Artigos

Explicando os juros para Lula e sua turma – por Giuseppe Riesgo

“Não é vociferando contra o mercado ou o BC que baixaremos os juros”

A taxa de juros representa nada mais do que o valor de qualquer coisa no tempo. Por isso, procura evidenciar, no presente, o que custará determinada coisa no futuro -, depois de realizadas as trocas entre os agentes nesse período do tempo. Ou, em outras palavras, é o valor que o tempo agrega (ou desagrega) a determinada coisa durante seu tempo de vida no mercado.

Assim, percebe-se que não é nada fácil entender a complexidade representativa da taxa de juros, ainda mais considerando os componentes de incerteza nas ações humanas. E justamente por ser a medição do risco no tempo que os juros deveriam estar sob a batuta de uma ordem social muito mais harmônica e eficiente: o mercado. Porém, esse infelizmente não é o padrão monetário atual e ficar especulando sob tal cenário é pura divagação teórica. O fato é que toda vez que o Banco Central se obriga a subir a Selic, uma série de movimentos nos mercados monetários e de títulos ocorrem para que os agentes incluam em suas operações tal aumento advindo do Banco Central.

E aí temos que nos remeter ao autor inglês David Ricardo e seus Princípios de Economia Política e Tributação. No livro, além de formular a famosa lei das vantagens comparativas no comércio internacional, Ricardo também contribuiu proficuamente naquilo que o Nobel Friedrich Hayek cunhou como “efeito Ricardo”. Ou seja, o postulado de que uma abstenção de consumo (leia-se poupança voluntária) ao reduzir a demanda por bens de consumo final ocasiona uma redução nos preços destes bens (e no faturamento dos capitalistas).

Como os salários nominais, em geral, são rígidos para baixo (no Brasil isso se tornou lei através da arcaica CLT), tal poupança voluntária acarreta em aumento nos salários reais pagos nesses setores de consumo final. Assim, fica sinalizado aos empregadores que é mais viável economicamente, em termos relativos, substituir mão de obra por capital.

Isso faz com que a economia se torne mais abundante em capital pelo efeito de acumulação gerado pela poupança voluntária. Esse é o efeito Ricardo. A poupança voluntária propiciando uma estrutura produtiva mais intensiva em capital, mais produtiva, com bens de maior valor agregado, mais industrializada e, portanto, mais competitiva em relação ao resto do mundo. Além disso, a poupança voluntária ao liberar fatores de produção (capital, trabalho e terra) torna o custo destes, no tempo, mais barato. E o custo no tempo de qualquer fator de produção está refletido na… taxa de juros!

Logo, se Lula e seus asseclas querem juros menores, é necessário pouparmos fatores de produção, ou seja, realizarmos o sacrifício de renunciar ao consumo presente em prol de um consumo futuro mais barato e sustentável. Portanto, tentar diminuir os juros enxurrando a economia com mais crédito farto e barato (como propõe o PT) resulta apenas em alterações ineficientes na estrutura produtiva, má alocação dos fatores e pressão inflacionária pelo lado da demanda.

David Ricardo compreendeu isso há quase duzentos anos. Hayek no século passado retomou tais preceitos, aperfeiçoando-os. E os “iluminados”, que apoiam Lula e encampam suas bravatas, continuam ignorando o papel fundamental da poupança voluntária para baixar os juros sem pressão inflacionária no longo prazo. Se sequer isso eles entendem, o que se dirá de efeitos econômicos mais complexos e robustos. Em síntese, não é vociferando contra o mercado ou o Banco Central que baixaremos os juros. Ou o governo Lula constrói bases econômicas sólidas para isso, ou apenas colheremos mais inflação e desigualdade social (e essa receita petista nós já conhecemos muito bem).  

(*) Giuseppe Riesgo é ex-deputado estadual pelo partido Novo. Atualmente ocupa a Chefia de Gabinete do Deputado Federal Marcel van Hattem. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

9 Comentários

  1. essa discussão o Lula já ganhou. E o termo “Lula e seus asseclas” diz bem da intenção do rapaz….

