Se a imprensa não ficar atenta, mais tragédias anunciadas acontecerão em SP – por Carlos Wagner
Problema da cobertura da imprensa inicia agora, quando acaba a emergência
Foi uma tragédia anunciada o apagão causado pela tempestade que atingiu na sexta-feira (11/10) a Região Metropolitana de São Paulo. O vendaval e a chuvarada mataram sete pessoas, deixaram sem energia elétrica 2,1 milhões de residências e espalharam pânico e destruição por todos os cantos, em especial na cidade de São Paulo.
Não vou olhar essa bronca pelo lado das empresas estatais ou privadas. Não é a hora. Vou focar na cobertura da grande imprensa na questão do fornecimento de energia elétrica. Em 2023, houve um apagão na capital paulista entre os dias 3 e 9 de novembro. Ou seja, levou seis dias para ser resolvido. Desta vez, o rolo foi maior. Mais de uma semana depois das chuvas e dos ventos ainda havia consertos a serem feitos.
Não digo que li, vi e ouvi tudo que se publicou sobre os estragos da tempestade nos jornais, rádios, TVs, sites e redes sociais. Mas o suficiente para ter uma boa ideia de como a imprensa cobriu o apagão. A cobertura diária está sendo feita com eficiência e lançando luzes nos cantos escuros do emaranhado de interesses eleitorais e econômicos que envolve os governos federal, municipal e estadual, a fornecedora e distribuidora de energia elétrica, a multinacional italiana Enel (Ente Nazionale per l’Energia Elettrica) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Vamos a nossa conversa.
O problema da cobertura da grande imprensa começa agora, quando termina a emergência. E as matérias migram das manchetes para o pé das páginas. O problema não é de hoje. Vem de longe. Trabalhei em redação de 1979 a 2014 e me especializei em jornalismo investigativo sobre conflitos agrários, crime organizado nas fronteiras e migrações.
Por conta disso, passei a maior parte do tempo viajando pelos rincões do Brasil e países vizinhos. Mas quando estava na redação e acontecia um evento extraordinário, eu era chamado para participar das famosas “forças-tarefas”, também conhecidas como “pescoção”, e operava fazendo a cobertura diária.
Lembro-me que assim que a poeira baixava o assunto era abandonado à própria sorte. E não adiantava sugerir, nas reuniões de pauta, que se voltasse a ele, porque os editores faziam “ouvidos de mercador”, ou seja, só prestavam atenção no que lhes interessava.
Entre setembro de 2023 e maio deste ano, o Rio Grande do Sul foi atingido por três enchentes devastadoras que deixaram um rastro enorme de destruição, mais de 200 mortes, muitos desaparecidos e inundações por todos os lados. Inclusive na capital, Porto Alegre, onde, na enchente de maio, as águas do Guaíba atingiram níveis históricos, alagando o Centro e vários bairros, deixando fora de operação a Estação Rodoviária (intermunicipal) e o Aeroporto Internacional Salgado Filho.
A rodoviária voltou a operar com restrições alguns dias depois que as águas baixaram, mas o Salgado Filho só deverá ser parcialmente reaberto nesta semana (terça-feira, dia 21), depois de permanecer cinco meses fechado.
Tenho questionado a grande imprensa local sobre a qualidade dos consertos feitos, em especial nas casas de bombas encarregadas de evitar os alagamentos em Porto Alegre. E na rede elétrica da Equatorial Energia – CEEE. Entre os posts que tenho publicado se encontra Conserto no sistema contra as cheias da capital resiste às “enchentes de São Miguel?” .Uma pergunta sobre o Salgado Filho: qual a garantia de que na próxima cheia ele não ficará debaixo da água novamente?
No ano passado, quando aconteceu o apagão na cidade de São Paulo, um colega inglês, que conheci nas coberturas de conflitos agrários, me perguntou o que exatamente estava acontecendo. Resumi toda a situação em poucas palavras: falta de manutenção. Se não acontecer nenhuma outra tempestade nos próximos dias, os consertos dos estragos na rede distribuição de energia elétrica deverão estar concluídos até o final do mês.
Faço a seguinte pergunta. Qual é a qualidade dos reparos feitos pela Enel na rede elétrica? Serão suficientes para resistir ao próximo temporal? Com o “novo normal do clima” é certo que as tempestades violentas se repetirão. Daí a importância do assunto continuar ocupando os lugares nobres dos noticiários.
São escassos os repórteres da minha geração que continuam nas redações. E também são raros os que se tornaram diretores ou editores. Cabe à nova geração de jornalistas pressionar as direções das redações para manter na pauta assuntos relevantes, como é o caso da rede elétrica de São Paulo.
Um capítulo à parte no caso de São Paulo é o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa Neto, que assumiu o cargo em 2022 e cujo mandato vai até 2027. Não sei como funcionam nos outros países as agências reguladoras, se é que existem. Aqui no Brasil são 11 agências federais e o funcionamento delas merece a atenção da imprensa.
A Aneel é apenas a ponta de iceberg. Essas agências entraram no radar da imprensa durante o governo do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 69 anos. Na pandemia da Covid, ele fez do seu negacionismo em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus uma política de governo.
