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Caso do ex-ministro é de polícia. Não tem nada a ver com a luta pelos direitos humanos – por Carlos Wagner

‘Mexicanização’ da política no país, direitos humanos e caso de Silvio Almeida

Não é de hoje. Os direitos humanos e da cidadania no Brasil têm sido os alvos prediletos de ataques da extrema direita desde os tempos da redemocratização do país, em 1985, quando a ditadura militar que tomou o poder no golpe de estado em 1964 foi substituída pelos civis. Houve eleições diretas em todos os níveis e a publicação da nova Constituição, em 1988, que assegurou direitos fundamentais como a liberdade de imprensa.

Daí a importância da imprensa deixar bem claro que a demissão, na sexta-feira (6/9), por assédio sexual, do então titular do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, 48 anos, não tem nada a ver com a continuidade ou não dos compromissos políticos assumidos com a área, durante a campanha de 2022, pelo presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 78 anos. Outro ministro já foi indicado e segue o baile.

De maneira resumida, os compromissos assumidos por Lula estão garantidos na Constituição e a missão do ministério é facilitar para que sejam cumpridos. Não é uma missão fácil. Em outros tempos, nós jornalistas não precisávamos nos preocupar em dar tudo “mastigado” para o leitor porque não existiam as redes sociais por onde circulam toneladas de notícias distorcidas pelas fábricas de fake news, que têm como objetivo divulgar uma versão dos fatos diferente da realidade.

Vamos contextualizar a história. Na tarde de quinta-feira (5/9), o portal de notícias Metrópoles tornou pública a denúncia da prática de assédio sexual pelo então ministro Almeida. A notícia foi confirmada pela organização Me Too Brasil, sem, no entanto, mencionar nomes. A entidade explicou que atendeu mulheres que afirmaram terem sido assediadas sexualmente pelo ex-ministro.

O portal mencionou que entre as assediadas estaria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, 40 anos, irmã da ex-vereadora do PSOL do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2018 com o seu motorista Anderson Gomes. No dia seguinte, a professora Isabel Rodrigues, coordenadora pedagógica de escola pública e candidata a vereadora em Santo André (SP), veio a público denunciar que, em 2019, foi vítima de assédio sexual por parte do ex-ministro durante um almoço.

O caso, que já ocupava as manchetes principais dos noticiários, com a informação da ministra ser uma das vítimas subiu um andar acima e virou assunto em noticiários internacionais. O ex-ministro se pronunciou alegando inocência. Informações que circulam pelos cantos escuros desse episódio. Ao contrário dos outros ministros que foram indicados ao presidente eleito por seus partidos ou entidades que representam, Almeida conseguiu o cargo porque Lula gostou do seu trabalho acadêmico sobre questões envolvendo o preconceito estrutural – matérias na internet.

Conversas sobre o comportamento estranho de Almeida em relação às mulheres já circulavam há muito tempo pelos corredores de Brasília. Tudo que exista de verdade e mentira sobre o caso será esclarecido pela Polícia Federal (PF). Enquanto isto não acontece, no Congresso vários parlamentares de oposição colocaram a boca no trombone contra Lula. Faz parte do jogo político.

O que não faz parte do jogo político são os militantes da extrema direita aproveitarem a situação e ressuscitarem o jargão de que “defensor dos direitos humanos é defensor de bandido”. Pensei que essa história nem existia mais. Estava enganado. Ela apenas aguardava a vez de ser ressuscitada em uma ocasião apropriada. A ocasião surgiu com o caso do ex-ministro. E foi ressuscitada em um momento da história do Brasil muito especial e complicado.

Hoje, várias entidades e institutos de pesquisa apontam a real possibilidade da “mexicanização” da política brasileira. No México, os cartéis de varejo de drogas que abastecem os mercados consumidores milionários dos Estados Unidos e da Europa assumiram tal importância econômica e tamanho poder de fogo que se infiltraram profundamente no dia a dia dos mexicanos.

