Do jornal digital Metrópoles, por RAPHAEL VELEDA e LUCAS MARCHESINI, com foto de Reprodução
Na visão do presidente Jair Bolsonaro (PSL), buscar o apoio das bancadas temáticas no Congresso, como a religiosa, a armamentista ou a ruralista, é uma política melhor do que negociar diretamente com os partidos para conseguir aprovar os projetos de interesse do governo. Se no caso da bancada agropecuária, como mostrou o Metropóles no último dia 15 de setembro, essa aposta tem frustrado os interesses do governo, quando se fala dos deputados evangélicos, o investimento tem rendido frutos.
Nas 226 votações realizadas na Câmara em 2019, os integrantes da bancada evangélica entregaram 80% dos votos ao governo. Integrantes do grupo só votaram contra a orientação dos líderes do Palácio do Planalto em 3,9% dos casos, uma fidelidade muito alta. Os casos restantes, até completar os 20% de “traições”, se referem a ocasiões em que o deputado não esteve presente na votação, o que também prejudica o governo.
Os números foram apurados pelo (M)Dados, núcleo de análise de grandes quantidades de informações do Metrópoles, nas votações que ocorreram na Câmara desde o início da legislatura.
Comparação
No levantamento sobre os ruralistas, a fidelidade encontrada foi muito menor, de 54%. Juntando votos contra a orientação (18,85%) e as ausências (26,58%), houve 45,43% de traições. O resultado entre os evangélicos é muito melhor, mas pesa menos nas votações por causa do tamanho das bancadas.
Enquanto a Frente Parlamentar da Agropecuária reúne 236 deputados na Câmara, ou 46% do total de 513, a Frente Evangélica tem 195 representantes, cerca de 38% do total de parlamentares na Casa.
Perfil
Entre os “traidores” do governo na bancada evangélica, se destacam os deputados que são do PT. Eles não entregam votos ao governo em 80% das votações, mas o partido tem apenas 4 deputados no grupo.
Os partidos com mais deputados na bancada são muito mais fiéis. O PP, que tem 14 representantes no grupo, só votou contra a orientação do governo em 5,36% das sessões de 2019. O PSL, partido do presidente Bolsonaro (que, na imagem principal desta reportagem, participa da edição deste ano da Marcha para Jesus, em Brasília), tem 27 representantes na frente evangélica e eles só votaram contra o governo em 1,5% das ocasiões, o menor índice entre os partidos.
A fidelidade do partido do presidente só não é maior do que a do partido Novo, que traiu o governo em apenas 1% das votações. A “bancada” do Novo na Frente Parlamentar Evangélica, porém, tem apenas um representante, o deputado por Minas Gerais Lucas Gonzales.
Evangélicos também traem
A entrega de votos da bancada evangélica não é automática para todos os pontos, há casos em que eles também traem. O mais recente foi na votação da polêmica lei do Abuso de Autoridade, em 14 de agosto, na Câmara. Nessa ocasião, o governo e alguns aliados (como o partido Novo e o Cidadania) orientaram voto contra a tramitação do texto em regime de urgência.
Os parlamentares que queriam a urgência, porém, venceram por 342 votos a 83 – 115 (33,6%) foram de deputados da bancada evangélica. Nesse dia, 58% da bancada votou contra o governo – e ainda houve 14 ausências de membros do grupo. Mas tarde, nesse mesmo dia, o projeto foi aprovado em votação simbólica e deu dor de cabeça ao presidente Bolsonaro, que teve de lidar com o desgaste de fazer 19 vetos no texto.
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