COLUNA. José Mauro Batista e os “sabem com quem estão falando”. Por aqui também existem, sim senhor!
“Sabem com quem está falando?”
Por JOSÉ MAURO BATISTA (*)
Recentemente, durante fiscalização em bares e restaurantes para evitar a propagação do coronavírus no Rio, um fiscal ouviu o seguinte de uma consumidora injustamente inconformada: “cidadão não, engenheiro civil, formado. Melhor que você”, disse a mulher para ressaltar a profissão do marido, com o claro propósito de humilhar o fiscal.
É uma variação do velho “sabe com quem está falando?” ou do carteiraço, que soa como uma ameaça do tipo “vou reclamar para o teu patrão”. Esses rompantes demonstram a estupidez de quem se acha melhor que os outros.
Agentes da lei, principalmente policiais, estão acostumados com esses desaforos, que também atingem balconistas, cuidadores de estacionamento, profissionais de saúde, jornalistas, servidores públicos, professores, garçons e por aí adiante. É uma inversão do “abuso de autoridade”, só que de parte de alguém muitas vezes sem autoridade para reclamar de coisa alguma.
No episódio do Rio, além de ter a sua vida exposta para todo o Brasil, o casal ficou desempregado e virou alvo de piadas, insultos e até ameaças (num linchamento virtual, é evidente). Que o desfecho sirva de lição não só para eles, mas, também, para todos nós.
TAMBÉM ACONTECE POR AQUI…
Esse tipo de “carteiraço” é mais comum do que se imagina, inclusive bem perto de nós. Como jornalista há mais de duas décadas, já ouvi coisas semelhantes. E também fiquei sabendo de casos que ocorreram por aqui.
Em dois desses casos – ocorridos já há algum tempo -, duas figuras importantes da região tentaram dar “carteiraços” em policiais rodoviários que as abordaram por excesso de velocidade. Em ambos os episódios, os “carteiraços” causaram constrangimentos em geral e frustrações às pessoas que não conseguiram fazer valer o seu “prestígio”, pois ouviram “NÃO” das autoridades para quem reclamaram dos subordinados. Os tempos mudaram, mas ainda há casos de pessoas tentando usar sua influência para se safar de coisas erradas. Que o digam os Boletins de Ocorrência (BOs) e o noticiário policial.
“EU PAGO O TEU SALÁRIO”
Outra variação do “sabe com quem está falando?” é o recorrente “Eu pago o teu salário”. Trata-se de uma falácia. Ninguém paga, pelo menos sozinho, o salário de um servidor público ou de um vendedor de loja, por exemplo.
E se alguém é pago é porque retribui em serviços. Não se trata de ajuda ou esmola que você dá a um policial ou a qualquer outro trabalhador. Há outras formas de reclamar e protestar. Educação, respeito e senso de humildade é o mínimo que se espera de uma pessoa decente.
Reflexões em tempos de quarentena
* O distanciamento social é necessário, mas, em alguns casos, o recomendável mesmo é o afastamento total. Principalmente em se tratando de pessoas que não somam positivamente e não nos fazem bem.
* Como nunca, usar máscara virou símbolo de protesto e resistência.
* Usar máscara também ajuda a se defender da ignorância.
* Literalmente, o negacionismo pode ser visto na cara de muitas pessoas.
* Em tempos de guerra nas redes sociais, quem posta o que quer, vê o que não quer
* Como será o “novo anormal” pós pandemia?
* Se a saúde pública já estava na UTI há tempos, agora falta respirador.
* Muitos governos tentam lavar as mãos no que diz respeito à pandemia.
* Alguém medianamente sério ainda dá ouvidos ao deputado federal Osmar Terra (MDB-RS)?
* Neste inverno de renguear cusco e cavalo, um apelo bem gauchesco: “não bota a fuça pra fora do rancho que o bicho tá solto, vivente! Sempre que puder, fica em casa, tchê!”
(*) José Mauro Batista é jornalista. Até recentemente, editor de Região do Diário de Santa Maria. Antes foi repórter e editor do jornal A Razão. Escreve no site semanalmente, aos domingos.
Observação do Editor: A imagem que ilustra esta coluna é uma reprodução do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, e mostra o casal que destratou um fiscal com o seu “carteiraço” carioca.
Seres humanos não são perfeitos. Raiva, frustação, emoções bagunçam a bioquímica do cérebro ocasionando bobagens. Qualquer dúvida é só perguntar a um árbitro de futebol. Ou para a mãe dele.
Publicitários tem poucas ferramentas. Apelo emocional, humor, crianças, verbo no imperativo, cores e o eventual cachorrinho esperto.
Noticiário vive muito de respostas emocionais, vide o ‘vamos terminar com uma noticia boa’.
O que sê é conhecido nos EUA como ‘cultura do cancelamento’. Com base em uma ou duas frases, absurdos obviamente, acaba-se com a vida das pessoas. Viram párias. Julgamentos instantâneos no tribunal da mídia. Enquanto isto soltam marginais das prisões por conta do vírus. ‘Cidadãos que devem ser recuperados pela sociedade’.
Desfecho uma lição? Muitas vezes a opinião diz mais sobre o opinante do que sobre o assunto.
Jornalistas, do alto de sua sabedoria, acham-se no direito de escolher exemplos para a sociedade. Não é o fiscal, o policial que se sentem ofendidos. Têm remédios legais para estas situações. E o jornalista que ‘se coloca no lugar do ofendido’. O Leva e Traz acredita ser o juiz da sociedade, um engenheiro social que usa o microfone e a câmera, a exposição, como instrumento, como arma, para atingir seus objetivos. Informar é coisa da Globo. Se as criaturas tivessem poder, quem tem não precisa lembrar os outros, não teria fiscal e/ou imprensa. Se aparecessem, depois, com calma e na surdina, cabeças rolariam.