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PARTIDOS. Disputa interna no PDT do Rio Grande promete agitar convenção marcada para sábado

João Luiz Vargas x Romildo Bolzan Jr, o confronto que mobiliza os militantes

João Luiz Vargas e Romildo Bolzan Jr se apresentaram para disputar o comando do pedetismo no Rio Grande do Sul (Fotos Reprodução)

Reproduzido do Site do Correio do Povo / Texto assinado por Flavia Bemfica

Em busca da retomada do protagonismo que já teve em diferentes momentos no cenário político gaúcho, o PDT realiza no próximo sábado, 2 de setembro, sua convenção estadual, para eleição do novo diretório e executiva. O evento ocorrerá a partir das 9h, na sede da legenda, na rua Félix da Cunha, e promete ter debates acalorados, já que dois pedetistas com extensa trajetória partidária se apresentaram para substituir o atual presidente, Ciro Simoni, no comando da sigla. O ex-presidente e ex-prefeito de Osório, Romildo Bolzan Júnior, e o atual prefeito de São Sepé e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), João Luiz Vargas.

Apesar de adversários na corrida, tanto Bolzan como Vargas apontam como prioridade que o partido tenha posições mais firmes no sentido de resgatar suas bandeiras ideológicas e invista no lançamento de candidatos competitivos nas eleições municipais de 2024. E, de diferentes formas, indicam que a sigla deverá rediscutir sua participação na base aliada do governo do tucano Eduardo Leite (PSDB).

“A questão da participação no atual governo do Estado foi decidida em um determinado momento (o apoio após primeiro turno e o ingresso após a vitória do PSDB no segundo turno nas eleições de 2022), e pode ser modificada pelo mesmo órgão que a deliberou, que é o diretório. É algo que está posto politicamente. Se eu fizesse juízo de valor sobre este ponto neste momento, só atrapalharia”, explica Bolzan. Ele define ainda a integração do PDT ao governo tucano como “pouco importante” tanto em termos de espaço como decisórios.

Vargas diz que a participação na gestão do PSDB devia ter sido melhor discutida com as bases. “O governo não é nem um pouquinho do que é o trabalhismo. Agora, já que estamos nele, precisamos, ali, defender nossas bandeiras. O PDT, por exemplo, não tem nenhum protagonismo nas decisões da Educação, apesar de nosso excelente companheiro Paulo Burmann ser o diretor-geral da secretaria. Outro exemplo: o partido é frontalmente contra as privatizações, já tinha que ter proposto uma ação forte sobre a energia elétrica. E estamos aí com a questão da Corsan. O fato é que rasgamos nossa história e nosso estatuto”, declara.

Após anos de destaque, sigla enfrentou migrações e perdeu espaços 

Apontado como favorito na disputa pelo comando do PDT gaúcho, Romildo Bolzan Júnior tem o apoio das bancadas federal e estadual e do secretário estadual do Trabalho, Gilmar Sossella (que deixou cadeira na Assembleia para assumir a pasta após a legenda negociar o ingresso na administração Leite). A colocação de seu nome integra um movimento antigo entre trabalhistas para que retome a vida partidária.

A sigla ensaiou lançar Bolzan para a corrida ao governo do Estado no ano passado, mas o fato de à época ele ainda presidir o Grêmio acabou por inviabilizar as articulações. Seus defensores tomam por base o período anterior em que esteve à frente do partido, entre os anos de 2007 e 2014, para argumentar que foi um dos melhores da sigla, ao qual vinculam a característica de hábil articulador político de Bolzan.

O período foi marcado por uma série de conquistas para os trabalhistas gaúchos. Nas eleições municipais de 2008, o PDT elegeu os vices José Fortunati e Alceu Barbosa Velho para as prefeituras de Porto Alegre e Caxias do Sul. Em 2010, emplacou o candidato a vice (Pompeo de Mattos) na chapa encabeçada por José Fogaça (MDB) ao governo. Com a derrota de Fogaça para Tarso Genro (PT) no primeiro turno, a sigla se movimentou rapidamente e garantiu amplos espaços na administração petista. Em 2012 tanto Fortunati (que havia ocupado o lugar de Fogaça) quanto Barbosa Velho se sagraram prefeitos no primeiro turno. Em 2014 o PDT abocanhou a vaga ao Senado, com Lasier Martins, e ampliou de sete para oito cadeiras sua participação na Assembleia Legislativa.

