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REGIÃO. Sítio arqueológico revelado pela enchente é objeto de estudos de alunos e professores da UFSM

Chuvas de abril e maio ‘descobriram’ nova camada de solo em Dona Francisca

Equipe responsável organiza peças encontradas no sítio arqueológico descoberto em Dona Francisca (Fotos Laurent Keller/ UFSM)

Por Pedro Pereira / Da Agência de Notícias da UFSM

Entre os efeitos da catástrofe climática que castigou o Rio Grande do Sul em abril e maio deste ano, uma surpresa: a aparição de um sítio arqueológico localizado no município de Dona Francisca. Em função da grande quantidade de água, as enchentes acabaram limpando uma camada de solo na região e, dessa forma, revelando cerâmicas, pedras lascadas – utilizadas no passado como ferramentas por caçadores, coletores e pescadores – e uma ocupação que pode datar até 10 mil anos atrás, habitada por indígenas guaranis, que estavam enterradas.

No fim de maio, o proprietário de uma lavoura de arroz próxima ao Rio Jacuí e os agricultores que trabalham no espaço se espantaram pois, na superfície, havia uma grande quantidade de fragmentos desconhecidos – posteriormente identificados pelo arqueólogo e professor da UFSM, João Heitor Macedo, como cultura material. A fim de entender mais sobre a descoberta, as pessoas foram atrás da Secretaria de Cultura da cidade que, na sequência, recorreu à Universidade.

Desde então, um grupo de acadêmicos liderados por Macedo e pela professora Maria Medianeira Padoin, docente do Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultural, vem limpando os itens e estudando suas características, antes que uma nova leva de água “esconda” o sítio novamente. “Nós pretendemos mapear bem a área, porque ainda estamos levantando a dimensão do sítio. Depois disso, a gente vai classificar as peças e vai trabalhar elas como educação patrimonial”, destacou o arqueólogo que, junto de sua equipe, integra o programa de extensão UFSM Solidária e Cidadã, implementado em resposta às fortes chuvas.

Aprendizado

Matheus Xavier, aluno do curso de História – Bacharelado, é um dos estudantes envolvidos nas ações de acondicionamento dos fragmentos desde sua descoberta. Ele entende o peso de fazer parte da atividade, uma vez que define que o sítio arqueológico e a cultura material são bens da humanidade, que contam sobre cultura, crenças, modo de vida e sobre a relação com a natureza dos povos originários que lá passaram. 

“Tem sido uma experiência incrível para mim ir até o sítio arqueológico, resgatar esse material e fazer a limpeza das peças de cerâmica e pedra lascada. Cada dia posso aprender um pouco mais sobre o jeito das peças, a arte empregada, a confecção, a utilidade… Tudo isso, sem dúvidas, é muito rico para mim. Esta é uma experiência ímpar. No futuro, irei contar para meus alunos o quanto isso impacta a minha formação”, contou Xavier.

O estudante também garante que as relações que têm criado com a comunidade também fazem a diferença: “termos atividades fora do arco é muito importante”. Além do futuro historiador, entre os integrantes do grupo está Ariane Vargas, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Patrimônio Cultural (PPGPC), que tem uma ligação particular com o município onde foi encontrado o sítio arqueológico – ela é natural de Dona Francisca.

O projeto de pesquisa da franciscana propõe o estudo e o registro da história de sua cidade natal sob a perspectiva do Rio Jacuí, identificando elementos do patrimônio natural e cultural do Geossítio de Dona Francisca, que faz parte do Geoparque Quarta Colônia. A aluna do PPGPC declara que, entre os problemas ocasionados pelas fortes chuvas entre abril e maio, o aprendizado é necessário. 

“A catástrofe climática nos instiga a repensar a forma como interagimos com o meio ambiente e a necessidade de preservação dos recursos, como o patrimônio natural do Rio Jacuí. Por outro lado, acarretou o surgimento dos vestígios arqueológicos expostos pelas enchentes, que são patrimônio cultural local, regional e brasileiro”, assegurou Ariane, que relaciona: “estes fatos contribuirão para que a história dos povos originários possa ser mais conhecida e divulgada”.

Para o futuro

A quantidade de material é tanta, que, entre os milhares de fragmentos armazenados na Secretaria de Cultura de Dona Francisca – que tem a guarda dos itens – dois foram encontrados durante a produção desta reportagem. Macedo explica que, desde a década de 1960, existem registros de sítios arqueológicos em Dona Francisca.

Algumas das referências que a sociedade tem sobre a história dos indígenas guaranis no Rio Grande do Sul, inclusive, tem origem nas pesquisas realizadas em solo franciscano. No local em que a água revelou os fragmentos, em compensação, esta é a primeira vez. A partir desta descoberta inédita, o professor explica que, após o mapeamento da área e a classificação das cerâmicas e das pedras, a ideia é promover a expansão dos conhecimentos.

“Vamos preparar palestras, cursos, formações para as escolas e, depois, a gente vai entrar num estudo científico das peças para definir datações e estudos posteriores que podem nos levar a uma compreensão da comunidade, das relações econômicas, sociais e organizações”, afirmou o arqueólogo. Neste momento, a equipe seguirá em busca dos fragmentos no local, mas a ideia é que sejam realizadas exposições, tanto com os itens à mostra quanto com imagens, em Dona Francisca e na UFSM, com previsão de início para outubro deste ano.

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2 Comentários

  1. …passando da hora!!
    Curso de graduação e pós-graduação na área na UFSM!!!
    Região Central do RS é um “achado” a cada passo, em cada município!!

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