Glauber fica! – por Leonardo da Rocha Botega
As razões por que “é dever de todo democrata se somar ao movimento”

No último dia 9 de abril, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovou o relatório do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) indicando a cassação do mandato do deputado do Psol do Rio de Janeiro, Glauber Braga. A acusação contra o combativo parlamentar, feita pelo Partido Novo, constitui-se como uma das maiores farsas acusatórias de nossa História recente.
Glauber Braga foi acusado de quebra de decorro parlamentar por conta de ter expulsado da Câmara dos Deputados um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). Na ocasião, o “mblista” proferia insultos contra a mãe do deputado, a senhora Saudade Braga, ex-prefeita de Nova Friburgo-RJ, falecida em 8 de maio de 2024, após anos de convivência com problemas de saúde em decorrência do Alzheimer.
Quem acompanha o cotidiano do campo político e social brasileiro sabe que o Movimento Brasil Livre nada mais é do que um grupo performático que ganhou notoriedade por ter como prática perseguir a vida cotidiana daqueles que se opõem ao que eles defendem. Invadir escolas, universidades, museus e manifestações contrárias as suas ideias, bem como, perseguir jornalistas, são práticas corriqueiras de seus integrantes.
Também é corriqueira a tolerância do MBL com ideologias que propagam superioridade racial, misoginia, lgbtfobia, aporofobia, entre outras afrontas aos direitos humanos. Em 2022, um deputado estadual ligado ao MBL chegou a ser cassado, devido ao vazamento de áudios onde afirmava que a refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres” e que ele e um outro comparsa viajam à Europa “só para pegar loiras”.
O histórico das práticas intoleráveis do MBL sequer foi levado em conta no relatório do deputado Paulo Magalhães. Magalhães é um dos tantos herdeiros das oligarquias políticas que dominam o Congresso Nacional. Recentemente, se absteve na votação do processo de cassação do mandato de outro membro das oligarquias políticas, Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco.
O deputado Paulo Magalhães silenciou sobre as práticas intolerantes do MBL, pois a reação do deputado Glauber Braga contra um dos militantes daquele movimento é apenas o “bode expiatório” de um processo que é mais amplo. Glauber Braga está pagando o preço de ter denunciado a fraude do orçamento secreto, da farra das emendas parlamentares e de ter enfrentado o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
Está é a verdade que processo de cassação do mandato de Glauber Braga esconde. Glauber teve a coragem de enfrentar a apropriação do orçamento do Estado, um patrimônio do povo brasileiro, pelas oligarquias políticas que dominam o Congresso Brasileiro. A coragem de denunciar a reprodução do poder patrimonial de uma casta a partir de um dos maiores esquemas de corrupção de nossa História.
Cassar o mandato de Glauber Braga significa silenciar aqueles que não se encaixam na reprodução da pequena política. Significa reduzir cada vez mais a grande política, aquela que de fato importa ao povo brasileiro. Cassar o mandato de Glauber Braga é reafirmar o pacto que tem consagrado o Congresso Brasileiro como um espaço de mediocridade. Por isso é dever de todo democrata se somar ao movimento Glauber Fica!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Olá,
Obrigado por fazer a pergunta, mas Fernando Pessoa tem uma resposta para ela: “Quem irá escrever a História do se?”. Nós, historiadores, que utilizamos métodos historiográficos, não trabalhamos com o se, apenas com a realidade e suas interpretações. Mas, posso te responder-perguntando: Por que a direita não denunciou o orçamento secreto?
Se Glauber fosse um deputado de direita, qual seria seu posicionamento?