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Educação especial e habilidades de leitura e interpretação de textos – por Demetrio Cherobini

”... São hoje meios praticamente universais de ensino e aprendizagem”

Quando trabalho leitura e interpretação de textos com meus alunos digo que isso é importante porque vai servir: 1º) para todas as matérias escolares; e 2º) do ensino fundamental à faculdade – e durante toda a vida, para aqueles que seguirem se aprimorando em termos de conhecimento e cultura. Cometendo propositalmente um exagero (benigno), digo a eles que leitura e interpretação servirão “para tudo” e “sempre”.

Todo currículo escolar se apoia nessas capacidades. Já na pré-escola, onde o lúdico ocupa bastante espaço, são trabalhadas atividades de leitura e escrita. Na sequência da educação formal, todas as matérias utilizam leitura e escrita para ensinar aos alunos os diferentes conhecimentos. Inclusive a educação física pode fazer isso – e não raro o faz. Leitura e interpretação são hoje meios praticamente universais de ensino e aprendizagem.

Com a difusão da internet, nunca se leu tanto no mundo. A internet, suas inúmeras redes sociais e os aplicativos diversos, fazem com que leiamos, durante o dia, uma quantidade razoável de palavras, pequenas mensagens de texto, fragmentos de informação, anúncios mercadológicos, citações, propagandas culturais, notícias de jornal, e até, caso queiramos, construções textuais de maior fôlego, como artigos e livros.

Nem todo conteúdo aí veiculado, de fato, é bom: há inúmeros gêneros de baixa qualidade, que reproduzem ignorância, preconceito e má-fé, o que representa um grande problema sociocultural – mas a capacidade de leitura, em si mesma, não é um problema.

As redes sociais difundiram, pois, variadas modalidades de leitura e escrita. Tal experiência, na internet, é muitas vezes articulada a outros recursos, como som e imagem, que podem enriquecer as mensagens transmitidas. Com esses meios à disposição, presente e futuro apontam para uma humanidade cada vez mais necessitada de aprimorar suas capacidades de leitura e escrita e versada em habilidades complexas de comunicação.

Nesse contexto, quem não usar a leitura viverá num mundo à parte, menos integrado, mais acanhado e isolado da comunidade humana global. A impossibilidade mesma de ler, com toda certeza, privará as pessoas de uma grande quantidade de círculos sociais e de atividades culturais que só a leitura pode proporcionar.

A leitura e a escrita têm grande importância para o desenvolvimento da capacidade de abstração, fundamental para a apropriação do conteúdo científico, filosófico e artístico acumulado pela humanidade. Além disso, também proporcionam inegáveis benefícios de caráter emocional, como bem atestam os diversos relatos de pessoas que aprenderam a ler em idade avançada e por causa disso sentiram imensa elevação da autoestima, da autoconfiança e da autonomia pessoal.

Infelizmente, no campo da educação especial não é consenso que se deva ensinar todas as pessoas com necessidades especiais a ler e escrever. Algumas “teorias” chegam a afirmar que certos sujeitos ditos “com deficiência” (ou “transtorno” etc.) não poderão nunca aprender a ler e escrever. Estariam totalmente certas essas teorias? Será que o desenvolvimento científico futuro não irá negar suas premissas e conclusões?

Há crianças que, de fato, precisam de mais tempo para tal aprendizado. Mas esse tempo maior, a meu ver, pode dizer respeito mais às incapacidades e limitações da ciência e da pedagogia atuais do que propriamente às especificidades inerentes à condição humana de algumas pessoas. O ser humano, sabidamente, é um perpétuo vir a ser de novas conquistas e realizações, e se caracteriza, entre outras coisas, por superar seus limites.

De toda forma, é muito triste ver uma criança com necessidades especiais passar seu período escolar sem aprender a ler e escrever. Via de regra, com essas lacunas, a pessoa pouco consegue usufruir da escola e fazer do tempo aí passado algo significativo para um projeto futuro de vida. Caso queira chegar a uma forma superior de existência, a humanidade terá certamente que resolver tais problemas e desafios.

(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.

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