Igualdade e equidade de gênero: quando igualar os desiguais não é justo – por Marionaldo Ferreira

Falar em justiça, especialmente no contexto das relações de gênero, é compreender que nem sempre tratar todos da mesma forma significa ser justo. Na busca por uma sociedade mais igualitária, é essencial distinguir dois conceitos que, embora pareçam semelhantes, carregam significados e implicações muito diferentes: igualdade e equidade.

A igualdade de gênero propõe que homens e mulheres devem ter os mesmos direitos, deveres e oportunidades em todos os aspectos da vida: no trabalho, na educação, na política, na família. Já a equidade de gênero reconhece que homens e mulheres partem de condições históricas, sociais e culturais diferentes – e que, por isso, tratar todos igualmente pode perpetuar desigualdades.

Um exemplo clássico está no mercado de trabalho. Ao exigir que homens e mulheres tenham exatamente o mesmo desempenho ou carga de trabalho, sem considerar as múltiplas jornadas que muitas mulheres enfrentam (como o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos, ainda majoritariamente atribuídos a elas), estamos aplicando a igualdade, mas não a equidade. Estamos tratando de forma igual quem vive realidades desiguais – e isso não é justo.

Equidade é oferecer a cada pessoa o que ela precisa para ter as mesmas chances. Não se trata de privilégio, mas de correção histórica. É entender que garantir 50% de mulheres em cargos de liderança não é “dar vantagem”, mas compensar séculos de exclusão. É reconhecer que mulheres negras, por exemplo, enfrentam desafios estruturais que não se resolvem apenas com leis iguais para todos, mas com políticas que levem em conta suas trajetórias específicas.

A metáfora da escada ilustra bem essa diferença. Imagine duas pessoas diante de uma escada. A igualdade é dar o mesmo número de degraus para ambas. A equidade é entender que uma delas já está em um patamar inferior e, portanto, precisa de mais degraus para alcançar o mesmo nível da outra.

Portanto, ao pensarmos em políticas públicas, leis, ambientes de trabalho ou práticas educacionais, é fundamental olhar para a equidade. Justiça social só se alcança quando há sensibilidade para as diferenças, e coragem para enfrentá-las com medidas específicas, reparadoras e transformadoras.

Igualdade é o ideal. Mas a equidade é o caminho. E nesse caminho, não basta apenas oferecer os mesmos direitos, é preciso garantir que todos possam exercê-los com dignidade, respeito e liberdade.

(*) Marionaldo Ferreira é servidor aposentado da UFSM. Tecnólogo em Processos Gerenciais, Especialista em Administração e Marketing, Psicanalista em formação e tem, também, MBA em Gestão de Projetos. Seus textos são publicados nas madrugadas de segunda-feira.