Maria Clemência da Silveira Sampaio (1789-1862) – por Elen Biguelini
Poetisa gaúcha de São José do Norte, poliglota e (possivelmente) professora
Maria Clemência da Silveira Sampaio foi uma poetisa rio-grandense, nascida em 17 de dezembro de 1789, tendo sido batizada no dia 20 na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Estreito. Foi filha de Maurício Inácio da Silveira e Mariana Joaquina Sam Payo. Seu pai era cartógrafo.
Sacramento Blake afirma que a autora teria nascido na Bahia, assim como Lopes de Oliveira, mas esta autora é gaúcha nascida em uma localidade próxima à Rio Grande, na atual São José do Norte; seu pai, por sua vez, é de Rio Grande, e sua mãe é catarinense.
Não se casou e não teve filhos, mas foi madrinha ao menos duas vezes. Dos registros de batismo em que seu nome pode ser encontrado, também pode ser retirada a informação de que era dona de escravos, o que demonstra ser uma mulher detentora de certa liberdade econômica.
Falava diversas línguas e possivelmente tenha sido professora ou educadora, visto estar ser uma atividade possível para mulheres intelectuais neste período. Foi a única herdeira da família, após o falecimento de seu irmão Maurício. Faleceu em 2 de fevereiro de 1862 e foi patrona da cadeira 32 da Academia Rio-Grandina de Letras.
Foi mencionada por Saint-Hilaire em seus relatos sobre sua visita ao Rio Grande do Sul. O viajante percebeu a sua grande capacidade para o francês ao visitar a casa de seu tio, o pároco Francisco Inácio da Silveira. Seu tio foi padrinho, junto à sobrinha, de um jovem chamado João em 1831.
Ainda que esta autora seja pouco conhecida atualmente, foi a primeira gaúcha a publicar poesia, em seu “Versos Heróicos” declamados quando D. Pedro I se tornou Imperador. Teve outros versos publicados em periódicos gaúchos. Ainda que a maioria destes sejam textos aclamando a família real, também comemora o final da Revolução Farroupilha em “Elogio” de 1845.
Obra:
“Versos Heróicos” ou “Versos heroicos que pelo motivo da gloriosa acclamação do primeiro imperador constitucional do Brasil, compoz e recitou Maria Clemencia da Silveira Sampaio, no baile publico que o commercio do Rio Grande deo na noite do dia da mesma acclamação”. – Rio de Janeiro. Imprensa Nacional. 1823.
“Elogio”, recitado no Teatro 7 de setembro em 15 de outubro de 1845. No periódico “A voz da verdade” de 24 de outubro de 1845.
“Saudosa expressão da Patria”, no periódico “O Rio Grandense” em 17 de julho de 1847.
“Um sítio de Porto Alegre”, no periódico “O Guayba” em 19 de julho de 1857, pgs 228-229. Integralmente transcrito no texto de Maria Eunice Moreira.
Existem outras duas poesias que podem ser de sua autoria.
Fontes
Registro de nascimento de Maria Clemência: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952,” database with images, FamilySearch (https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:939N-F693-JD?cc=2177295&wc=M78X-SZQ%3A371564301%2C371567402%2C371564303: 24 February 2022), Estreito > Nossa Senhora da Conceição > Batismos 1783, Set-1805, Nov > image 57 of 92; Paróquias Católicas, Rio Grande do Sul (Catholic Church parishes, Rio Grande do Sul).
Batizado de um afilhado, João. “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”, , FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6NVC-4FRJ: Sun Mar 10 22:32:29 UTC 2024), Entry for and Antonia Maria Da Silva, 1831.
Batizado da filha de uma escrava de D. Maria Clemencia. “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”, , FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6NVC-JPB2: Fri Mar 08 10:29:39 UTC 2024), Entry for Izabel and Parra, 31 de julho de 1830.
Batizado de criança de quem seus escravos foram padrinhos: “Brasil, Rio Grande do Sul, Registros da Igreja Católica, 1738-1952”, , FamilySearch (https://www.familysearch.org/ark:/61903/1:1:6NVZ-PFYB: Sat Mar 09 14:50:27 UTC 2024), Entry for Rute and Lura L Quera, 15 de agosto de 1830.
Referências
“Maria Clemência da Silveira Sampaio”. Wikipedia. Acesso via: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Clem%C3%AAncia_da_Silveira_Sampaio
“Maria Clemência da Silveira Sampaio”. Livraria Digital de Autores Lusófonos. Acesso via: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=10204
“Maria Clemência da Silveira Sampaio”. Escritoras em Português. Acesso via: https://escritoras-em-portugues.com/pt_pt/xviii/maria-clemencia-da-silveira-sampaio/
Flores, Hilda Hübner. “A mulher no período Farroupilha: Ausente da historiografia oficial, a mulher teve de assumir vários papeis nesta longa guerra civil”. In. Correio Rio Grandense, 16 e setembro de 2009, pg 8.
Flores, Hilda Hübner. “Sociedade: Preconceitos e Conquistas”.
Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 145.
Moreira, Maria Eunice. “Os versos (quase) desconhecidos de Maria Clemência da Silveira Sampaio”. In. Letras de Hoje. Porto Alegre. v. 41, nº 4, 2006 p. 27-40. Acesso via: https://revistaseletronicas.pucrs.br/fale/article/view/652/475
Muzart, Zahidé Lupinacci. “Mulheres de faca na bota: escritoras e política no século XIX”. In: Anuário de Literatura, 1996, p. 149-162. Acesso via: https://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/5284
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
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