Para evitar que coisa semelhante aconteça no Brasil, há algumas décadas defensores dos direitos humanos pedem a implementação de uma política carcerária séria, justa e eficiente. Aconteceu exatamente ao contrário. A maioria dos 850 mil prisioneiros, o terceiro efetivo do mundo, vive em condições insalubres. Sei disso porque conheço a maioria dos presídios.

Foi graças ao caos nas penitenciárias que nasceram as duas maiores organizações criminosas do país: o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. Elas têm ligações diretas com os cartéis produtores de cocaína da Colômbia, da Bolívia e do Peru. Estabeleceram-se na fronteira do Paraguai com o Brasil e transformaram a região em uma espécie de entreposto da droga, de onde abastecem as cidades brasileiras, parte do mercado dos Estados Unidos e vários países europeus.

Enquanto isso, o sistema carcerário continua sendo o grande fornecedor de mão de obra para o PCC, o CV e outras inúmeras organizações criminosas regionais que brotam em todos os cantos do país. Como essa história vai acabar? O que se sabe de concreto é que a mexicanização do Brasil está acontecendo a galope. Alguém tem dúvida?

Citei o caso da massa carcerária por ser o pivô de uma mudança no crime no país. Mas existem muitos outros setores do dia a dia dos brasileiros em que os defensores dos direitos humanos trabalham pelo bem-estar da sociedade. Por conta de ter me especializado em conflitos agrários, povoamento de fronteiras agrícolas e crime organizado nas fronteiras, conheço muita gente que trabalha com direitos humanos. São, na maioria, velhos. Como eu, aliás, um velho repórter estradeiro, 73 anos de idade.

Defender os direitos humanos no Brasil nunca foi uma tarefa fácil. Lembro que em 2018 foi eleito presidente da República Jair Bolsonaro, 69 anos (PL), um homem que se orgulha de ser defensor do coronel Carlos Alberto Ustra, morto em 2015, ex-chefe dos centros de torturas dos militares que deram o golpe em 1964. Já ajudamos se não colocarmos, nas nossas matérias, no mesmo balaio o ex-ministro e os lutadores pelos direitos humanos.

Entre os orçamentos dos ministérios, o do Direitos Humanos e Cidadania é o menor. Lula escolheu como novo titular da pasta a deputada estadual de Minas Gerais Macaé Evaristo (PT), 59 anos. Ela aceitou e a posse deve acontecer na próxima semana. O presidente da República poderia começar essa nova fase reforçando o caixa do ministério.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 73 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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15 Comentários

  1. Resumo da opera. Cortina de fumaça. ‘Conversas sobre o comportamento estranho de Almeida em relação às mulheres já circulavam há muito tempo pelos corredores de Brasília.’ Não acharam um Harvey Weinstein em BSB agora por acaso. Governo atrasou a bandeira vermelha na energia para segurar inflação e tentar abaixar a taxa de juros. A bandeira vermelha pulou um degrau e voltou atras. Como a energia deve subir, para não dizer que não fizeram nada, falam em recriar o horario de verão. Mais ou menos como as ‘queimadas’ criaram uma ‘autoridade aspone das mudanças climáticas’. Como se um bando de politicos e servidores publicos numa sala com ar condicionado em BSB fosse resolver alguma coisa além de dar entrevistas, mentir e fazer coletivas de imprensa marketeiras.

  2. ‘Mas existem muitos outros setores do dia a dia dos brasileiros em que os defensores dos direitos humanos trabalham pelo bem-estar da sociedade.’ Padrão da argumentação vermelha, afirmações genéricas. Quais outros setores? Como é definido o ‘bem-estar’? Com invasões de terras? ‘Pacificas’?

  3. ‘[…] o sistema carcerário continua sendo o grande fornecedor de mão de obra para o PCC, o CV e outras inúmeras organizações criminosas regionais […]’. Outro chute. Não há numeros oficiais a respeito, nem do tipo fantasioso. Muita gente entra no crime adolescente. Alas, os mesmos de sempre usam sempre o argumento dos ‘maus exemplos das periferias’.

