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CRÔNICA. Gilvan Ribeiro, machismo e a notícia que alguns talvez não quisessem saber: já está mudando

Existe outro homem possível?  

Por GILVAN RIBEIRO (*)

No começo deste ano eu escrevi um texto, que foi publicado no meu Face, com o título “Estou deixando de ser homem”.

Muito provável que este enunciado causou, inicialmente, um generalizado espanto. Afinal de contas, o que significa deixar de ser homem?

Eu explico. Foi partir das vivências que tive na minha juventude e infância, entrelaçadas com a vida adulta, que comecei a desconfiar e refletir sobre tudo isso.

O que ocorre é que quase aos trinta anos de idade o significado de “ser homem” ganhou um novo sentido pra mim.

Quando, no meu texto, eu falo em “deixar de ser homem”, o que trago como exemplo de ser abandonado, é justamente o padrão de masculino considerado “ideal” que aprendi em casa, na escola e em todas as minhas relações afetivas sociais.

É aquilo: homem não chora, precisa “pegar todas”, ser forte o tempo todo, ser viril, ganhar muito dinheiro, jogar bem futebol, beber muito e tratar as mulheres como objeto, etc.

Ao apresentar todas as angústias que me ocorreram ao longo da vida, na tentativa de me enquadrar num padrão nocivo de masculino, convido a refletirmos sobre a possibilidade de existir um padrão saudável de homem a ser construído, ensinado  e aprendido.

Apenas refletir sobre estes aspectos não me faz uma pessoa melhor e nem mesmo me diferencia do padrão  “adoecido” de homem. Acho importante ressaltar isso para que nenhuma idealização seja criada. De santo as igrejas já estão cheias.

O que busco, apenas, é tentar criar conexões entre as pessoas (homens e mulheres) que acreditam na possibilidade de construirmos algo melhor em volta do que venha a “ser um homem melhor”.

A minha principal motivação para isso, como já disse antes, partiu de uma inadequação “social”. É óbvio que na medida em que eu fui crescendo pude traduzir as minhas angústias e confirmar tudo que eu sentia. Isso ocorreu quando eu entendi que o padrão de masculino que me era imposto a seguir, colabora para a manutenção de uma violência contra as mulheres, contra o próprio homem e por consequência contra o ideal de uma sociedade civilizada. Esse padrão é também conhecido como Machismo.

É provável que muitas pessoas que estão lendo este texto agora devem achar que tudo isso não passa de uma retórica a alimentar uma utopia. Eu não julgo ninguém por pensar assim. Ainda mais se esse “descrédito” vir das mulheres, pois são elas, incontestavelmente, as principais vítimas do Machismo até hoje. Eu posso imaginar o quão difícil deve ser acreditar que algo irá mudar, quando você é vítima de uma violência social historicamente “eterna”.

Mas quando o descrédito com a possibilidade de desconstruirmos o Machismo parte dos próprios homens, na minha opinião é algo que está amparado na vontade que estes têm de não perder privilégios. Para estes, eu apenas sinalizo que os privilégios que o Machismo nos entrega é um legítimo um Cavalo de Tróia.

Tanto para aquelas pessoas que acreditam ou para as que não acreditam ou não querem uma mudança, eu tenho uma notícia: já existe algo acontecendo.

E na verdade eu tenho provas para considerar que sim, algo está acontecendo. Para esta ocasião eu irei citar apenas um exemplo, a fim de não me estender muito.
Este exemplo é de algo que ocorreu muito próximo de mim, talvez de você.

Foi no sábado do dia 6 de abril, em Santa Maria, que um grupo de homens (e mulheres) se reuniu (foto acima) para falar sobre suas angústias e opiniões em relação ao Machismo. O encontro que tinha como título ”Suprimindo o Machismo entre os Homens”, contou com cerca de 25 pessoas, dentre elas a maioria homens.

A dinâmica inicial teve a fala do Psicólogo Lucas Motta (foto ao lado), que apresentou primeiro o seu relato pessoal, fazendo uma conexão direta com a violência sofrida por ele na infância, por também não se adequar ao “modelo de homem” que lhe era imposto.

Logo após, Lucas contou um pouco sobre o trabalho que ele realiza com adolescentes, em uma escola aqui da cidade, e o quanto de resultados positivos já obteve apenas por buscar refletir com os alunos a fim de desconstruir padrões nocivos do masculino, dentro do ambiente escolar.

O resultado mais importante, ao meu ver, foi a sua afirmação de que a escola conseguiu zerar os índices de violência física atualmente.

Este nosso encontro foi organizado pelo coletivo Conversae e Rádio Armazém. A ideia inicial era de que o evento durasse uma hora e meia, mas contrariando qualquer expectativa dos organizadores, as dinâmicas se estenderam por três horas. Com depoimentos e colaborações de quase todos os (as) participantes, catalisamos um momento bonito, de verdadeira entrega e acolhimento.

É difícil mensurar o quanto isso efetivamente irá causar de impacto na realidade que vivemos, pautada por um Machismo que está impregnado em todos nós. Trazendo para o campo das metáforas, isso tenha sido, talvez, apenas um pequeno abalo sísmico numa gigantesca montanha. Que seja. Eu acredito que um dia iremos derrubar essa montanha rochosa e sombria, para construir algo novo e belo no lugar.

(*)  GILVAN RIBEIRO, 29 anos, é atleta olímpico e apaixonado pelo jornalismo (cursa o 8º semestre, na UFN) e pela Psicologia (está no 1º semestre, na UFSM). Ele escreve no site sempre aos sábados.  

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: As fotos que ilustram esta crônica são de Michel Ribeiro.

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