Por Pedro Pereira
Na quinta-feira passada (1º), o Kamikaiser escreveu mais um capítulo na história do futebol de salão de Santa Maria, no Centro Desportivo Municipal (CDM). Diante do Mangueirinha, de Paraíso do Sul, um empate já era o suficiente para que os representantes do Coração do Rio Grande avançassem às semifinais da 2ª Copa Regional. Porém, após uma noite de gala do goleiro rival e o 3 a 2 no placar a favor da equipe visitante, parecia que a vaga seria definida nos pênaltis.
Com oito segundos restando para acabar a partida, entretanto, tudo mudou. William Rosa, que já havia marcado o primeiro gol dos santa-marienses, recebe um passe de Lucas Moraes e, pela esquerda, balança as redes do oponente e garante a necessária igualdade no marcador. A classificação à próxima fase estava garantida e o mundo da torcida que assistia ao jogo das arquibancadas do “Farrezão” virava de cabeça para baixo – mas no bom sentido.
O leitor pode conferir mais detalhes sobre o duelo entre Kamikaiser e Mangueirinha clicando aqui. Sem salário ou qualquer tipo de bonificação financeira, e apesar de uma eficiente defesa do esquadrão paraísense, o time de Santa Maria lutou por cada bola rolada no ginásio do CDM somente na base da amizade. Conheça abaixo a história de William Rosa, herói do confronto e da conquista da vaga.
Veterano nas quadras
Nascido em 1995 e natural de Cachoeira do Sul, Rosa é fisioterapeuta formado pela UFSM e começou a jogar futsal com apenas seis anos de idade. “Para mim, sempre foi mais uma diversão”, relatou o atleta que, nas últimas temporadas, vestiu as cores do São José, de sua cidade natal, no Campeonato Gaúcho – Série Ouro. Em 2023, a equipe cachoeirense ficou com a medalha de bronze no certame.
Contudo, o “salonista nas horas vagas” tem uma vasta experiência na modalidade no Rio Grande do Sul. Representando o município que nasceu, jogou pela extinta “ACAFUTSAL” na época em que os torneios estaduais eram unificados – atualmente, também existe a Liga Gaúcha, formada por clubes e não chancelada pela Federação Gaúcha. Neste período, ele enfrentou times tradicionais do esporte como a ACBF, de Carlos Barbosa, o Atlântico, de Erechim, e a Assoeva, de Venâncio Aires.
O primeiro contato que Rosa teve com o elenco do Kamikaiser, inclusive, foi em uma dessas disputas em solo gaúcho. Em meados de 2012, pela ACAFUTSAL, o atleta enfrentou a turma que futuramente formaria a agremiação santa-mariense vermelha, preta e branca. Na época, o elenco vestia as cores do “América”. Os cumprimentos ao cachoeirense, porém, não foram dos mais agradáveis
Início difícil, final feliz
“A gente se conheceu a partir de uma briga. Se eu não me engano, o jogo valia a liderança da chave daquele campeonato. A volta era em Santa Maria e, em Cachoeira do Sul, na ida, o clima já havia sido complicado. É aquele negócio né, ganhamos em casa e já viajamos meio ‘prometidos’ (ameaçados). Entre uma dividida mais dura aqui e outra ali, começou a confusão. Foi bem feio. Teve até a torcida invadindo a quadra. A partida nem chegou a acabar, com uns dez minutos de jogo começou a briga”, relembrou o jogador, que confirma: “mas entre nós do ‘Kami’ não aconteceu nada. Hoje em dia a gente dá risada, mas foi tenso”.
Dois anos depois do conflito, o salonista ingressou na UFSM para cursar fisioterapia. Durante o período na Universidade, ele chegou a disputar competições pelos próprios representantes da Federal e, até mesmo, pelo União Independente – que agora tem sede na cidade de São Sepé mas foi fundado no Coração do Rio Grande. Em 2016, Rosa recebeu o convite para participar do Kamikaiser junto de seu amigo cachoeirense, Juninho Freitas, que segue acompanhando o esquadrão.
