Quem foi Mary Wollstonecraft (1759-1797)? – por Elen Biguelini
Começa a ser resgatado um dos grandes nomes para o feminismo mundial
Existem alguns nomes femininos que marcam a história das mulheres e do movimento feminista. Mary Wollstonecraft é um destes nomes.
Sua importância para o surgimento do movimento feminista se deu através de sua mais importante obra: “A vindications of the rights of women” (1792). Nesse texto, a autora abriu uma discussão relevante a seu período sobre a educação das mulheres e a forma como elas eram relegadas a um lugar subalterno na sociedade. A forma como a dominação masculina impedia às mulheres o estudo, lhes proibia de serem seres racionais (como os homens).
Embora não fosse um pensamento exclusivo desta inglesa, algumas a precederam nesta discussão, e outras suas contemporâneas levantaram a mesma necessidade de igualdade. O nome da autora tornou-se importante na formação daquilo que seria posteriormente o movimento sufragista. Isto porque durante o século XIX, a desigualdade de gênero tornou-se exponencialmente maior do que em períodos anteriores, relegando as mulheres a espaços cada vez menores de sociabilidade.
Liberdades sociais que haviam disfrutado no século XVIII se perdiam, a posição de importância feminina na mediação (por meio dos salões) não existia mais.
O aumento da classe burguesa também tem importância nesse acordar dos interesses femininos, visto que são as burguesas que podem deixar seus lares e participar de movimentos, passeatas, greves. Também eram elas que, devido ao avanço no ensino durante o século XIX, tinham acesso aos livros e poderiam passar tempos lendo textos como o de Mary Wollstonecraft.
Mas, apesar de ter escrito um texto tão importante para a formação do que posteriormente seria o movimento feminista, além de ter sido conhecida filósofa em seu tempo, a autora desta obra acabou sendo apagada durante muitos anos.
Após a morte da autora, seu marido, William Godwin (1756-1836) escreveu uma biografia da mãe de sua filha (a futura escritora Mary Wollstonecraft Shelley, 1797-1851, autora de “Frankenstein”) na qual revelou que antes de se casar com ele, havia sido mãe solteira.
Até então ela era reconhecida como Mrs. Gilbert Imlay, ou seja, assumira o nome de seu amante (e pai de sua primeira filha). Assim, o casamento que todos haviam compreendido como ‘legítimo’ para os padrões da época, não era e sua reputação foi destruída.
Esta novidade fez com que ela fosse descartada por diversos grupos de literatos ingleses, e levou a seu desaparecimento durante muitos anos.
Outras mulheres que a liam, passaram a não mais mencionar seu nome. Assim, até mesmo as falas da autora sobre a necessidade da educação feminina foram abafadas.
Atualmente, a história das mulheres, da literatura e do movimento feminista vem resgatando sua obra, que vai muito além das “Uma reinvidicação pelos Direitos da Mulher”.
Para procurar:
“Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens” de autoria de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Adaptação brasileira de 1833. O texto adapta a obra de Wollstonecraft para o Brasil, e ainda adiciona questões pertinentes para as brasileiras, tal como o abolicionismo.
“A Vindication of the Rights of Women”: https://www.gutenberg.org/ebooks/3420. Existem traduções brasileiras recentes.
(*) Elen Biguelini é Doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no site.
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