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Neo-caudilhos – por Orlando Fonseca

O que estamos presenciando, no atual cenário político dos EUA, é a emergência do tipo de líder político que algumas personagens históricas, na América Latina, depreenderam do positivismo (de Auguste Comte), ao final do século XIX. O caudilho, conhecido pelas figuras que vingaram por estas plagas, com Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros e Getúlio Vargas. Repaginado, na estampa histriônica de Donald Trump, cercado de empresários bilionários e conservadores em geral, a paródia procura se afirmar em atos oficiais e assinaturas de decretos, muito mais espetaculosos do que consequentes. Quanto a isso, só o tempo dirá a verdade. No entanto, há uma nova ordem mundial sendo desenhada a partir das pantomimas dessa tentativa de imprimir uma feição totalitária na maior democracia do mundo. Agora, convenhamos, que tem graves consequências nas relações internacionais, nas economias e na paz, lá isso tem.

Naquela leitura feita por lideranças latino-americanas do ideário positivista, a noção de um líder esclarecido, viril e propositivo, visava fortalecer o estado. Isso criaria uma sociedade coesa e progressista, ao contrário do que se o poder fosse legado ao povo, massa ignara, sem condições de realizar boas escolhas. Já nesta nova tentativa trumpista, parece haver uma investida para enfraquecer o estado, retirando-lhe todos os mecanismos democráticos, diminuindo a sua capacidade operacional e invertendo todas as ações que construíram o império americano. Ou seja, o slogan que propõe fazer a América Grande Outra Vez, na verdade quer dizer: anabolizar um líder de topete laranja, com suas ideias mirabolantes a respeito de tudo. Trump já deixou claro, em suas entrevistas, antes de assumir este seu segundo mandato, que admira figuras como Maduro, na Venezuela, e agora está fortalecendo uma aliança (impensável até alguns meses atrás) com Putin.

Falando nisso, na Rússia, Vladimir Putin vem resgatando a figura (e o poder) dos czares. Ele está levando adiante a noção de um novo czarismo, enfrentando uma guerra (ainda é uma potência bélica de respeito), fazendo frente às sanções econômicas (inclusive, aproveitando para nacionalizar as empresas estrangeiras no país), em uma economia que carece de relações como o BRICS e com a China. No entanto, é de se perguntar, depois das notícias nada alvissareiras, vindas do hemisfério norte: é o fim da democracia, como a conhecemos desde os primórdios do século passado? Em tempos de carnaval: é o fim da aventura humana na Terra (ao menos como a temos conhecido)?

Trump e seu bilionário ajudante-de-ordem, Elon Musk, está promovendo um verdadeiro desmonte do “estado” na América do Norte, e não é para fazê-la grande outra vez, e sim gerar muito lucro com a privatização do aparelho estatal. Nos propósitos secretos (ou nem tanto) de Trump, ocupar a Casa Branca não se trata de governo: tudo é negócio. Basta ver o que vem fazendo com as negociações para o fim das guerras, no Leste Europeu e no Oriente Médio. Está conduzindo tudo para tirar o máximo da combalida Ucrânia, e fez um anúncio pra lá de abusado: fazer um resort na faixa de Gaza, um deboche com os milhares de palestinos mortos e com sua terra arrasada. Trump se acercou de bilionários – governo para os mais ricos – promove a demissão de funcionários públicos, com realinhamento dos programas identitários e o fim da agência USAID. Sem essa de enviar dinheiro para pesquisas médicas, erradicar a fome, cuidar do ambiente. Há quem já ouse falar em um golpe, pois concentrando tanto poder, agindo de forma escandalosamente à parte das decisões do Congresso e do Judiciário, ou ele se dá muito bem como novo caudilho (à maneira dos antigos dirigentes das Repúblicas de Bananas, apoiados pelo Big Brother ianque) ou a América vai ficar nanica (banalizando os conceitos acima referidos) logo em seguida.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.

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22 Comentários

  1. Resumo da opera. Como dizia o livro antigo, o truque é fazer um monte de afirmações simples sem base nenhuma. Pitada ‘moderna’ é misturar ‘fatos’ com opiniões, insinuações, etc. Moda na cidade, tem muita gente que se acha ‘influente’, consegue influir nas opiniões das pessoas. Não deixa de ser verdade, militancia cega, fãs retardados(as), puxa-sacos em geral.

  2. ‘[…] a América vai ficar nanica […]’. Não há imperio que dure para sempre. Mas a Europa vai passar um mau bocado nos proximos anos.

