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Siameses políticos – Parte 1 – por José Renato Ferraz da Silveira

40 anos de vivência democrática na América Latina e retrocessos que voltam

“Extremismos de direita e de esquerda são, no fundo, aliados no mesmo ódio mortal à liberdade e à civilização”. Gustavo Bezerra

40 anos de vivência democrática

Em um momento de celebração que marca os 40 anos de vivência democrática em parcela considerável dos países latino-americanos, os retrocessos democráticos retornam – com certo grau, dimensão e alcance – como ilustrado na expressão francesa “le retour du la tragique” (o retorno da tragédia). 

Tais termos impactantes perfazem o título do livro do ilustre autor francês Jean-Marie Domenach.

Domenach e a propaganda política

Domenach dizia que “um dos fenômenos dominantes da primeira metade do século XX é a propaganda política. Sem ela, os grandes acontecimentos da nossa época: a revolução comunista e o fascismo, não seriam sequer concebíveis. Foi em grande parte devido a ela que Lenin logrou instaurar o bolchevismo; Hitler deve-lhe essencialmente suas vitórias, desde a tomada do poder até a invasão de 1940. Mais que estadistas e líderes guerreiros, esses dois homens, que de maneira, sem dúvida, bem diferente vincaram profundamente a história contemporânea, são dois gênios da propaganda e ambos proclamaram a supremacia dessa moderna arma: “O principal – asseverou Lenin – é a agitação e a propaganda em todas as camadas do povo”; Hitler disse: “A propaganda permitiu-nos conservar o poder, a propaganda nos possibilitará a conquista do mundo”.

Não há dúvida de que a propaganda política é um instrumento de poder, de convencimento, de persuasão, de contestação.

No contexto citado, tanto as democracias liberais e os governos totalitários se utilizaram dessa ferramenta útil de comunicação social. Não podemos esquecer que a Segunda Guerra Mundial – além de tudo – foi uma guerra de informação/desinformação, uma guerra de versões e narrativas.

O fim da 2° Guerra Mundial, a Guerra Fria e os regimes autoritários na América Latina

Com a derrota do Eixo e a inevitável decadência das potências europeias que dominaram o mundo por 4 séculos, os Estados Unidos e a União Soviética assumem o protagonismo bipolar nas Relações Internacionais.

A Guerra Fria – novo período histórico na ordem e disputa do poder entre as potências dominantes – ganha contornos dramáticos que Raymond Aron sintetiza em duas frases “enigmáticas” e verdadeiras: “Inimigos, porém irmãos”; “Paz improvável, guerra impossível”.

A disputa política, militar, econômica, cultural, de projeto civilizacional, científico, tecnológico-espacial entre as duas superpotências por domínios e zonas de influência – entre outros aspectos importantes – conduz a América Latina a regimes autoritários militares e cívico-militares.

A ameaça real ou potencial do comunismo foi maior depois da ascensão de Fidel Castro em Cuba. A partir daí opera uma lógica de “como fazer acontecer”: Governos são derrubados. Há inúmeras perseguições políticas aos opositores e supostos opositores. Denúncias de vizinhos, colegas e “amigos”. Desconfiança e tensões. Mortes. Torturas. Massacres em massa.  Há cerceamento de liberdades e direitos civis. Não há eleições livres e não há liberdade de imprensa.

Censura é a palavra de ordem nas artes, na música e na cultura (em geral). CALE-SE!

As instituições funcionam conforme as regras/leis/adequações desses governos autoritários.

Por fim, a ideia era O BRASIL É O PAÍS DO FUTURO!

Teremos a segunda, terceira e quarta partes. Acompanhem!

Observação: O presente texto é elaboração conjunta com o professor doutor Junior Ivan Bourscheid, vice-líder do GTAP e especialista sênior sobre a América Latina.

Estendo meus cumprimentos – no presente texto – aos membros do GTAP: Gabriela, Pietra, Breno e João que sempre me despertam do sono dogmático.

(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP.

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13 Comentários

  1. Decadas atrás numa certa Universidade Federal por aí um professor muito ‘querido’ retornou do doutoramento no exterior. Reza a lenda que o corpo discente fez uma vaquinha e pendurou faixa com uma frase de Bernard Shaw: ‘O especialista é alguém que sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e por fim acaba sabendo tudo sobre nada’.

  2. ‘Por fim, a ideia era O BRASIL É O PAÍS DO FUTURO!’ Livro do Stefan Zweig publicado em 1941. Levou ‘pau’ da critica porque era pleno Estado Novo. Traduzido e publicado em varias linguas.

  3. ‘A ameaça real ou potencial do comunismo foi maior depois da ascensão de Fidel Castro em Cuba.’ Ainda há duvida? Ainda vão tentar este ‘migué’? O que Che Guevara estava fazendo quando morreu na Bolivia em 1967? Depois de ser corrido da Africa? E a Republica Dominicana em 1965? Granada 1983? Guerrilha do Araguaia 1967-1975?

  4. ‘[…] conduz a América Latina a regimes autoritários militares e cívico-militares.’ América Latina é o que os latino-americanos fizeram dela. Vide Venezuela. Elegeram Chaves. Com as balelas de sempre: Bolivarianismo, Socialismo do Século XXI, ‘seus problemas acabaram’, ‘avanço do capitalismo financeiro sobre os direitos sociais e econômicos’. Pais esta quebrado, eivado de corrupção, milhões viraram refugiados. Paguem a conta.

  5. ‘Não há dúvida de que a propaganda política é um instrumento de poder, de convencimento, de persuasão, de contestação.’ Em tempos modernos está incluida na ‘Guerra Hibrida’. Bom lembrar já que estamos numa especie de Guerra Fria 2.0.

  6. ‘[…] são dois gênios da propaganda […]’. Obvio que não. Trata-se do erro de concentrar num unico personagem a causa de tudo que acontece. Por falta de informações simplifica-se. Nesta hora o mais desavisado mencionará Goebbels. Que também não fez tudo sozinho. O famigerado ‘Triunfo da Vontade’, por exemplo, foi dirigido por uma mulher, Leni Riefenstahl.

  7. ‘O principal – asseverou Lenin – é a agitação e a propaganda em todas as camadas do povo’. ‘A propaganda permitiu-nos conservar o poder, a propaganda nos possibilitará a conquista do mundo.’ São frases soltas, meras declarações. O que derrubou a França não foi a propaganda, foram as mais de 100 divisões alemãs. Simples assim.

  8. Propaganda não funciona no vazio. Na Guerra do Vietnã, Segunda da Indochina, os dois lados utilizaram a ferramenta. Não alterou o resultados.

  9. ‘Foi em grande parte devido a ela que Lenin logrou instaurar o bolchevismo; […]’. Se fosse assim a Revolução de 1905 teria dado certo. Governo alemão tirou Ulyanov do exilio e mandou para a Russia com uma consideravel quantia de dinheiro. O termo é ‘Revolutionierungspolitik’. Derrubado o governo aconteceu um golpe dentro do golpe. Explicação é simples, burocratas tendem a exaltar a burocracia.

  10. Jean-Marie Domenach. Esquerda católica. Morreu em 97, era outro planeta. Citação se explica pelo ranço academico. Citações, parafrases e muito pouca coisa nova. Fenomenos novos ‘adaptados’ para teorias antigas, no brinquedo de pinos tentam encaixar o quadrado no cilindro.

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