Surgiram muitas propostas para mudar a estrutura das agências. Não é um assunto fácil de mexer e não haverá mudanças do dia para a noite. Até lá, muitas calamidades vão acontecer. Por isso, é necessário que os jornalistas fiquem atentos ao que vai rolar.
A propósito das mudanças nas agências, ouvi alguns colegas comentarem que elas devem ser dirigidas por técnicos, e não por políticos. Conversa fiada. O problema não é quem dirige as agências. Mas que as vigia, para que façam a coisa certa. Mais uma vez. Daí a importância da imprensa ficar atenta.
Para arrematar a nossa conversa. Desde os tempos que os jornalistas molhavam a ponta de uma pena num tinteiro para escrever as suas matérias até os dias atuais, em que vivemos cercados por uma enorme parafernália tecnológica, as coisas só funcionam se a imprensa pressionar.
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(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.
SOBRE O AUTOR: Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 73 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.
Resumo da opera II. Rede BullShit. Programa das Tres Patetas. Uma ‘iluminada’ criticando a limitação de licenças para instalação de paineis solares. Quem limitou ‘é do mal’. Problema é que o excesso pode levar a sobrecarga na rede, variação na tensão, instabilidades, etc. Antes de dar opinião seria bom falar com alguém com conhecimento tecnico. Porque depois surgem problemas, os aparelhos eletronicos dos usuarios começam a queimar e dai a culpa é da concessionaria (nenhuma é ‘santa’, mas há que se ver o problema em questão e não ficar demonizando; algo que nada resolve e ainda cria novos problemas). Na imprensa ‘ninguém foi’, o costume.
Resumo da opera. Quem resolve o problema de fornecimento de energia em SP, o caso em questão, não é um bando de engravatados esfregando a barriga numa mesa dentro de uma sala com ar condicionado em BSB. São equipes se ferrando nas ruas da cidade. Simples assim. De BSB e da imprensa só sai barulho.
‘[…] as coisas só funcionam se a imprensa pressionar.’ Cascata, imprensa só quer uma entrevista boa para encher espaço. Vide enchente em SM, diretor da Corsan falava em ‘rodizio’ e a maioria sabia que não estava ocorrendo, gente sem agua. O conserto da adutora levou o tempo que deveria levar e nem um minuto a menos.
‘A propósito das mudanças nas agências, ouvi alguns colegas comentarem que elas devem ser dirigidas por técnicos, e não por políticos.’ Sandoval Feitosa Neto é engenheiro eletricista formado pela Universidade do Maranhão (onde educam com o c*) e mestre em engenharia pela UnB. Oriundo da CHESF.
‘Não sei como funcionam nos outros países as agências reguladoras, se é que existem.’ Existem (FDA, FEMA, ambas ianques como exemplo) e funcionam na base do que a casa tem para oferecer. No Brasil funcionam como tudo no pais. Basico. Queriam que funcionasse como uma agencia suiça?
Sandoval Feitosa Neto é servidor publico concursado.
‘[…] pressionar as direções das redações para manter na pauta assuntos relevantes, como é o caso da rede elétrica de São Paulo.’ Idealmente deveria ser assim. Porém tem que publicar o que interessa ao publico. Senão perdem ‘audiencia’ e quebram. Simples assim. Alas, midia tradicional é um problema que se resolve sozinho. Muita coisa que é ‘publicada’ só interessa algumas bolhas (que já tem suas informações por outros meios), são ‘campanhas de conscientização’ inuteis ou são doutrinação para ‘iluminar a humanidade’.
‘Qual é a qualidade dos reparos feitos pela Enel na rede elétrica? Serão suficientes para resistir ao próximo temporal?’ Redes eletricas tem padrões definidos pela Associação Brasileira de Normas Tecnicas (que acabam virando normas das empresas via condições de fornecimento). Quem olhar para os postes vai notar que é mais ou menos a mesma coisa em todo lugar. Um coisa é certa, entretanto, se cair uma arvore ou a cobertura de um posto em cima da rede eletrica problemas irão surgir.
‘Resumi toda a situação em poucas palavras: falta de manutenção.’ Falou bobagem. Seria, exemplo local, se um poste de madeira apodrecesse e caisse com a rede no chão. Sem interferencia, climatica no caso, externa.
Obras contre enchentes na Grande POA tem que ser repensadas. Diques tem que ser alterados. Instalações subterraneas tem que receber alternativas aereas. Obras dependem do processo decisório de varios governos. Algumas tarefas são de concessionarias (o que acarreta restabelecimento de equilibrio economico-financeiro), outras, estatais, tem que aguardar verbas e licitações. É Brasil, nada sai na velocidade desejável.
Principio basico. Nenhuma concessionaria de energia tem equipes suficientes para restabelecer o fornecimento independentemente do tamanho da ‘encrenca’. Quanto maiores os danos, mais gente vai ficar sem energia e mais tempo levará para o conserto. Simples assim. Maioria das concessionarias terceiriza parte das equipes ainda por cima. Pagar gente para ficar parada esperando algo acontecer (uma ou duas vezes por ano) não é economico. A conta da energia iria para o espaço, o que acarretaria reclamações também.