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Textos curtos e a era do peixe dourado – por Guilherme Bicca

“Sempre vão funcionar... Mas tudo tem seu tempo e espaço”

Já vai fazer um mês que sou colunista neste nobre espaço e, desde o primeiro artigo, recebo críticas (construtivas) acerca do tamanho dos meus textos: muito extensos para a época da timeline infinita, onde a regra é dizer mais com menos palavras.

Reels, Shorts, TikToks – tudo pede atenção instantânea. E eu admito: meus textos são realmente longos porque sem contexto simplesmente não consigo transmitir o que quero dizer. 

Mas aí me pergunto: se o leitor está navegando na internet, consumindo todo tipo de conteúdo… por que ele tem pressa de que o meu termine logo, se depois ele vai consumir outro?

Um pouco de história e ciência

No ano 2000 (não esqueça: isso foi há 25 anos) a atenção média ao consumir um conteúdo digital era retida por 150 segundos. 

Hoje, esse número caiu para meros 47. 

Porém, um estudo realizado pela Microsoft, em 2013, apontou que a “atenção clássica” do internauta está abaixo dos oito segundos. 

Isso mesmo… hoje, um homo sapiens adulto consegue se concentrar em algo por menos tempo do que um peixe dourado, cuja atenção dura nove segundos. 

Quer dizer que nosso cérebro tem necessitado, cada vez mais, que as informações sejam apresentadas em pequenas doses.

Recompensa imediata e economia cognitiva

A lógica é simples: o cérebro humano agora quer o que garante mais dopamina com menos esforço. 

Entrar num vídeo, ganhar resposta rápida, e seguir para o próximo, tem demarcado o novo padrão cerebral. 

Ao ponto da ciência usar o termo “TikTok Brain” para se referir à dificuldade de manter o foco em conteúdos mais longos. Sobretudo os estudantes universitários.

Mas e o contexto?

Aqui mora o dilema. Conteúdos curtos garantem atenção, sim. Mas embalar uma informação complexa em uma cápsula de trinta segundos pode gerar, como se diz no mundo da espionagem, “desinformação”.

Como explicar a guerra entre Israel e Palestina sem contexto? Hummm… acho que não foi um bom exemplo, né? Vejo isso todo dia. 

Cansaço explica?

Pra mim, está muito claro que hoje nossa atenção é multifacetada. 

Em oito horas de trabalho, pensamos, resolvemos, realizamos muito mais do que nossos pais (quantitativamente falando). 

No fim do dia, há um esgotamento que, talvez, nos force a ficar longe de tudo que exija esforço de nossa capacidade mental.

(E talvez isso também ajude a explicar porque na lista dos vinte livros mais vendidos em livrarias brasileiras, em 2025, doze são de colorir. Papo pra uma nova coluna, talvez?)

Frases curtas, memes, shorts, conseguem contar uma “história” e se comunicar com um cérebro que já ligou o “modo resfriar” no fim do dia.

Menos é mais, mas…

Textos curtos funcionam. Sempre funcionaram e sempre vão funcionar. Eles capturam atenção, são certeiros e economizam tempo e neurônios. 

Mas tudo tem seu tempo e espaço. As pequenas doses de informação e conteúdo não podem se tornar a única forma de comunicar. 

O desafio real pra quem tem a pretensão de produzir conteúdo, seja ele qual for, está em combinar o impacto imediato com uma entrega densa, voltada a quem quer entender além da head line

A chave está no equilíbrio: conteúdos curtos que são portais para longos corredores cheios de outras portas.

O shorts que vira reels. O reels que vira podcast. Essa deve ser a construção. Não o contrário.

Na verdade, já vi isso antes: a manchete que vira lead. O lead que vira reportagem. Caminhos a serem seguidos para quem teve a atenção captada. 

Assim, é possível a gente conquistar tanto o leitor que busca praticidade quanto o que quer profundidade. E no fim, quem ganha é a comunicação.

E eu… bom… eu achei que tinha conseguido escrever um texto curto, da era do peixe dourado. Só que não.

Imagina então se eu desse contexto a cada um dos textos curtos que acabei de escrever.

