente CUT/RS.

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8 Comentários

  1. O prefeito tá “pavimentando” o futuro dele, caso não seja reeleito, e espero que não seja, a lá Britto, Brincadeirinha, um “gestor” como ele, ninguém vai querer.

  2. ‘[…] se os líderes estão verdadeiramente comprometidos com o bem-estar do município ou se estão perseguindo interesses obscuros.’ Pois é, tem gente que ‘se criou’ processando a Corsan.

  3. ‘[…] o terreno para a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), […]’. Outro assunto de POA.

  4. ‘[…] valorizar os profissionais qualificados disponíveis localmente, provenientes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul […]’. Sim, a maioria, se não todos, com dedicação exclusiva. Logo, necessario fundação, convenio, burocracia.

  5. ‘[…] a intervenção da consultoria levanta suspeitas sobre a real gratuidade, […]’. Direito, a boa fé se presume e a má-fé necessita de provas. Não é questão de ser ingenuo, é questão de não ir atras de quaisquer insinuações. Alas, a referida empresa aparentemente atua na area de gestão, não de obras. Colocar coisas no papel não demora muito.

  6. ‘[…] tem sido objeto de controvérsia e críticas.’ Na minha bolha ninguém sabia, sem juizo de valor, que estava ocorrendo.

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