ARTIGO. Luciano do Monte Ribas fala em perdão e futuro, ainda que aparente dizer só o “nós avisamos”
Nós avisamos
Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)
Avisamos sim. Muitas vezes. Avisamos por escrito, em conversas informais, nas salas de aula, pelas esquinas, em mesas de bares, nos almoços de família. Dissemos e argumentamos, embasados em coisas muito mais sólidas do que correntes de WhatsApp e memes do Facebook. E vocês não ouviram.
Para piorar, não estávamos sozinhos. Ao nosso lado estavam algumas das mentes mais brilhantes do Brasil e do mundo. Eram profissionais e estudiosos de quase todas as atividades e áreas do conhecimento humano. Apresentávamos dados, evidências, estudos, áudios, vídeos e discursos mostrando a ausência de propostas, a sordidez e a apologia à ignorância daquele que vocês consideravam um mito; e a parcialidade, a indignidade e o ativismo político do outro, a quem vocês chamavam de herói.
Nada disso adiantou. Vocês se enfileiraram para o abate com os dedos esticados e o sorriso patético de quem abraçou a estupidez. Alguns motivados pela “onda” ou por um tipo de histeria coletiva, mas outros – gente com valores duvidosos e alma escravocrata – por simplesmente terem colocado para fora todos os preconceitos e desumanidades que carregavam nos corações.
Passados poucos meses, mitos e heróis do autoritarismo brasileiro estão “nus em praça pública”. Nem a mídia comandada por meia dúzia de famílias consegue manter as máscaras no lugar. A essa altura dos acontecimentos, quem deixou-se enganar pelo discurso moralista e pelo clima histérico, já viu que o “mito” é um incapaz, quase um insano, e que o “herói” desonrou de forma vil a função de julgador. Os que ainda não viram mas não aprovam a discriminação, o obscurantismo e a destruição do Brasil como nação soberana, deverão abrir os olhos muito em breve. Ao menos, assim esperamos.
Talvez vocês não gostem de ouvir os nossos “eu avisei” e, certamente, alguns de nós exagerarão na dose. Perdoem os exageros como nós precisaremos perdoar muita coisa, porque isso é necessário para que os erros cometidos se transformem em aprendizado e, juntos, façamos o que for necessário para restabelecer a normalidade em nossa tão jovem democracia.
Parafraseando o título de um filme, nós que avisamos por vós esperamos.
(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública.
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SOBRE A IMAGEM: A foto é um detalhe da “Fonte das Nereidas”, na Praça Coronel Pedro Osório, em Pelotas.
É triste, mas realmente não foi por falta de aviso.