O paradigma Rayssa – por Leonardo da Rocha Botega
O articulista e o que ele fazia aos 13 anos. Entre outras coisas, era skatista
O que você estava fazendo quando tinha 13 anos? Foi com essa provocação que a jornalista e apresentadora de televisão, Astrid Fontenelle, chamou atenção de seus seguidores em uma rede social para a mais jovem brasileira medalhista olímpica da História, a skatista Rayssa Leal, 13 anos de idade. Sua pergunta despertou uma sequência de respostas de famosos e anônimos que rememoram o início de suas adolescências.
Confesso que a provocação feita por Astrid também me conduziu à inúmeras lembranças. Aos 13 anos, eu era um menino que reconstruía sua subjetividade após a perda precoce do pai um ano antes. Adorava estar com os amigos da escola e do bairro do Rosário, jogar futebol e futebol de botão, andar de bicicleta e, curiosamente, andar de skate. Para além de um esporte, o skate era uma diversão a parte. Um instrumento de socialização, de criação de vínculos, de produção de amizades e, obviamente, de hematomas.
Mas faltava algo em nosso grupo de adolescentes skatistas! Não havia meninas! Apesar de já estarmos na terceira geração dos movimentos feministas, o skate ainda era “coisa de meninos”. Nem mesmo a ligação com a cultura hardcore, que naquele momento era sacudida pelo som potente das meninas do L7 (que faziam o chamado “Nós não compartilhamos o mesmo degrau com você”), parecia abrir brechas para a feminização do skate.
O tempo foi passando e, apesar de surgirem meninas skatistas, a realidade da masculinização do esporte parecia não mudar. Em entrevista à Revista Trip, em 2019, Priscila Moraes lembrou que há 20 anos quando começou a andar de skate “precisava deixar o skate na casa de um amigo”, pois seu pai o “escondia ou quebrava”. Lembrou também o quando o skate foi importante para que ela enfrentasse o cotidiano difícil da periferia: “O skate salvou a minha vida. O lifestyle urbano abriu minha cabeça para música, literatura, passei a conhecer pessoas e lugares”.
Foram meninas skatistas como Priscila Moraes, Karen Jonz, Débora de Oliveira, a Badel, e, mais recentemente, Yndiara Asp, Pamela Rosa e Leticia Bufoni que abriram caminho para que Rayssa Leal emocionasse o Brasil na madrugada de domingo para segunda. Seu carisma dançante no aquecimento, sua dancinha junto com Margielyn Didal, a simpática skatista representante das Filipinas, suas doces palavras pronunciadas na primeira entrevista após o pódio, sua sabedoria em reconhecer as que vieram antes, trouxeram uma imensa sensação de alegria para um país destroçado e desesperançado. Um país que é o 5º do mundo no ranking do feminicídio. Foi um grito para milhares de meninas brasileiras: Sim! Nós podemos!
Rayssa foi a Rainha Marta do skate e demonstrou na prática o que a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie falou em uma de suas palestras: “a cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar a nossa cultura”. Nos anos 1990, as meninas do L7 destroçaram o paradigma dominante da cultura hardcore; que o exemplo de Rayssa Leal destroce o paradigma dominante que separa esportes de meninos e esportes de meninas. Voem meninas! As pistas são suas!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Observação do Editor: A foto de Rayssa Leal, a Fadinha, medalha de prata olímpica no Skate (Street), é de Wander Roberto/Comitê Olímpico Brasileiro/Divulgação.
Por partes como diria Jack, o estripador.
Rayssa ganhou medalha de prata. A menina que ganhou medalha de ouro, uma japonesa, também tem 13 anos. A medalha de bronze foi para uma japonesa de 16. Ou seja, meninas ganhando uma competição feminina dominada por meninas. Pouco? Obvio que não.
Houve celeuma no judo. Problema é, segundo meu ponto de vista, que não é como a outra atleta cai, é a técnica aplicada que conta. Simples. Duas contendoras, ambas com duas penalidades por falta de combatividade, alegria dos arbitros. Por algum motivo a brasileira foi ‘sorteada’. A russa foi adiante. Com um olho/supercilio machucado. Perdeu nas quartas de final. recusou-se a desistir e acabou perdendo os sentidos por conta de uma ‘chave’. Foi para o terceiro lugar e ganhou bronze. Muito tempo, dinheiro e esforço são investidos para conseguir uma faixa preta. Competir também não é facil. Chegar numa olimpiada é para muito poucos(as).
Simone Biles, americana, desistiu de competir na ginastica. Cachorrada da web acoando. Guria tem Transtorno de Hiperatividade e Deficit de Atenção. Precisa de medicação, ritalina e outros. Conseguiu licença na Olimpiada anterior e competiu. Nesta não teve licença e tentou seguir sem os remedios. Não rolou.
Voltando ao skate. Catar milho para criar uma generalização fantasiosa é fácil (alás, Brasil ganhou prata no masculino também).
Chorão, vocalista do Charlie Brown, também era skatista. Começou na maconha e depois foi para drogas mais pesadas, com muita confusão no meio do caminho. Inumeros desconhecidos seguiram o mesmo caminho ou ficaram só na droga mais leve. Na aldeia o Centro de Eventos Elefante Branco já abrigou skatistas. Eventualmente quem passava na rua percebia a marofa. Nada contra a maconha (que é semi liberada), apesar de ser cigarro também. Há também o problema do barulho. Busilis é que tentam usar a medalha da piá como maionese e socar uma pista goela abaixo na aldeia. Não sei se é falta de cérebro ou de carater.