Golpe de Estado mata – por Giorgio Forgiarini
“Não importa se no dia, no mês seguinte ou anos depois”

“Durante a ditadura é que era bom”. Jogue uma pedra quem nunca ouviu alguma frase desse naipe pelo menos uma vez nos últimos 5 anos. Mas vou admitir: sim, o regime militar pode ter sido muito generoso para alguns segmentos da nossa sociedade. Aposto uma Ciryllinha, aliás, que quem ainda insiste em proferir esse tipo de fala foi beneficiado ou pelo menos descenda de quem foi beneficiado por aquele regime.
Mas vamos à vaca fria. Em termos econômicos, o regime militar começou bem. Herdou o legado do Plano de Metas de Juscelino Kubitscheck e contou com a benevolência de financiamentos estrangeiros para financiar o tão propalado “milagre econômico”. Parte do Brasil cresceu, é verdade, alguns ficaram mais ricos, a burocracia brasileira foi inchada, ocupada por milhares de homens e mulheres escolhidos a dedo, no mais das vezes muitíssimo bem remunerados, o que repercute até hoje no nosso falido sistema de previdência.
Financiamentos eram distribuídos a esmo como confete em baile de carnaval. O antigo BNDE (hoje BNDES) chegou a ganhar a alcunha de “hospital de empresas”, dado o carinho que tinha para com empreendimentos que se aproximavam da bancarrota. Dos amigos do regime, óbvio.
No campo, financiamentos foram institucionalizados pelo Sistema Nacional de Crédito Rural e muito utilizados por grandes fazendeiros para financiar a compra de terrenos e construção de propriedades na cidade. O sistema era bom, sua aplicação que era ruim. Propositalmente ruim. Sem fiscalização ou controle algum. Não por acaso aconteceu o escândalo do Adubo-Papel.
Ainda falando em campo, a Lei do Boi (alguém lembra?) concedeu cotas para filhos de fazendeiros estudarem em universidades públicas. Mas, sejamos claros, só fazendeiros de grande poder econômico teriam condições de manter seus filhos na cidade para estudar. Dar condições aos filhos de agricultores menores nunca foi preocupação para o regime.
“Mas as escolas públicas eram boas”, dirão alguns. Será mesmo? O ensino público durante o regime se concentrava em poucas escolas, algumas suntuosas, é verdade, situadas nos núcleos urbanos e só. Quem nasceu no interior de Dilermando de Aguiar ou no fundo do Formigueiro tinha grande chance de chegar ao fim da vida analfabeto. Mais do que a situação, o problema estava no fato de que não havia qualquer preocupação em mudar essa situação. Não à toa analfabetismo alcançava 21% da população acima de 15 anos no ano de 1991.
Na saúde não havia SUS. Pior do que isso, nunca sequer se cogitou a implementação de um sistema público e universal de saúde durante o regime. Não são poucos os relatos de pais que tiveram de vender seu carro ou um cavalo para custear o parto dos filhos. Mas foram criados os “cheques-consulta”, distribuídos aos cidadãos que contribuíssem para a Previdência para pagar consultas com médicos que os aceitassem.
Obviamente, foi uma farra. Noticiavam os jornais da época que médicos largavam seus empregos em hospitais para faturar até quatro vezes mais atendendo pacientes mediante “cheques consulta”. Mais uma vez, tudo sem controle, sem fiscalização, nada.
Ministério Público? Era um braço do Poder Executivo. Nunca um membro do Poder Executivo foi sequer entrevistado por um membro do Ministério Público, muito menos investigado ou preso. Ser amigo do regime era garantia de intangibilidade.
Nos anos 80, a fartura da década anterior encontrou seu fim. Brasil foi à bancarrota e chegamos a dar calote nos credores estrangeiros em 1987. A conta da bonança chegou e aqueles que dela se beneficiaram perderam o interesse em um regime militar. Veio a democracia e, com ela, a universalização do voto, da saúde, da educação e, principalmente, do ônus deixado pelos perdulários das décadas anteriores.
Por tudo o que foi dito, tenho como cirúrgica a fala de Flávio Dino. “Golpe de Estado mata. Não importa se no dia, no mês seguinte ou anos depois”. Sim. Mata e mata muito. Por muitos e muitos anos. “Se não mata à força, mata à míngua”.
(*) Giorgio Forgiarini é advogado militante, com curso de Direito pela Universidade Franciscana, é Mestre em Ciências Sociais e Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele escreve nas madrugadas de sábado.
Resumo da opera. Para textos planfetários e infantis não é necessario doutorado. Diz muito sobre algumas ‘instituições’ por aí. Brasil é isto daí, não importa o regime politico, uma esculhambação com uns poucos se locupletando. Vinhos finos e lagosta. Diarias milhardárias. Tributação nas alturas. Gente se lascando no SUS e gente fingindo que aprende para conseguir ‘diploma’. Sic transit gloria mundi. Vae victis.
Discordo veementemente! Escrever para crianças e panfletos exige *um PhD em Simplicidade Genial!*
Crianças são os críticos mais implacáveis – se o texto for chato, elas jogam o livro no chão e vão ver TikTok.