(*) Guilherme Bicca é jornalista graduado na Universidade Franciscana (UFN) desde 2008. Nesses anos, especializou-se em assessoria de comunicação integrada, quando realizou trabalhos junto a instituições como Sociedade de Medicina; Apusm; Sindilojas; e, mais recentemente, CDL Santa Maria. Está à frente da comunicação de entidades como Adesm e Secovi Centro Gaúcho; presta assessoria especializada ao Fidem Bank; é redator sênior na Jusfy, legaltech eleita a startup mais escalável do último South Summit. Também é um dos âncoras do Semanário, programa veiculado aqui mesmo em claudemirpereira.com.br; e criador do podcast Bocas do Monte, da TV Santa Maria. Guilherme Bicca escreve às sextas-feiras no site.

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10 Comentários

  1. Resumo da opera. Epoca de transição. O zeitgeist privilegia a imagem e não o texto. Efeito dos 140 caracteres do twitter ainda? Não tem como dizer. Fato é que acharam uma reposta simples para um problema complexo. Rende mimimi, vendas de livros, vendas de medicamentos, consultas medicas, etc.

  2. Por outro lado um dos desenhos mais assistidos do mundo é o tal ‘Bluey’. Episodios de 7 minutos. E o pessoal continua indo ao cinema onde não é incomum um filme durar quase tres horas. Donde se ve que o foco nas ‘redes sociais’ tem um problema serio de metodologia. No minimo podem estar confundindo correlação com causa e efeito.

  3. ‘Mas embalar uma informação complexa em uma cápsula de trinta segundos pode gerar, como se diz no mundo da espionagem, “desinformação”.’ O mundo pela metade. O numero de pessoas que assistem podcasts aumentou significativamente. Maioria dura não menos que duas horas. Na Ianquelandia o pessoal também coloca no carro e escuta no transito. Como audiolivros. Logo o mundo não está acabando.

  4. ‘A lógica é simples: o cérebro humano agora quer o que garante mais dopamina com menos esforço’. Andaram medindo via exame de sangue os niveis de dopamina. Problema maior seria na geração Z. Pois bem, antes a doença da moda era a Desordem de Deficit de Atenção e Hiperatividade. Crianças que antigamente eram consideradas agitadas começaram a ser ‘diagnosticadas’. Vendeu muita ritalina, que ja era muito utilizada por concurseiros. Receita se arruma, obvio.

  5. 150, 47 ,8. Numeros soltos. São médias. Se for uma distribuição normal onde está a variança ou o desvio padrão. Cacoete da midia, a propaganda é que todo mundo tem 8 segundos de tempo de atenção. Generalização obviamente falsa.

  6. Quarto, a crise de replicabilidade. Publicado um estudo ele tem que ser passivel de reprodução por outro cientista nas mesmas condições. Na psicologia o numero é 60%, ou seja mais da metade dos estudos publicados não puderam ser reproduzidos por outros cientistas. Na psicologia social o numero é ainda maior. Na Ianquelandia existem fundações com departamentos que trabalham com isto, no Brasil nunca ouvi falar.

  7. Terceiro. Muitas vezes pegam estudos realizados na ianquelandia e usam os mesmos resultados aqui. Pior, muitas vezes pegam a peça cilindrica e tentam socar no buraco quadrado do brinquedo, simplesmente fazem os resultados de la serem ‘iguais’ aos daqui.

  8. Ciencia é para quem tem formação na area. Não é para jornalistas e afins, causidicos(as), etc. Segundo, chamam muita coisa de ‘ciencia’ que de ciencia não tem nada. Psicologia social, por exemplo. No maior numero dos casos o ‘cientista’ não tem o menor conhecimento de estatistica multivariada. Saem da conclusão para procurar dados confirmatorios. No final é uma antropologia misturada com psicologia e temperada com vermelhices.

  9. ‘Mas aí me pergunto: se o leitor está navegando na internet, consumindo todo tipo de conteúdo… por que ele tem pressa de que o meu termine logo, se depois ele vai consumir outro?’ Bom, já está achando que o proprio texto é igual ou melhor do que os outros. Certo é que o tempo do nariz de cera, como dizia o Claudemir com P., já terminaram.

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