Água, uma crise além da energia – por Marta Tocchetto
A questão hídrica, as alterações do clima, e suas causas e consequências
Os rios sem água não abastecem os reservatórios das hidrelétricas, que por sua vez não têm como produzir energia.
O Brasil possui uma das maiores reservas de água doce do Planeta. A fartura trouxe a falsa impressão de inesgotabilidade, levando também à concentração de geração de energia nas hidrelétricas. As mudanças climáticas afetam o ciclo hidrológico. O equilíbrio perfeito em que a água evapora e retorna na forma de chuva recuperando os mananciais hídricos, cada vez é menos evidente.
Seca, em outros tempos, era relacionada com o nordeste do país. Se tornou comum o Rio Grande do Sul, independente da época do ano, sofrer com falta de água para abastecimento, para agricultura e pecuária, para indústria, para geração de energia, dentre outras necessidades. Sem água não há vida. Sem água não há economia. Sem água não há alimentos.
As alterações do clima são resultantes da forma como o homem interferiu e continua interferindo no meio ambiente. A queima de combustíveis fósseis, carvão e petróleo, é a principal causa para o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. O desmatamento também interfere no clima e no regime das chuvas. O desmatamento ilegal na Amazônia levará a floresta, preveem os cientistas, a se transformar em savana.
Outra causa para o cenário caótico é a destruição da mata ciliar e de nascentes que tem levado ao (quase) desaparecimento de rios, os quais também sofrem com o envenenamento e a morte ocasionados pelos despejos de efluentes industriais e urbanos contaminados.
Se está grave, ainda pode piorar. Os rios sem água não abastecem os reservatórios das hidrelétricas, que por sua vez não têm como produzir energia. Apagões não são mais ameaças. Sem energia, o país para – a nossa vida para.
A solução encontrada pelo governo federal tem sido acionar usinas termoelétricas, cuja energia é produzida a partir do carvão ou de derivados do petróleo – cara e suja. O Brasil possui uma grande diversidade de fontes energéticas – marés, ventos, sol, hidrogênio, biomassa e outras. Enquanto o mundo caminha rumo ao abandono do petróleo e do carvão, mais uma vez, a incompetência e o negacionismo impedem uma solução que priorize uma matriz mais limpa.
A recente MP para a privatização da Eletrobrás prevê reserva de mercado para geração de energia a partir de usinas térmicas, fruto do interesse de alguns setores. As privatizações de setores essenciais, energia e água, além de atenderem, exclusivamente, aos interesses privados, vão no contrafluxo da resiliência climática.
Esses setores em mãos privadas, além da elevação de custos para a população, contribuirão para o acirramento das desigualdades sociais, da pobreza e do agravamento da já crítica, situação ambiental no país.
É essencial um plano de enfrentamento que busque atuar sobre as causas e as consequências das alterações climáticas, lançando mão de alternativas renováveis e menos poluentes, além de estratégias de reuso, recuperação de cursos hídricos e restauração de biomas. Estas são pautas imprescindíveis e de sobrevivência para hoje e para 2022, das quais não podemos abrir mão.
(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.
Sim, matriz energética tem que ser mais limpa. Não é fácil. Aqui no RS existe um movimento para expandir o uso do carvão. Não tem a ver com ‘negacionismo’ ou incompetencia, o negocio é grana mesmo. Indo parar nos bolsos certos tudo se resolve.
Problema da falta de energia vem desde Efeaga. Empurraram o problema com a barriga. Dilma, a humilde e capaz, teve apagão. Um deles atingiu 7 estados e o DF. Basta consultar o noticiário. Parcela da população que reclama da falta de energia é muito maior do que a que defende Amazonia ou meio ambiente em geral.
Tempo médio para construção de uma térmica é 24 meses. Fora o licenciamento ambiental. Metade da média de uma hidro. Fim da história.
MP da Eletrobrás juntou a necessidade do governo de plantão apresentar alguma privatização (o que é bom) com a necessidade do Centrão ganhar uns trocos (e votos) para a eleição vindoura. O problema não são as termos, problema são onde serão construidad e em quais condições. Foram jabutis colocados no Congresso. Cavalão é transitório, a estrutura instalada no Parlamento vai continuar. É um problemaço. Brasil não tem jeito assim, uma massa de ignorantes numa ponta (cada um com sua parcela) e uma corja de FDP’s na outra (sem mencionar os imbecis do ‘é normal’).
Mata ciliar e nascentes sempre foram importantes no RS nos tempos de antanho, Criação de gado, que precisa beber. Acontece aqui o que galopa na Argentina. Proibiram a exportação de carne, medida populista, e ampliou-se o que por lá chamam de sojificação do campo. No RS não respeitam nada, corredores, cemitérios antigos, etc. Até área de dominio, tudo vira lavoura.
No centro da aldeia há sangas recebendo esgoto in natura. Algumas totalmete canalizadas, outras não. Aquela agua suja vai parar em algum lugar. O roto falando do descosido fica feio.
Seca neste ano é resultado de La Niña. Ano anterior, se lembro bem, foi uma massa de agua fria da Antartica que avançou e criou uma região de alta pressão bagunçando o regime de chuvas. Clima depende de série histórica, é bom diferenciar de eventos climáticos extremos. Espero que os professores de meteorologia não deem muita risada.
El Niño, como a irmã, é resultado da interação entre a atmosfera e as águas do Pacifico. Agua mais quente mais chuva para nós e menos na Amazonia. Galera da ecologia notou que nas areas normalmete inundadas pelo Rio Negro aconteciam mais incendios. Perda de nutrientes, solo mais arenoso, surgimento de especies naturais da savana. Não é diretamente o desmatamento, o que não significa que pode-se desmatar à vontade. Também não significa que basta ‘apertar um botão em BSB’ e acabar com o desmatamento, independente do governo. Noutros tempos bastava dar uns trocos para os meios de comunicação e fingir que nada acontecia. ‘Cumpanheirada’ não fala nada ‘pela causa’, hipócritas. Solução passa por mudança cultural lá na ponta, o que não é fácil.
Por parte como diria Jack. As conclusões podem ser semelhantes, mas o caminho para chegar lá podem ser diferentes.
Pais pode ter agua doce em abundancia (o que não resolveu o problema do Nordeste). Não foi isto que levou a ‘inesgotabilidade’. Pessoas acham que porque a situação está muito favorável vai permanecer assim para sempre. Uma espécie de ‘catraca’ histórica. Ignoram os ciclos.
Concentração em hidrelétricas tem muitos fatores, inclusive o óbvio, ‘comissão’ é muito boa. As alternativas também não ajudam. Solar só funciona de dia. Eólica só quando tem vento. Nuclear, há um lobby mundial gigantesco nesta área, tem os problema que todos conhecem. Não desejo usina nuclear no Rio Grande. Ponto final.
Usinas hidrelétricas têm um monte de problemas, Inclusive o politico. Belo Monte teve area alagada reduzida a um terço da previsão inicial para contentar indigenistas e ambientalistas. Produção de energia é menos da metade da capacidade instalada por ser fio d’água. Os estudos começaram na decada de 80, usina só começou no seculo XXI, levou 9 anos para ficar pronta e o custo (ao menos um deles) é 18 bilhões de dolares.