Se liga, 16 – por Michael Almeida Di Giacomo
Voto de jovens e adolescente e as outras formas deles fazerem política
O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, foi o criador do slogan “Se liga, 16” – mantra entoado por jovens e adolescentes na campanha nacional de incentivo à participação no processo eleitoral de 1989 – por meio do voto facultativo aos que tinham entre 16 e 18 anos de idade – direito garantido na Constituição Federal de 1988.
Mas até chegar a esse momento a luta não foi fácil.
A caminhada iniciou em 1985, quando uma emenda à Constituição foi apresentada por Hermes Zanetti, à época deputado federal peemedebista, tendo por objeto garantir a ampliação da idade mínima, e o direito facultativo de voto, a todos os adolescentes entre 16 e 18 anos.
Porém, a resistência por parte do Palácio do Planalto, e a ideia de que quem não tinha idade para assumir as responsabilidades da vida civil também não poderia escolher os mandatários da nação, foi mais forte e a emenda foi derrubada.
O fato é que o tempo da política é veloz. A depender do contexto, pode ser cíclico ou linear. E, em uma democracia, a mobilização popular tem força para mudar os rumos de uma nação, para retomar uma discussão antes represada.
Foi o que aconteceu.
Os ares de liberdade, de participação e inclusão davam o tom à nova república e à Carta Constitucional que estava sendo elaborada – a primeira a universalizar o voto a partir dos 18 anos. Era o momento adequado para que os movimentos de juventude reivindicassem a inclusão da permissão do voto a partir dos 16 anos.
A matéria retornou à Comissão de Sistematização das regras eleitorais e por 58 votos favoráveis, 22 contras e 2 abstenções, o tema foi colocado em votação no Congresso Constituinte, que aprovou o voto facultativo aos adolescentes.
Desde então milhares puderam participar da escolha dos governantes da sua cidade, do seu estado e da nossa nação. Outros tantos passaram a ocupar assentos nos legislativos e nos executivos país afora. No entanto, com o passar dos anos, ao que parece, tem-se um distanciamento do eleitor adolescente em relação às agremiações políticas e seus líderes.
O interesse pela política partidária perdeu espaço para atuações junto às organizações da sociedade civil, e no mundo atual o engajamento político não se dá de forma “institucionalizada”. O resultado é que milhares de adolescentes com direito a voto, acabam por não ter interesse em participar desse momento cívico conquistado com muita luta pelas gerações passadas.
De forma breve, é possível dizer que ao não se prender a ações convencionais, muitos lançam mão do próprio conhecimento para gerar inovação e soluções para os problemas contemporâneos enfrentados pela sua geração.
É uma nova realidade que deve ser compreendida pelos que se dignam a representar o coletivo social nos parlamentos e executivos da nação. É um contexto que exige mais humildade para ouvir, do que a pretensão de saber o que a geração do século XXI precisa escutar.
Com isso, penso que os adolescentes poderão se sentir mais representados, terão maiores espaços de diálogo a transitar e poderão comprovar que a mudança geracional não ocorre somente na idade dos governantes, mas também na prática política.
(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Nota do Editor: a imagem que ilustra este artigo é uma reprodução obtida na internet.
‘De forma breve, é possível dizer que ao não se prender a ações convencionais, muitos lançam mão do próprio conhecimento para gerar inovação e soluções para os problemas contemporâneos enfrentados pela sua geração.’ Hummm… Uma forma de interpretar isto seria “não acreditam na politica e ‘vão se virando'”. ‘Ações convencionais’, convencionadas por quem? Com qual objetivo em vista? ‘Ações convencionais’ efetivas? Resumo da opera é simples. Brancos, nulos e abstenções aumentam a cada eleição. Permeia a sociedade a crtica à politica. Jovens, maioria pelo menos, observa e prefere aproveitar o fim de semana. Obvio, que não vai faltar quem afirme ‘a minha prole é melhor’, vota.
‘Movimentos da juventude’? UNE, UBES (secundaristas) e União da Juventude Socialista. Uma outra interpretação possivel é ‘jovens de esquerda garantindo mais votos para os partidos que os representam’. Sem entrar na baixa representatividade que as associações citadas sempre tiveram, grande maioria dos atingidos não estava nem ai. Apesar da publicidade da midia engajada. Como em toda proposição legislativa é necessário encontrar o(a) melhor patrono/patronesse. Hermes Zaneti andou há poucos dias lançando livro denunciando o sistema financeiro, mais perto do PCdoB do que outra coisa. Ou seja, naquela epoca ainda havia gente de esquerda no MDB. Resumo da ópera é que foi mais uma decisão tomada de cima para baixo sem levar em conta a realidade.