A partir de 2016, contudo, houve um refluxo. Os trabalhistas indicaram Juliana Brizola para vice de Sebastião Melo (MDB) em Porto Alegre, mas o descompasso interno era evidente e quem saiu vitorioso no segundo turno foi Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Em Caxias, a legenda perdeu a prefeitura para o antigo PRB. Em 2018 a bancada estadual encolheu de oito para quatro deputados. Em 2020 o PDT, com Juliana, ficou em quarto lugar na disputa pela prefeitura da Capital, e apoiou Manuela D’Ávila (PcdoB) contra Melo no segundo turno. Em Caxias, obteve a terceira colocação.

No ano passado, após as tratativas para lançar Bolzan ao governo não lograrem resultado, a legenda lançou outro pedetista histórico para o Piratini, o ex-deputado federal Vieira da Cunha. Durante a campanha, Vieira apostou forte nas bandeiras históricas trabalhistas, e adotou um discurso duro em relação à primeira administração Leite. Mas não obteve um bom desempenho, ficando em sexto lugar na corrida, com 1,6% dos votos, apesar de a agremiação ser a segunda maior em número de filiados no RS. O partido também não conseguiu recuperar cadeiras no Parlamento gaúcho e encolheu de três para dois representantes na Câmara dos Deputados.

“Há um movimento forte, as pessoas querem reviver aquele nosso momento, que foi realmente muito importante e muito bom. Nossa estratégia está sendo traçada, e vai incluir, entre outros pontos, lançar o máximo de candidaturas possível nas majoritárias nas cidades no ano que vem. Em Porto Alegre, por exemplo, temos postos já pelo menos dois ótimos nomes que poderão participar da disputa pela prefeitura: a Juliana e o Vieira”, antecipa Bolzan. O ex-prefeito de Osório minimiza atritos na corrida pelo comando partidário, publicamente considera a existência de mais de uma chapa como parte do processo, mantém um tom conciliador e assegura trabalhar com foco nas lideranças com direito a voto na convenção.

Vargas, por sua vez, lidera o que garante ser um grupo significativo de pedetistas insatisfeitos, entre eles prefeitos, vices, vereadores e lideranças municipais, que querem aumentar sua participação tanto nas decisões quanto na ocupação de espaços na executiva, garantir representantes que atuem dentro das diretrizes ideológicas do partido e dar apoio e orientação aos eleitos. Questionado sobre a preferência por Bolzan, ele responde com uma metáfora futebolística. “Se o Internacional vier jogar com o Iguaçu aqui em São Sepé, uma parte da imprensa e do povo já vai dizer antes que será uma goleada. Mas não é por isso que o Iguaçu vai fugir da raia. Ninguém perde ou ganha por antecipação. Quando se sabe que quem ganhou foi o ‘cavalo do comissário’, aí é ditadura.”

O prefeito também afirma que a sigla precisa avaliar bem dados de períodos anteriores, em alusão clara ao tempo em que Bolzan esteve à frente do partido. “Precisamos apresentar pessoas identificadas com nossas posições de centro-esquerda. Não adianta ficar dizendo que elegeu tantos deputados, senador, se depois essas pessoas saem e se constata que o partido funcionou só como uma espécie de porto de passagem.”

A lista de nomes que nos últimos anos foram apontados como expoentes partidários, concentraram esforços e recursos da sigla, conquistaram mandatos e depois a deixaram inclui, entre outros, o ex-senador Lasier Martins, o deputado federal Giovani Cherini, o ex-deputado Marlon Santos, o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, e o ex-prefeito da Capital, José Fortunati.

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