  3. ‘Há quem já ouse falar em um golpe, […]’. Pessoas com menos de um centezimo de neuronio fazem parte da multidão.

  4. ‘Sem essa de enviar dinheiro para pesquisas médicas, erradicar a fome, cuidar do ambiente.’ Isto é o que os vermelhos propagam e a midia cumpanhera repete. Onde passa boiada passa uns boizinhos a mais. Tinha gente roubando na parada e não era pouco. Gregos e baianos. Nos programas que não podiam parar basta, como aconteceu com a Costa Rica, pedir um ‘waiver’. Quem manda na USAID é Marco Rubio. O grosso do dinheiro espurio ia, segundo dizem, para os democratas. Mas soltavam um ‘osso’ para os republicanos também. Não sei porque lembrei da coalizão PSDB, o finadinho, com PT, mal de saúde.

  5. ‘[…] promove a demissão de funcionários públicos, […]’. Relatorio do Senado ianque mostrou que apenas 6% dos servidores federais cumpriam a carga horaria pessoalmente. Fonte: New York Post, dezembro de 2024. Mostra que servidores publicos não são muito afeitos a labuta. Até lá.

  6. ‘Trump se acercou de bilionários […]’. Gente com capacidade fora do establishment. Se foi eleito para modificar o que se via queriam que fizesse o que? Utilizar-se de burocratas e gente ligado ao ‘sistema’? Para poderem sabotar e ensebar sem nada fazer até o final do mandato?

  7. ‘[…] fazer um resort na faixa de Gaza […]’. Para quem tem um oitavo de neuronio fez visualizar o que o lugar poderia ser sem guerra e extremismo religioso.

  8. ‘ Está conduzindo tudo para tirar o máximo da combalida Ucrânia, […]’. Colocando interesses ianques no pais. Também é verdade.

  9. ‘ Está conduzindo tudo para tirar o máximo da combalida Ucrânia, […]’. Recuperar o dinheiro que foi ‘investido’ lá. Alas, ao ‘corrigir’ o Agente Laranja outro dia Macron mentiu. Ajuda da Europa é perto de 53% e não 60%.

  10. ‘[…] sim gerar muito lucro com a privatização do aparelho estatal.’ Privatizar o quê? Por la quase não existem estatais. O problema é que haviam ONG’s brasileiras recendo grana da USAID. Quem sabe se não havia fornecimento ‘virtual’ de quentinhas para os pobres?

  11. Outra leitura, das muitas possiveis, não excludente da primeira é a referencia a Conferencia de Yalta. Putin, Agente Laranja e Xi Jinping se reunem e dividem o planeta. Coisa impensavel para os que desejam ‘exportar democracia’ e encher os bolsos ao mesmo tempo.

  12. ‘[…] e agora está fortalecendo uma aliança (impensável até alguns meses atrás) com Putin.’ Segundo o Agente Laranja no encontro desastroso com o Humorista ele não pode desancar o Russo na frente da imprensa e depois ligar para Putin e dizer ‘Daí, como estão as coisas? Vamos conversar?’. O que é verdade. Ao contrario do Rato Rouco que ficou do lado do Putin e dos Palestinos e depois quis bancar o ‘neutro’.

  13. ‘[…] que admira figuras como Maduro, na Venezuela […]’. Revogou os acordos sobre Petroleo que Biden tinha firmado com Maduro. Bota ‘admiração’ nisto.

  14. ‘[…] invertendo todas as ações que construíram o império americano.’ Obvio que não, vide Guerra Hispano-Americana.

  15. ‘[…] retirando-lhe todos os mecanismos democráticos […]’. Propaganda, controversias estão sendo discutidas no judiciario.

  16. ‘Já nesta nova tentativa trumpista, parece haver uma investida para enfraquecer o estado, […]’. Foi eleito com uma plataforma que incluia ‘drenar o pantano’ (swamp).

  17. Uma verdade básica que muitos não tem capacidade cognitiva para perceber: não dá para ‘tocar’ o mundo com filosofia.

  18. Positivismo do final do seculo retrasado. Vermelhos buscam ‘causas’ e vivem chafurdando no passado. Motivo simples, não têm futuro. Não é a ‘direita’ que se expande, é a esquerda que encolhe.

  19. Hummm…Cortina de fumaça dos vermelhos agora é falar mal do Agente Laranja. E do Mush. Orquestrado, obvio. Se o patrão manda latir, ‘acoa-se’.

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