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Carta aos (as) colegas do Departamento de Engenharia Florestal da UFSM – por Leonardo da Rocha Botega

“Docência não é apenas um ato de amor! Mas sem amor, não existe docência!”

Caríssimos (as) Colegas,

Tudo bem? Espero que sim. Esta não é para ser uma carta triste, tampouco uma carta de saudade. Por mais que ainda estejamos com aquela “confusão de sentimentos”, com aquela “tristeza no olhar” e com a sensação de que estamos “lento”, como diz a letra da música que embalou a geração santa-mariense que eu e o professor Fabiano fizemos parte. Por mais que ela sempre esteja presente, não é a saudade o principal sentimento que permeia a escrita desta carta. Esta é uma carta de Amor!

Apesar do luto ser um estado que confunde a nossa existência, é possível fazer o amor transparecer em meio a dor da perda. Uma dor que se impõe ainda mais forte como a negação de qualquer sentido diante da perda brutal de dois professores com toda uma trajetória a ser trilhada. Dois jovens que tiveram sua trajetória interrompida fazendo aquilo que mais gostavam e que escolheram como complemento da vida: à docência. Docência não é apenas um ato de amor! Mas sem amor, não existe docência!

O amor esteve presente quando o professor Fabiano, então paraninfo de uma turma, falou aos (as) novos (as) engenheiros (as) florestais que em suas escolhas futuras deveriam buscar aquilo que os fizessem sorrir. Spinoza define o amor como “a alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior”. A “causa exterior” da docência são os (as) estudantes. Felipe e Fabiano, talvez inconscientemente, sabiam disso, por isso os protegeram.

A proteção é uma forma de amor! Aprendemos isso com nossas mães desde o primeiro dia de nossa existência. Quando a proteção se ausenta, sentimos medo. Não me recordo de ter conhecido o professor Felipe. Conheci, deste a pré-adolescência, o professor Fabiano. Deste os tempos de colégio. Desde o Olavo Bilac e o Maria Rocha. Da equipe de futsal do professor Saulo. Fabiano nunca transpareceu medo. Sempre foi o “jogador coragem”! A mesma coragem que o fez superar o drama de uma doença. Uma coragem que nunca foi bruta ou enraivecida.

A coragem de Fabiano era uma coragem de afeto. Alegre, amorosa! A mesma alegria da nossa pergunta clássica: “como viramos professor?” Os “alunos-problemas”, às vezes, surpreendem até eles mesmos! O “problema” do “aluno” Fabiano era a intensidade. Fazer algo sem paixão não pertencia a sua personalidade. Paixão pela brincadeira, pelo Grêmio (seu grande defeito), pela sua família (o olho brilhava quando falava das filhas), pelos (as) seus (suas) alunos (as).

Meus queridos e minhas queridas colegas, tenho certeza de que será esta paixão que irá reconstruir o cotidiano do Curso de Engenharia Florestal. Mesmo estando “longe” de vocês, lá no fundão da Universidade, no Colégio Politécnico, mesmo não conhecendo de perto ou conhecendo pouco a maioria de vocês, o pouco que conheço me dá a certeza disso. A paixão de um amor corajoso que supera a tristeza, transforma a saudade em lembrança e faz seguir em frente!

Adiante colegas!

Com afeto, desde o fundão da UFSM

Leonardo.

(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

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