Panfletos precisam de persuasão cirúrgica – cada palavra deve ser lapidada como um diamante, sob risco de virar mero lixo reciclável. Domínio de linguística, psicologia e marketing – para criar frases que grudam como chiclete e emocionam como Disney.
Ou seja: não é ‘só’ escrever, é dominar a arte da comunicação no modo hard – e isso, meu caro Brando, vale mais que um doutorado!
‘Sim. Mata e mata muito. Por muitos e muitos anos. “Se não mata à força, mata à míngua”’. Da mesma maneira que a corrupção, incomPeTencia e total ausencia de gestão.
‘Veio a democracia e, com ela, a universalização do voto, da saúde, da educação e, principalmente, do ônus deixado pelos perdulários das décadas anteriores.’ Infantil. Antes tudo de ruim, depois tudo de bom. Voto? Partidos não funcionam direito. Saúde? Filas no SUS, dependendo da doença a pessoa morre numa fila esperando (grande diferença!). Educação? Fabrica de analfabetos funcionais. Perdulários? Dilma, a humilde e capaz, quebrou o pais. Como o Rato Rouco faz hoje.
‘Nos anos 80, a fartura da década anterior encontrou seu fim.’ Desenvolvimentismo acéfalo. Crise de energia da decada de 70. Crise do petroleo em 76 e 79. So perguntar para alguém que manje de historia que a pessoa explica.
‘Nunca um membro do Poder Executivo foi sequer entrevistado por um membro do Ministério Público, muito menos investigado ou preso. Ser amigo do regime era garantia de intangibilidade.’ Vide Petrolão e Lava a Jato.
‘Ministério Público? Era um braço do Poder Executivo.’ Copia dos EUA. No que se chega a pergunta, o MP faz jus a independencia que tem hoje? Ou copia o judiciario e fica aumentando as proprias vantagens e ‘subsidios’? Não existe almoço grátis.
‘ Não são poucos os relatos de pais que tiveram de vender seu carro ou um cavalo para custear o parto dos filhos.’ Sim, quando os pais não tinham carros ou cavalos para vender as crianças não nasciam. Veja só, não tinha nem ‘doulas’.
‘Na saúde não havia SUS.’ Sim, os milicos são culpados de não criarem o SUS. Saúde só para quem tinha carteira de trabalho assinada. Instituições filantropicas como o Hospital Astrogildo de Azevedo (fundado em 1903) e a Casa de Saude de Santa Maria (fundado em 1955) não existiam.
O SUS foi criado após o regime militar, como resultado da Constituição de 1988, que estabeleceu a saúde como um direito universal no Brasil. No entanto, a relação entre o período militar (1964-1985) e a saúde pública é complexa.
Durante o regime militar, o Brasil não tinha um sistema público universal de saúde. O modelo era fragmentado,
-INAMPS, que atendia apenas trabalhadores formais, ou seja, quem contribuía com a Previdência.
-Quem não tinha carteira assinada? Dependia de hospitais filantrópicos (como o Hospital Astrogildo e a Casa de Saúde) ou pagava do próprio bolso.
-Desigualdade enorme, visto que aqueles que não tinham emprego formal ficava sem acesso a médicos e hospitais.
Ou seja, havia exclusão dos mais pobres. Quem não contribuía com a Previdência não tinha direito a saúde.
-Falta de universalidade. O SUS só viria depois, em 1988.
Ai, meu caro, o SUS surgiu, sendo uma conquista da redemocratização, fruto da Constituição Cidadã de 1988, que estabeleceu a saúde como direito de todos e dever do Estado.
Fim da exclusão por emprego formal, o atendimento universal e gratuito.
Existem sim problemas como corrupção e má gestão, mas o princípio da universalidade é um avanço civilizatório.
O SUS, apesar dos problemas, é um dos poucos sistemas no mundo que oferece saúde gratuita para mais de 200 milhões de pessoas.
‘[…] tinha grande chance de chegar ao fim da vida analfabeto. Mais do que a situação, o problema estava no fato de que não havia qualquer preocupação em mudar essa situação.’ Pois então, filhos de agricultores menores inclusive. Quanto a preocupação, Em 69 foi criado o MOBRAL. Entrou em operação em 71 no governo Medici. Ministro da Educação era o coronel Jarbas Passarinho.
‘[…] concedeu cotas para filhos de fazendeiros estudarem em universidades públicas.’ Para tentar fixar os jovens no campo. ‘[…] só fazendeiros de grande poder econômico teriam condições de manter seus filhos na cidade para estudar […]’. Isto é chute. Primeiro que há diversos veterinarios na região que entraram na universidade por este caminho. Segundo porque os filhos de agricultores menores não tinha universidade no horizonte, maioria, naquela epoca, mal tinham o primeiro grau.
‘No campo, financiamentos foram institucionalizados pelo Sistema Nacional de Crédito Rural […]’. E foram utilizados para abertura de novas fronteiras agricolas no centro-oeste. Gauchada. Existe o problema ambiental, mas a mentalidade naquela epoca era um pouco diferente.
‘O antigo BNDE (hoje BNDES) […]’. Financiou o parque industrial de Caxias e do nordeste do estado de SC. Para ficar com os exemplos mais proximos.