  2. Resumo da opera é que o Novo precisa melhorar o marketing. Podem até falar a mesma coisa, mas a forma tem que ser diferente. Não populista, mais acessivel.

  3. Ações são basicamente contratos. Compro mil ações da Petrobras. Adquiri uma fração do controle da empresa. Se forem ações ordinarias (preferenciais são diferentes) tenho direito a voto nas assembléias e remuneração na hora da distribuição de dividendos. Existem instrumentos bem mais complexos, obvio (derivativos por exemplo). Servem para captação de recursos ‘fora’ do sistema bancário (entre parenteses, é mais complexo). Existe quem fique apostando dinheiro na variação dos preços das ações (nem todas se prestam a isto).

  4. Não se pode esquecer as ‘narrativas’. Os ‘rentistas’ são os antigos capitalistas. Só não pode usar a palavra antiga porque diminuem os votos. Bancos são cofres cheios de dinheiro (ou colchões com muita grana embaixo). Cresce ‘do nada’. Um funcionário joga fermento em cima e os valores aumentam. Eu deixo de comprar alguma coisa e deposito. Banco me promete 12% ano ano. Empresta para alguém que precisa (com as devidas garantias) a 15% ao ano (valores ficticios, obvio). No final do periodo o credo paga o banco. Ele restitui o meu dinheiro com os 12% e embolsa 3%. O famoso spread. Basicamente é um intermediario. Fazendo isto com muita gente e muito pila ganha muito dinheiro. Obvio que não é simples e muito menos facil. O que diria um vermelho que não faz nada, ignorante: ‘os bancos estão ganhando muito dinheiro’!.

  5. Vociferam contra o ‘mercado’ e Banco Central porque precisam de um ‘vilão’, alguem para levar a culpa. Esquerda vive da negação, precisa de algo para negar para poder sobreviver. Não tem plano/planejamento nenhum. Gestão zero. É marketagem, populismo, anuncios, jogar dinheiro em cima dos problemas, ajudar os amigos e ferrar os inimigos. Resumem-se a isto.

  6. David Ricardo é inicio do século XIX. É o mesmo que um comuna citando Marx, só muda o sinal. Mundo está um pouco mais complicado que isto.

  7. Juros tem muitas componentes. Risco é um deles. Recompensa pelo adiamento de consumo outra. Selic é uma media. Leilão de titulos com prazos diferentes e taxas diferentes. Sofre influencia externa. Se os ianques aumentam a taxa basica deles tem que subir aqui também. Sim, porque entre outras coisas os extrangeiros tem que contratar proteção cambial quando colocam grana aqui. De onde sai outro problema. Pode não aparecer gente interessada em comprar titulos. Investidores podem achar mais interessante ir para a B3 e investir em BDRs por exemplo.

  8. Finanças é uma disciplina complexa. Pessoal da economia, da contábeis e uns poucos da administração trabalham com isto. Cursos decentes nesta área tem que ser de Curitiba para cima, preferencialmente SP. Como direito tributário. Não adianta ter doutorado, pós-doutorado, experiencia conta muito (conceito ignorado na aldeia, tabacudos acham que as criaturas saem da faculdade sabendo tudo). Por lá tem muita gente trabalhando muito na área, alguns se dispõe a lecionar. Conhecimento do mundo real, não da academia. Alas, é um dos motivos pelos quais residencia na medicina é importante.

  9. Perdendo tempo. Molusco com L., o honesto, et caterva não estão interessados. Para que aprender algo do capitalismo que eles desejam que termine? Alas, deputado Reginaldo Lopes virou tema de chacota. E o comissário da reforma tributaria e não soube responder uma pergunta sobre fundos. Para esta gente conhecimento não é necessário, basta ‘vontade politica’. São um amontoado de apedeutas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo