A Gare e os morros – por Orlando Fonseca
O cronista e dois projetos, na Câmara, que cuidam da vida na cidade
A semana política foi agitada, em nossa cidade, com a discussão sobre a urgência de um projeto enviado pelo Executivo. Trata-se da cessão de uso da Gare, reformada, repaginada bonita, para a iniciativa privada. Quanto a isso, de minha parte, não há desacordo, no entanto, estou inclinado a dar razão aos que consideram necessário um tempo maior de discussão.
Além desse, um outro ponto, também em debate na Câmara de Vereadores, me enche de preocupação: a ocupação imobiliária dos morros da cidade. E nessa expectativa, é preciso colocar não apenas a história da formação de Santa Maria (antes dela, Boca do Monte já existia como indicação de um lugar), mas também o caráter fundamental identitário, ou seja, a paisagem é parte importante do reconhecimento deste lugar, em que vivemos.
Não esquecendo dos recentes eventos climáticos que deixaram um saldo trágico no Estado, e aqui também. Como diz uma canção, que me ocorre como um pedido de alerta: “Estes montes me guardam/ E ainda guardam se um dia voltar pra ti”.
Quanto ao projeto da Gare, trata-se de um encaminhamento necessário, após a conclusão das obras de restauração. Por ter ficado tanto tempo à mercê do tempo e da depredação de aproveitadores, sabemos de antemão que o Poder Público, sozinho, não tem como cuidar daquele local emblemático.
A Gare é um emblema, um marco inicial do desenvolvimento de nossa cidade, que teve na presença da atividade ferroviária o seu primeiro influxo. Dali se estendeu em direção ao Centro, pela Avenida Rio Branco, e também engrandeceu a cidade na direção Leste-Oeste.
A questão é que há pontos importantes que estão a ensejar maior esclarecimento, e o primeiro que me ocorre é que a área total a ser privatizada aparece como sendo de 4.700 m², sendo que a área do prédio da Estação tem pouco mais de 1.100 m². Estaria sendo colocado à mercê da exploração comercial o Largo da Estação, um logradouro público?
Uma vez que o projeto passou com folga na Câmara, agora é esperar que haja bom senso no processo de estabelecer a Parceria Público-Privada (necessária, reitero), resguardando a condição de público para aquele importante sítio histórico da cidade.
Quanto às discussões sobre a ocupação dos morros, que volta e meia retornam ao plenário santa-mariense, desde que se modificou a lei de zoneamento em 2018, é importante lembrar aspectos fundamentais para a cidade.
Primeiro que os morros são referência desta região desde priscas eras, muito antes de se iniciar o processo urbano, ao final do século XVIII. O nosso sobrenome informal “Boca do Monte” já existia nas línguas indígenas, e na designação que aparece em documentos de jesuítas e exploradores.
Portanto é parte indivisível, tanto da paisagem natural, quanto da percepção cultural de nós, residentes (naturais ou temporários). Esta parte que nos cabe da reserva da Mata Atlântica, nos contrafortes da Serra Geral, é para ser preservada, ainda mais quando se tem a urgência de medidas, diante dos extremos climáticos que vieram para ficar.
No momento em que se prepara para assumir a nova administração (e para que seja efetivamente nova), é preciso ter, entre projetos, metas e planejamento, a consciência na condução de pontos que envolvem a materialidade de prédios, asfalto de ruas, lâmpadas de led e aqueles, de igual importância, que dão conta dos bens imateriais de nosso patrimônio cultural.
Através de seu cuidado e cultivo é que se vai construir uma noção de pertencimento santa-mariense, e também se vai elevar a autoestima cidadã, necessária para que as políticas públicas sejam efetivas e duradouras. Volto ao hino informal de nossa cidade, na composição de Beto Pires: “Santa Maria me guarde estes montes/ Que em suas fontes há som de oração”.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Em tempo. Brizola criou os Grupos dos Onze baseado em times de futebol. Seriam uma contraposição ao golpe e fariam avançar as reformas urbana e rural. Não tinha nada de ‘cultural’. Inclusive aqui na aldeia tinha compadres discutindo como iriam dividir a terra de outros compadres. O movimento todo se dizia ‘nacionalista’, mas no fundo era o ‘socialismo moreno’ do Itagiba. Que participou na criação da Guerrilha do Caparaó (que seria a Sierra Maestra daqui). Que tinha patrocinio cubano. Participantes ex-milicos melancias principalmente. Alas, a tal guerrilha ‘se resolveu sozinha’, a PM de Minas praticamente resgatou os coitados. Resuno do ‘em tempo’: não adianta tentar reescrever a historia.
Resumo da opera. Nada para se preocupar. Existem problemas com maior urgencia na urb.
Donde se volta aos morros. Se sair m. do Casarão, não seria nenhuma surpresa, poderia ser solicitado ao MP para levantar de cima das mãos e fazer alguma coisa. Ou arrumar uma associação fidedigna (daquelas que não desistem da ação depois de levar um por fora) e embargar a p*rr@ toda. Existe legislação federal envolvida.
Identitário também é coisa de bolha em relação a gare. Duas coisas aparentemente desconexas com o assunto. Restauraram Notre Dame que tinha incendiado. Por ordem do Macron foram feitas algumas ‘modernizações’. O que deixou muita gente p. da vida, não seria coisa para um politico (implicito, que deseja deixar sua marca para a posteridade) decidir isto. Segunda coisa, coluna na FSP (que antigamente era Falha de SP, com direito a reclamação a respeito da liberdade de expressão, mas agora é ‘amiguinha’; até a pagina 2 é claro). Ultima produção do cinema nacional teria sido um ‘sucesso’ mas é exceção. Solução apontada? Incluir nos curriculos o ensino de cinema. Como se fa, é alegação, na França.
‘[…] é preciso colocar não apenas a história da formação de Santa Maria (antes dela, Boca do Monte já existia como indicação de um lugar), mas também o caráter fundamental identitário, […]’. Quem dá bola para isto é uma bolha. Alas, os morros já foram ‘privatizados’, quem não mora numa cobertura, em muitos pontos da aldeia, já não os enxerga.
‘[…] também em debate na Câmara de Vereadores, me enche de preocupação: a ocupação imobiliária dos morros da cidade.’ Debates no parlamento não devem ser censurados. Sai muita bobagem no Casarão, é certo, mas existem mecanismos de controle.
‘[…] estou inclinado a dar razão aos que consideram necessário um tempo maior de discussão.’ Velha tática vermelha, se não pode impor sua solução ‘é necessario discutir mais’, empurrar para as calendas. Questão é que tem que colocar para funcionar e ver se vai dar certo. Depende muito de recursos da iniciativa privada (até para manutenção) que podem ou não vir porque dependem de publico. Desconfio que os vermelhos desejariam colocar um monte de coisas ‘fofas’ que geram recursos pifios condenando a coisa toda. E tirar dinheiro dos cofres publicos para tentar salvar.
Por partes como diria Elize Matsunaga. SM não tem problemas novos devido a estagnação, tem problemas rotativos. Daqui a pouco são os mercados abrindo aos domingos. Ou buracos nas ruas. Ou o Elefante Branco do Casarão.