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Para aprender apreender – por Pylla Kroth

Ouvi um relato em uma entrevista a um grande escritor, professor e romancista, que me fez pensar muito sobre minha criação e educação e do porquê de eu ter sido um mau aluno na minha idade escolar.  Cabe aqui nesta minha crônica semanal repassar para os amigos leitores suas explanações.

Conta ele que quando menino não foi um bom aluno, pois tinha medo de não saber responder as perguntas que os professores  lhe faziam, tinha medo de não conseguir aprender os conteúdos das matérias e ainda tinha um sério problema de concentração. E que posteriormente todo esse medo oriundo da infância se transformou em conhecimento com o passar do tempo.

Seu trabalho como adulto é curar as crianças desse medo. A reação dos adultos é sempre a mesma: eles também têm medo, medo de que seus filhos nunca tenham sucesso. E os professores também têm medo, têm medo de serem maus professores. E como acabar com esse medo? Diz ele que tudo isso tem a ver com a solidão da criança, solidão do professor, solidão dos pais. O que é preciso fazer é acabar com essa solidão.

Pedagogicamente, como se acaba com a solidão, na sua opinião? Segundo ele, é basicamente criando projetos em comum, onde todo mundo esteja e se sinta envolvido. Por exemplo, através do teatro inserido nas atividades escolares. Estimular o aluno sem prejudicar a sua confiança.

O entrevistado conta em determinado momento que quando aluno tinha um professor para quem ele mentia muito porque nunca fazia os deveres de casa. E o professor lhe disse: “muito bem, vejo que você tem muita imaginação. Então em vez de utilizar a sua imaginação para fabricar mentiras porque não escreve um romance? Você irá me entregar dez páginas escritas por semana. Não vou te dar mais redações para fazer, nem lições pra aprender, você vai fazer apenas esse romance para mim, dez páginas por semana.” Isso salvou este aclamado romancista chamado Daniel Pennac. Aquele seu professor foi capaz de transformar um aluno passivo em um aluno ativo, um aluno que escreve um romance.

E como são os alunos hoje? Os jovens, hoje em dia, as crianças pequenas em seus berços, são considerados pela sociedade de consumo como clientes. Produz-se publicidade para empurrá-los a consumir desde cedo. Consumir tablets, consumir laptops, consumir roupas. Consumir, consumir, consumir… E essa cultura é cotidiana.

Quando essas crianças vão para escola, comportam-se na frente dos professores como pequenos consumidores. Mas o professor não se dirige aos desejos delas. Se dirige as suas necessidades fundamentais. Necessidade de aprender a ler, aprender a contar, aprender a pensar, a refletir.

A maior parte dessas necessidades se opõe diretamente aos desejos das crianças.  É por isso que é muito mais difícil ser professor hoje em dia do que o era nos anos 50, quando as crianças não eram ainda clientes da sociedade de consumo que lhes oferece possibilidades muito mais atraentes para prender-lhes a atenção do que uma aula tradicional de gramática, aritmética, dialética, etc, etc.

O problema, segundo a análise feita pelo escritor, é que a criança vai acreditar que o seu desejo é uma necessidade fundamental. Vai acreditar que a sua felicidade depende da satisfação de um desejo que ela considera uma necessidade fundamental. Segundo ele, portanto, nós adultos, temos o trabalho de dissociar essas noções: o desejo e a necessidade. Pois a felicidade, a verdadeira felicidade, nós podemos obtê-la quando aprendemos compreender.

Isso sim faz a gente ser feliz. Quando compreendendo as coisas. Compreendendo que a publicidade é mentirosa. Ele acha que a compreensão é uma boa fonte de felicidade verdadeira e que não podemos deixar de lado as nossas próprias responsabilidades sobre uma instituição, que é preciso, antes de tudo, que nós como pais nos sintamos responsáveis pelo comportamento próprio diante dos nossos filhos.

E o que forma a educação das crianças? É dar o exemplo, sobre o prazer de aprender, ele pondera , o AMOR. Faz falta dizer aos jovens que, ao contrário do que costumamos dizer, o AMOR faz com que sejamos mais inteligentes. Que no fundo existem tipos de pessoas: têm os guardiões do templo, os que acham que sabem e que seu saber é propriedade privada e que os outros não são dignos de saber, e tem aqueles aqueles que não ligam para nada, porém existem também os “passeurs”.

O “passeur” é aquela pessoa que leva em consideração a sua própria Cultura sabendo que ela não lhe pertence e que pode fazer a felicidade dos outros. Se te levo pra assistir um filme do qual gostei e você também gosta, te farei feliz. Ser “passeur” é isso, é muito simples, complementa ele.Tudo que vocês sabem, tudo o que você sabe , não pertence a vocês. Não é sua propriedade privada, não faz mais do que passar por você. Um dos nossos motivos de estar sobre a terra é compartilhar isso.

E por isso aconselha que as pessoas não tenham medo, que sejam curiosos, pois a curiosidade é um remédio contra o medo. “Sejam curiosos acima de tudo!” (…) “Mas a realidade te dá medo? Faça como o Juan, fotografe-a, descubra seus mistérios. Se você é ruim em inglês, procure uma namorada ou namorado inglês, você vai ver como fará progressos. Abra-se, abra-se, abra-se, seja curioso, não se feche.”

Sendo assim, tomei a liberdade de compartilhar com vocês esses ensinamentos, com a esperança de que seja algo útil para ao menos descobrirmos um pouco sobre nós mesmos e nos tornamos “mais gente” não apenas aprendendo por “obrigação”, como parece ser uma maneira imposta pela maior parte de nossos sistemas de ensino, para nos tornarmos consumidores ou produtores de algo para ser consumido, mas para apreender o mundo, nos tornarmos parte dele, sermos o próprio mundo em que estamos inseridos, em conexão com os nossos semelhantes, compartilhando nossos saberes e assim pertencermos à humanidade de maneira… humana!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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