Trump e “como desfazer amizades e alienar pessoas” – por José Renato Ferraz da Silveira e João Pedro Bandeira Soares
Trump confunde nação com empresa e afeta o futuro de liderança dos EUA

Os Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, estão dilacerando seu soft power de forma acelerada e preocupante. A capacidade de influenciar e inspirar outros países, construída ao longo de décadas, está sendo minada por decisões impulsivas e políticas de curto prazo.
Trump, com sua mentalidade de empresário, parece mais interessado em ganhos imediatos e popularidade interna do que em preservar a imagem global dos EUA como uma nação líder e confiável. Ao adotar medidas que alienam aliados históricos e desestabilizam acordos internacionais, ele está jogando fora a maior arma americana: a capacidade de persuadir e liderar pelo exemplo.
Pois bem, um dos livros mais vendidos na história editorial americana, e de metade do mundo, foi o de Dale Carnegie, “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”. É um dos maiores clássicos de todos os tempos e é considerado a Bíblia dos relacionamentos interpessoais. Essa obra é referência quando o assunto é o desenvolvimento das relações humanas, das habilidades sociais e da comunicação eficiente.
Carnegie parte do princípio de que é preciso se interessar genuinamente por aqueles com quem interagimos. Com histórias saborosas, exemplos práticos e ótimos conselhos, é uma leitura prazerosa e fundamental para quem deseja criar bons vínculos, se tornar mais persuasivo, deixar uma marca positiva e inspirar os outros com energia e gentileza.
De fato, a pressão de outros países e a crescente competição global estão expondo as fragilidades da abordagem de Trump. Enquanto nações como China e Rússia investem em estratégias de longo prazo para ampliar sua influência, os EUA, sob sua administração, parecem dispostos a sacrificar seu soft power em troca de vitórias políticas momentâneas.
O resultado é um enfraquecimento da posição americana no cenário internacional, com consequências que podem durar gerações. Trump, ao confundir nação com empresa, está comprometendo não apenas o presente, mas também o futuro da liderança global dos Estados Unidos.
O diplomata aposentado Paulo Roberto Almeida ironiza essa postura e sugere que Trump poderia escrever um livro exatamente oposto ao de Carnegie, talvez com um sucesso editorial semelhante: Como Desfazer Amizades e Alienar Pessoas.
Segundo ele, “Trump tem se dedicado com afinco a esse objetivo, especialmente em seu segundo mandato, demonstrando um caso único na história da política. Enquanto a hipocrisia costuma ser uma regra nesse meio, o ex-presidente faz questão de ser desagradável, ranzinza e sabotador dos próprios interesses e dos de seu país – um verdadeiro Dale Carnegie às avessas”.
A postura de Trump reflete uma visão míope do poder global. Enquanto o soft power dos EUA era baseado em valores como cooperação, democracia e respeito às instituições internacionais, sua administração optou por uma abordagem unilateral e agressiva.
Isso não apenas afasta aliados tradicionais, mas também abre espaço para que outras potências preencham o vácuo deixado pelos Estados Unidos.
A perda de credibilidade e influência é um preço alto a pagar por decisões tomadas sem considerar o impacto a longo prazo.
Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores e do Desenvolvimento, reforça essa crítica ao afirmar que Trump age como um especulador imobiliário na política comercial. Ao tratar parceiros como adversários, ele desgasta alianças e fragiliza a própria economia americana. A pergunta que fica é: até que ponto o mundo aceitará ser refém de um teatro onde todos perdem, menos o ego de um homem que confunde nação com empresa?
Ao priorizar o curto prazo, Trump está ignorando que o verdadeiro poder de uma nação vai além de números econômicos ou vitórias políticas momentâneas. O soft power é um ativo intangível, mas essencial, que define a capacidade de um país de moldar o mundo de acordo com seus valores e interesses. Ao dilapidar esse recurso, os EUA não estão apenas perdendo aliados, mas também abrindo mão de sua capacidade de liderar em um mundo cada vez mais complexo e multipolar.
Outro ponto a destacar é a edição do Washington Post que reforça essa percepção, mostrando como a administração Trump tem afetado diversas áreas com medidas arbitrárias e imprevisíveis. Entre os headlines das reportagens, destacam-se:
1. Trump agrees to one-month tariff reprieve aimed at helping U.S. automakers (depois que ele impôs um tarifaço irracional e contrário ao acordo de livre comércio bilateral).
