Siameses políticos – Parte 1 – por José Renato Ferraz da Silveira
40 anos de vivência democrática na América Latina e retrocessos que voltam
![](https://img.claudemirpereira.com.br/2024/08/jose-renato.jpg)
“Extremismos de direita e de esquerda são, no fundo, aliados no mesmo ódio mortal à liberdade e à civilização”. Gustavo Bezerra
40 anos de vivência democrática
Em um momento de celebração que marca os 40 anos de vivência democrática em parcela considerável dos países latino-americanos, os retrocessos democráticos retornam – com certo grau, dimensão e alcance – como ilustrado na expressão francesa “le retour du la tragique” (o retorno da tragédia).
Tais termos impactantes perfazem o título do livro do ilustre autor francês Jean-Marie Domenach.
Domenach e a propaganda política
Domenach dizia que “um dos fenômenos dominantes da primeira metade do século XX é a propaganda política. Sem ela, os grandes acontecimentos da nossa época: a revolução comunista e o fascismo, não seriam sequer concebíveis. Foi em grande parte devido a ela que Lenin logrou instaurar o bolchevismo; Hitler deve-lhe essencialmente suas vitórias, desde a tomada do poder até a invasão de 1940. Mais que estadistas e líderes guerreiros, esses dois homens, que de maneira, sem dúvida, bem diferente vincaram profundamente a história contemporânea, são dois gênios da propaganda e ambos proclamaram a supremacia dessa moderna arma: “O principal – asseverou Lenin – é a agitação e a propaganda em todas as camadas do povo”; Hitler disse: “A propaganda permitiu-nos conservar o poder, a propaganda nos possibilitará a conquista do mundo”.
Não há dúvida de que a propaganda política é um instrumento de poder, de convencimento, de persuasão, de contestação.
No contexto citado, tanto as democracias liberais e os governos totalitários se utilizaram dessa ferramenta útil de comunicação social. Não podemos esquecer que a Segunda Guerra Mundial – além de tudo – foi uma guerra de informação/desinformação, uma guerra de versões e narrativas.
O fim da 2° Guerra Mundial, a Guerra Fria e os regimes autoritários na América Latina
Com a derrota do Eixo e a inevitável decadência das potências europeias que dominaram o mundo por 4 séculos, os Estados Unidos e a União Soviética assumem o protagonismo bipolar nas Relações Internacionais.
A Guerra Fria – novo período histórico na ordem e disputa do poder entre as potências dominantes – ganha contornos dramáticos que Raymond Aron sintetiza em duas frases “enigmáticas” e verdadeiras: “Inimigos, porém irmãos”; “Paz improvável, guerra impossível”.
A disputa política, militar, econômica, cultural, de projeto civilizacional, científico, tecnológico-espacial entre as duas superpotências por domínios e zonas de influência – entre outros aspectos importantes – conduz a América Latina a regimes autoritários militares e cívico-militares.
A ameaça real ou potencial do comunismo foi maior depois da ascensão de Fidel Castro em Cuba. A partir daí opera uma lógica de “como fazer acontecer”: Governos são derrubados. Há inúmeras perseguições políticas aos opositores e supostos opositores. Denúncias de vizinhos, colegas e “amigos”. Desconfiança e tensões. Mortes. Torturas. Massacres em massa. Há cerceamento de liberdades e direitos civis. Não há eleições livres e não há liberdade de imprensa.
Censura é a palavra de ordem nas artes, na música e na cultura (em geral). CALE-SE!
As instituições funcionam conforme as regras/leis/adequações desses governos autoritários.
Por fim, a ideia era O BRASIL É O PAÍS DO FUTURO!
Teremos a segunda, terceira e quarta partes. Acompanhem!
Observação: O presente texto é elaboração conjunta com o professor doutor Junior Ivan Bourscheid, vice-líder do GTAP e especialista sênior sobre a América Latina.
Estendo meus cumprimentos – no presente texto – aos membros do GTAP: Gabriela, Pietra, Breno e João que sempre me despertam do sono dogmático.
(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP.
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