Uma soft (?) skill chamada comunicação – por Guilherme Bicca
Metas não são alcançadas? O problema, claro, foi “uma falha na comunicação”

Ao longo dos anos, participei de muitas reuniões de balanço, em que as equipes avaliam o trabalho realizado em determinado projeto ou período.
Com segurança, posso afirmar que em 90% delas, quando chega a hora de avaliar os resultados, quem leva a culpa é a comunicação.
Ou melhor, a falta dela.
Não importa o setor: quando as metas não são alcançadas, é quase consenso: o problema foi “uma falha na comunicação”.
A comunicação, nesse caso, é como aquele irmão mais novo, que ainda não sabe falar, então todos apontam pra ele quando quebra alguma coisa dentro de casa.
Mas o mais curioso nisso é que a comunicação é tratada como uma “soft skill”. Termo inglesado para “habilidade desejável”.
Ou melhor… era. Porque hoje, em grandes empresas, ela deixou de ser “soft” e passou à habilidade fundamental.
Os dados não mentem (mesmo que sejam gringos)
- Segundo National Association of Colleges and Employers (NACE), 96,3% dos empregadores consideram a comunicação como a habilidade mais importante para recém-formados ingressarem no mercado de trabalho.
- Estudos do McKinsey Global Institute mostram que equipes com comunicação eficaz têm ganho de produtividade entre 20% e 25%.
- 70% dos empregadores priorizam habilidades de comunicação sobre habilidades técnicas ao contratar, segundo pesquisa da “Communication Statistics”
Ou seja, chamar a comunicação de “soft” está ficando meio… “heavy”.
Comunicação virou hard skill
Seja por e-mails confusos, reuniões desorganizadas ou briefings que parecem enigmas, a má comunicação virou o grande inimigo da produtividade. Comunicação ruim gera retrabalho, desalinhamento e, no final, frustração coletiva e sensação de impotência nos gestores.
Não à toa, empresas como Amazon, Google e Mastercard já criaram programas internos para melhorar a comunicação entre equipes, com impacto direto em produtividade e clima organizacional.
“Mas a IA vai mudar isso”. Ledo engano
E se alguém pensa que com a consolidação das IAs, o problema da má comunicação será resolvido, saiba que para arrancar resultados satisfatórios de uma ferramenta de Inteligência Artificial é preciso saber se comunicar com ela.
O chamado prompt nada mais é do que um pedido, uma solicitação que você “envia” a uma máquina. E, adivinha? Se você não souber se comunicar bem, nem a IA vai te entender.
Rolamos ladeira abaixo?
Há poucos anos, indicadores mostravam que os jovens brasileiros não conseguiam captar a ideia principal ou cruzar informações de um texto.
Em 2018, o Programme for International Student Assessment (PISA), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontou que 50% dos estudantes brasileiros de 15 anos ficaram abaixo do Nível 2 de leitura.
O Nível 2 é considerado o mínimo para que uma pessoa possa exercer plenamente a cidadania. Além disso, apenas 2% atingiram os níveis 5 e 6, os mais altos da avaliação.
Já em 2021, o Progress in International Reading Literacy Study (PIRLS), exame realizado pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA), indicou que 38% dos alunos brasileiros do 4º ano não dominam habilidades básicas de leitura.
Não preciso nem dizer que esses jovens, que em 2018 e 2021 não conseguiam interpretar textos, ou já estão, ou estarão no mercado de trabalho em breve.
Mudanças na raiz do problema
- Diversas universidades brasileiras, inclusive de cursos como engenharia, medicina e administração, já incorporam disciplinas de comunicação e oratória em suas grades curriculares.
- Países como Finlândia e Canadá, vêm trabalhando expressão oral, empatia e escuta ativa no ensino fundamental.
- No Brasil, “já” existem escolas particulares que implementaram projetos interdisciplinares para estimular a comunicação não violenta e argumentação crítica, no Ensino Médio.
Ou a gente se comunica, ou se “trumbica”
Moral da história: o mundo todo já viu que a má comunicação é a raiz do problema. Se na sua empresa você investe em treinamentos técnicos, capacitações em vendas, ferramentas e estratégias, mas deixa de lado a comunicação… lamento dizer: seu negócio vai ter problemas, de novo.
Costumo dizer que se uma empresa ou instituição é um relógio, então a comunicação são os ponteiros desse relógio. E de nada adianta a engrenagem funcionar, se sem ponteiros não é possível ver as horas.
(*) Guilherme Bicca é jornalista graduado na Universidade Franciscana (UFN) desde 2008. Nesses anos, especializou-se em assessoria de comunicação integrada, quando realizou trabalhos junto a instituições como Sociedade de Medicina; Apusm; Sindilojas; e, mais recentemente, CDL Santa Maria. Está à frente da comunicação de entidades como Adesm e Secovi Centro Gaúcho; presta assessoria especializada ao Fidem Bank; é redator sênior na Jusfy, legaltech eleita a startup mais escalável do último South Summit. Também é um dos âncoras do Semanário, programa veiculado aqui mesmo em claudemirpereira.com.br; e criador do podcast Bocas do Monte, da TV Santa Maria. Guilherme Bicca escreve às sextas-feiras no site.
Resumo da opera II. Alguém compraria um carro usado do sujeito da foto? Tenho um viaduto para vender na 158. Vista fenomenal, uma curva no meio. Preço de ocasião.
Resumo da opera. Supercifical venda de ‘peixe’. Como se a comunicação mesmo bem feita impedisse um resultado ruim. Como se não fosse necessario ter algo concreto a comunicar.
‘Costumo dizer que se uma empresa ou instituição é um relógio, então a comunicação são os ponteiros desse relógio.’ Um relogio parado está certo dois momentos no dia.
‘[…] o mundo todo já viu que a má comunicação é a raiz do problema.’ O Rato Rouco concorda com o autor. Problema é que deseja vender uma imagem distorcida da realidade. Porque acha que isto o beneficiaria.
‘[…] existem escolas particulares que implementaram projetos interdisciplinares para estimular a comunicação não violenta e argumentação crítica, no Ensino Médio.’ Caso contrario todos estariam saindo no soco todo dia? Obvio que não.
‘[…] empatia e escuta ativa no ensino fundamental.’ Que coisa mais ‘fofa’! Temos que copiar!
‘Há poucos anos, indicadores mostravam que os jovens brasileiros não conseguiam captar a ideia principal ou cruzar informações de um texto.’ Não é um problema exclusivamente tupiniquim. Nas grandes universidades do mundo a leitura dos livros estão sendo substituidos por sumarios.
‘[…] 70% dos empregadores priorizam habilidades de comunicação sobre habilidades técnicas […]’. Conjunto de estatisticas de fontes obscuras. Nem se perde tempo verificando, simplesmente ignora-se. Bota ‘comunicação’ nisto. Cita medicina e engenharia. Se o paciente morre ou a casa cai não interessam as habilidades de comunicação. Habilidades tecnicas sempre terão preponderancia sobre comunicação. Alas, em medicina informação para os leigos é dificil. Alas, famigerado neurologista era conhecido pela alta capacidade e pelas patadas que distribuia. Os mais antigos saberão quem é.
Temos que avisar o pessoal do comercio de rua no centro da aldeia que eles têm um problema de comunicação.
Oliviero Toscani dizia que a publicidade só conseguiu vender uma coisa, a ídeia de que funcionava.
Ianques tem uma expressão para isto: ‘self serving’. Ter preocupação com o proprio bem estar e os proprios interesses em detrimento dos outros.