2. Supreme Court says judge can force administration to resume payments of frozen foreign aid.
3. NIH reels with fear, uncertainty about future of scientific research.
4. Trump administration moves to let Idaho enforce strict abortion ban.
5. You’ve never heard that in a presidential address to Congress before.
6. U.S. pauses intelligence sharing with Ukraine, squeezing information used to strike inside Russia.
7. Trump administration plans 15 percent cut to VA workforce.
8. Small federal agency blocks DOGE employees from entering its building.
9. How pausing U.S. intelligence impacts Ukraine’s military operation.
10. Draft executive order calls for closing Education Department.
Além disso, um artigo de opinião de Dana Milbank resume a situação em uma frase impactante: In just five days, Trump has set the country back nearly 100 years.
Diante desse cenário, Trump já pode escrever um novo livro: Manual Prático sobre Como Criar Problemas para Si Próprio a Partir do Nada.
(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).
João Pedro Bandeira Soares é graduando em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP).
Resumo da opera. Até o Chaves falava mal de Gene Sharp.
Resumo da opera. Para citar livros de auto-ajuda e jornais não precisa doutorado.
Soft Power é a maneira que Hilary encontrou de entabular a guerra na Ucrania e Obama se meter no Iemen, na Siria e na Libia. Como se viu, ‘deu certo’. Assim como a exportação de democracia para o Afeganistão e Iraque.
A brincadeira é ‘Agente Laranja apoia Cavalão; Musk apoia Agente Laranja’. Logo ‘temos que falar mal de Agente Laranja e Musk’. Simples assim.
Alguém falou que ‘militancia é a maneira que os inuteis encontraram para sentirem-se importantes’.
Ianques na Europa, via OTAN, prometiam e pagavam a segurança. Paises europeus não entravam com a parte deles e gastavam no bem estar social. Crise migratoria. Explosão de violencia, gastos aumentaram. Erros crassos nas decisões dos governantes. Deu no que deu.
O que ninguém presta atenção? Alemanha, por exemplo, Volkswagen planeja 35 mil demissões até 2030. Bosh planeja demitir até 10 mil.
Quem é Dana Milbank na fila do pão? Um reles jornalista.
‘Draft executive order calls for closing Education Department.’ Educação na mão dos estados. Alas, como em todo mundo o sistema educacional ianque cai pelas tabelas. Importam muita gente qualificada, é o que salva.
Alas, citam Chamberlain. Só esquecem de uns detalhes, Adolfo não tinha arsenal nuclear, Não tinha apoio da China. Não importava soldados da Coréia do Norte….
‘U.S. pauses intelligence sharing with Ukraine, squeezing information used to strike inside Russia.’ Plano europeu era prolongar a guerra para dar tempo de armar-se e ajudar a Ucrania a ‘derrotar Putin e colocar um presidente pró-ocidente na Russia’. Só ‘ideais’ ou cortina de fumaça? Incompetencia por lá nos grandes escalões não é pequena. Usar rearmamento para tirar Europa do buraco? Sem os ianques não se metem, podem tomar uma arma nuclear tática na cabeça. Obvio que na cabeça dos imbecis ‘ele não teria coragem’.
‘Trump administration moves to let Idaho enforce strict abortion ban.’ Suprema Corte ianque decidiu que aborto é assunto dos estados.
‘NIH reels with fear, uncertainty about future of scientific research.’ Esquerda e seus apelos ‘emocionais’.
‘Supreme Court says judge can force administration to resume payments of frozen foreign aid.’ Contratos em andamento.
‘Enquanto o soft power dos EUA era baseado em valores como cooperação, democracia e respeito às instituições internacionais,[…]’. Pautas da narrativa da esquerda.
‘Enquanto a hipocrisia costuma ser uma regra nesse meio,[…]’. Quando os ianques derrubaram o Allende não prestavam.
‘O diplomata aposentado Paulo Roberto Almeida […]’. Em Washington estão todos preocupados com o que ele acha ou deixa de achar.
‘O resultado é um enfraquecimento da posição americana no cenário internacional […]’. Projeção de poder não sai barato. Pergunta seria se os ianques, dado a situação economica e estrutural do pais, teria condições de sustentar o que acontecia antes para sempre.
George Washington no seu discurso de despedida mencionou as ‘entangling alliances’. Base, também, do não intervencionismo ianque. Alianças seriam medidas temporarias. Teriam que ser abandonadas se o interesse nacional ianque assim exigisse.
Falando com alguém que manje de relações internacionais é bom saber do realismo classico. As nações são os atores principais no palco internacional, não existe autoridade supranacional internacional, Estados atuam no interesse proprio e também desejam poder com fins de autopreservação. Wikipedia em ingles tem um artigo razoavel sobre o assunto.
Ao fazer uma análise é bom ter em mente que não se trata de fazer uma defesa do Agente Laranja. E nem um ataque. Ou propaganda contra.