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Na contramão – por Orlando Fonseca

A Copa terminou para o Brasil. O Brasil não terminou por causa da Copa. Ainda que alguns considerem alienação a atenção dada pelos brasileiros ao esporte, o mais grave seria observar que, por não haver mais Copa para os Canarinhos, as atenções não se voltassem para o jogo político em curso no país. Se a Copa não tivesse a importância que tem, não haveria euforia entre os povos europeus que permanecem na disputa, pelos gramados russos.

Certamente, representam uma parcela da população, mas os noticiários da TV e as capas de jornais estampam praças lotadas, de gente “alienada” comemorando. Em um país como a Bélgica, nosso algoz nas quartas de finais, de 11 milhões de habitantes (na cidade de São Paulo tem mais gente), dez mil pessoas vibrando com a vitória de sua seleção é significativo. Bola pra frente, é preciso aprender com os erros, tanto em termos futebolísticos, quanto políticos.

Apesar de Tite ser um grande treinador, que a meu juízo deve permanecer em um projeto de longo prazo na CBF, ele é tão cabeça dura quanto o foram seus antecessores. Esse é um mal que não consigo visualizar como facilmente solucionável. Felipão, com sua “família Scolari”, elegeu seus afilhados, independente das condições em cada jogo. Na partida contra a Alemanha, na Copa de 2014, ao escalar o pequenino Bernard, porque tinha uma qualidade apelidada pelo treinador de “alegria nas pernas”, para enfrentar a divisão panzer, com jogadores de dois metros de altura, deu no que deu (não preciso repetir o fatídico escore).

É preciso ter “alegria na cabeça”, não exatamente da cor dos cabelos mechados do Neymar; falo do que deve existir na região intracranial. Dunga, por não entender nada de futebol, quando se trata de ter justamente alguma coisa em mente, quase ajuda a desclassificar a seleção em plenas eliminatórias. Agora o Tite, ao não abrir mão de Gabriel Jesus e William, que não jogaram o que fazem em seus clubes, e só escalar Firmino e Douglas Costa depois do desastre, mostra ser imprescindível que, no projeto de longo prazo da CBF, haja uma cláusula: treinador precisa endurecer a cabeça, pero sin perder a leitura de jogo jamais.

Então é o seguinte, dentro das quatro linhas do jogo político, estamos no segundo tempo. E estamos perdendo. Assim como no futebol, em que os europeus parecem estar recuperando a hegemonia, por aqui andamos na contramão. Enquanto nações de primeiro mundo estão adotando uma política de “renda mínima universal”, as críticas ao bolsa família e às políticas de inclusão social são deboche recorrente nas redes sociais.

Enquanto a “modernização do país” continua, com a receita neoliberal de um “estado enxuto”, através da privatização de grandes empresas estatais, países do primeiro mundo vêm aqui, com as suas estatais, comprá-las. Enquanto na Europa, e mesmo na China, os agrotóxicos vão sendo banidos, por aqui o congresso prepara uma lei que “libera geral”. Há um desmonte das estruturas de proteção social em curso no país (e alguns se ofendem quando se fala em golpe): estão congelados os recursos para saúde, educação e pesquisas de ponta; a farmácia popular desativada, o SUS está se desmantelando (veja-se o Hospital Regional, inaugurado como um Postão), os planos de saúde autorizados a aumentos; as universidades estão penando para manter o orçamento a fim de custear coisas básicas como a energia elétrica.

No Rio Grande do Sul, apesar da falta de condições para as estruturas fundamentais, como segurança e recuperação de estradas, o governo atual aparece como primeiro nas pesquisas eleitorais. É preciso mais atenção ao que está acontecendo no campo político, caso contrário, o eleitor vai lamentar, daqui a quatro anos, mais uma derrota nas quartas de finais, sem atinar que tem uma parcela de culpa por não ter feito a escalação direito.

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