“Quando eu entrei na faculdade, o Mateus Bevilacqua, camisa 5, também era aluno e já me conhecia em função do futsal. A gente acabou jogando junto pela equipe do curso e ele resolveu conversar com a gurizada do Kami”, declarou o atleta. No ano de 2019, o fisioterapeuta se formou e voltou para Cachoeira do Sul, onde mora até hoje.
Ele revela que nem sempre consegue ir aos jogos mas, sempre que possível, dá um jeito. “A gente pega o carro, vai para a partida e volta para casa logo depois. É uma loucura, mas o time é como uma paixão para nós e sempre que dá estamos juntos”, contou. Na Copa Jaguari, o cachoeirense foi ao município que dá nome ao torneio para participar e, de sua cidade natal à sede do certame, são cerca de três horas de viagem.
“Dá um pequeno aperto na agenda, é meio que ‘em cima do laço’, mas a gente vai. Tudo é na parceria. No Kami, todo mundo tira dinheiro do próprio bolso. Ninguém é pago para jogar, a gente faz porque a gente gosta, porque somos amigos”, explicou Rosa. A título de exemplo, o primeiro confronto da Copa Regional que o jogador conseguiu ir foi o duelo diante do Mangueirinha, na semana passada.
“Kami” na Copa Regional
O fisioterapeuta fala que, durante a primeira fase, não pôde fazer parte do campeonato visto que está fazendo uma pós-graduação em Porto Alegre. Todavia, mesmo de longe, ele conseguiu acompanhar os colegas de futsal e define o Kamikaiser como “um time que está tendo bastante regularidade e é seguro, que tem feito uma campanha boa e está invicto na competição”.
Apesar do sofrimento diante do Mangueirinha, equipe a qual Rosa classifica como “bem forte”, a vaga nas semifinais ficou com os santa-marienses. “Tinham vários bons jogadores e a gente conseguiu ganhar deles fora de casa, na partida de ida das quartas de final. Eles tiveram alguns desfalques no jogo da volta, mas nós sabiamos que não ia ser ‘uma barbada’, que seria feio”, comentou o cachoeirense sobre o resultado do duelo.
“Temos respeito por todos os times. Sabemos que nenhum dos adversários é bobo. Se não, eles nem estariam chegando nessa fase para jogar contra nós. Ao mesmo tempo, também nos valorizamos e sabemos do nosso potencial. A gente tem chance de ser campeão”, afirmou o atleta, que garante “respeito por todos, mas medo de nada”.
Dez anos de história
Em 2024, o Kamikaiser completa uma década de existência. De acordo com o herói da classificação às semifinais, a história do clube do Coração do Rio Grande começou anos antes de sua fundação. “No Kami, há relações que vêm desde a época de colégio. Muitos dos guris se conhecem desde os quatro, cinco anos de idade”. É por isso que, para o grupo, começar a temporada com o título da Copa Regional seria muito importante.
“A gente está fechando um ciclo. Vencer o campeonato seria muito mais do que a coroação de um esforço enquanto equipe de futsal, mas sim a coroação de amizades duradouras”, comentou o cachoeirense. O atleta conta que, quando chegou ao “Kami”, o elenco era formado por universitários. Agora, o cenário evoluiu: a maioria dos integrantes já possui uma profissão e diferentes responsabilidades no dia a dia – o que, para Rosa, não muda o fato do time seguir sempre nas vidas de cada um.
“A gente brinca que os anos passam e os cabelos do Kami já não são mais os mesmos. A gurizada tá começando a perder cabelo em função de todo mundo estar ficando mais velho. Sempre foi todo mundo meio ‘parelho’ de idade. Muitos de nós começamos pelos 19, 20 anos e agora já estamos todos quase na casa dos 30. Mas ainda seguimos jogando na mesma levada”, declarou.
O esquadrão de Santa Maria descobre qual será seu rival na próxima fase da Copa Regional na noite desta quinta-feira (8), com o embate entre o “Vem Kikando”, de Pinhal Grande, e o Barcelona, de Júlio de Castilhos. O confronto é na casa deste último. Na ida, em território pinhal-grandense, o time da casa venceu por 3 a 2. Pronto para encarar o desafio, Rosa reafirma: “a gente segue com o pé no chão, sem se iludir. Mas sabemos que temos capacidade de conquistar o título”.
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