  4. ‘[…] há algumas décadas defensores dos direitos humanos pedem a implementação de uma política carcerária séria, justa e eficiente.’ PT esteve no poder durante 14 anos e agora já está quase ha mais dois. Questão estadual e não federal? Esta no poder por bastante tempo na Bahia onde as facções estão tomando conta.

  5. ‘[…] a real possibilidade da “mexicanização” da política brasileira.’ Já aconteceu no RJ e está se espalhando.

  6. ‘[…] ressuscitarem o jargão de que “defensor dos direitos humanos é defensor de bandido”.’ Por conta dos direitos humanos’ e as condições carcerarias deixam solto que preso deveria estar. Na rua os meliantes continuam violando os ‘direitos humanos’ de quem só quer tocar a vida de maneira honesta. Imigrantes ilegais mundo afora tem as mesmas praticas. Ou seja ‘vamos implementar nossa “ideologia” a moda miguleão duela a quem duela’.

  7. ‘[…] Almeida conseguiu o cargo porque Lula gostou do seu trabalho acadêmico sobre questões envolvendo o preconceito estrutural […]’. Mestrado do sujeito é sobre Lukaks e ‘consciencia de classe’, doutorado é sobre Sarte. e ‘revolução’. Até parece que um analfabeto funcional tem capacidade de avaliar trabalhos academicos. Ministro da Energia dizendo que ‘Rato Rouco é um dos maiores conhecedores do sistema eletrica brasileiro’. Só dando risada!

  8. ‘[…] Anielle Franco, 40 anos, irmã da ex-vereadora do PSOL do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2018 com o seu motorista Anderson Gomes.’ Ter parente assassinado é curriculo?

  9. ‘[…] tornou pública a denúncia da prática de assédio sexual […]’. A pratica tem que ser punida. Porém apuração deve ser feita. Vide caso Marcius Melhem.

  10. ‘De maneira resumida, os compromissos assumidos por Lula estão garantidos na Constituição e a missão do ministério é facilitar para que sejam cumpridos.’ Obvio que não todos. Exemplo? Abril de 2023. Rato Rouco se comprometeu a reflorestar 12 milhões de hectares da Amazonia. Fórum das Grandes Economias sobre Energia e Clima. Está na CF88? Não. Governo brasileiro mandou uma carta para a União Européia dia 11 deste mes. Pedindo para postergar a lei aprovada por lá contra o desflorestamento. Bane importação de paises que colocam mato no chão. Entra em vigor no final do ano. Ou seja, pediram penico. https://www.reuters.com/world/americas/brazil-asks-eu-hold-off-implementing-deforestation-law-2024-09-11/

  11. Kuakuakuakua! ‘Outro ministro já foi indicado e segue o baile.’ “O assunto não nos é propicio, vamos mudar de assunto!’. Kuakuakuakuakua!

  12. ‘[…] não tem nada a ver com a continuidade ou não dos compromissos políticos assumidos com a área,[…]’. Tem a ver com a hipocrisia (por falta de melhor termo, senão vão querer discutir semantica) tradicional e reconhecida da esquerda. Que é dos atores/atrizes de Holywood agora que o Cerrado e a Amazonia pegam fogo? Alas, tudo são ‘queimadas’ a conta toda é de terceiros, no caso o agronegocio.

  13. ‘[…] os alvos prediletos de ataques […]’. Para os vermelhos toda critica é ‘ataque’. Enredo é conhecido, um bando de imbecis que passa esfregando a barriga na mesa numa sala com ar condicionado resolve implementar seus ‘ideais’. Alertados sobre os possiveis problemas ou consequencias nefastas não tomam conhecimento. Uma vez feita a c@g@d@ a resposta é a mesma: a culpa é do sistema financeiro internacional, da ganancia dos rentistas, de qualquer terceiro conveniente. Ou é ‘fake news’, ‘noticia falsa’.

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