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Vem aí a histórica Feicoop de número 30! – por Valdeci Oliveira

Dito e louvado: “Uma outra economia é possível! Um outro mundo é possível!

Lembro que chovia muito, era frio e o público era formado por um punhado bem considerável de homens e mulheres, de idades variadas, com histórias de vida distintas, mas com um único propósito, que era dar um passo além a uma luta que há muito vinha sendo travada, construída a muitas mãos e que incluía pequenas conquistas, como o Banco da Esperança, Projeto Esperança/Cooesperança e Feirão Colonial.

Assim, ladeado por gente que, apesar das dificuldades, não esmorecia diante dos obstáculos, das dúvidas sobre se aquela nova empreitada daria certo ou não, foi inaugurada há 30 anos a Feira Regional do Cooperativismo, Desde a sua origem, a Feicoop tinha o perfil baseado nos ditames da economia solidária, que anos depois teria caráter estadual e, mais adiante, internacional, consequência natural de um trabalho muito bem pensado e organizado.

Naquele dia, também num inverno, a água descia do céu aos cântaros. A mim, coube a honraria de segurar o guarda-chuva ao querido amigo Antônio Gringo, que, com sua voz e violão, cantou para o público presente. Desde então, a caminhada foi sólida, participativa e inclusiva. Fechamos a ‘contabilidade’ daquele ano com a participação de 27 empreendimentos vindos de 13 municípios e um público de 4 mil pessoas.

Desde então, com exceção das vezes que a Feicoop não foi realizada, como na pandemia, fui a todas e vi, ano a ano, expositores e público aumentarem de forma exponencial. E lá vou porque tenho a firme convicção de que ela é a expressão concreta da resistência necessária às desigualdades, da esperança nas nossas vidas enquanto sociedade plural e da construção de um mundo mais justo, onde cada um verdadeiramente participe, plenamente realize e orgulhosamente faça a diferença.

Nessas três décadas de exemplo de que algo diferente pode ser feito e pensado, não há como não destacar nomes o de Dom Ivo Lorscheiter, Irmã Lourdes Dill e Paul Singer, entre outros, todos lutadores e lutadoras comprometidos com a inclusão social e o enfrentamento à pobreza. Nessas três décadas de trabalho incansável, não há como negar que Santa Maria não somente é o berço maior no estado dessa prática humanista, acolhedora e inclusiva que é a economia solidária, mas também o seu exemplo mostrou ao país e ao continente latino-americano de que uma outra economia é possível.

Não apenas mostrou, como também angariou respeito e colocou nosso município no mapa quando a discussão é a participação, a troca de experiências, novas formas de consumo e de produção. E isso é uma conquista que não se apaga facilmente, por mais que ainda haja, aqui e acolá, discursos contrários à forma e ao objetivo, que mesmo sendo nobres, sempre encontrarão oponentes poderosos a desqualificá-lo.

Também se trata de um movimento que não depende de governos para existir, mas cujo andamento pode ser facilitado ou prejudicado a depender de quem estiver com a caneta na mão nas esferas decisórias. Um exemplo disso, no campo federal, foram os seis anos entre 2018 e 2022, quando o Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES) teve suas atividades canceladas por quem detinha o poder político, de escolha e decisão.

A retomada do CNES, no ano passado, veio envolta no sentido e na necessidade de reconstrução e com a garantia de democracia nos debates envolvendo as 56 pessoas que o integram e que representam o governo federal, diversas iniciativas econômicas de cunho solidário, organizações da sociedade civil organizada e dos serviços sociais.

Colegiado de perfil é consultivo e propositivo, o CNES faz parte da estrutura do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e foi criado no primeiro ano da primeira gestão do presidente Lula, em 2003. Sim, o tema também é uma questão política.

Ao mesmo tempo, não se trata de uma constatação científica, daquilo que vai acontecer. Como bem disse Paul Singer, muito provavelmente a maior autoridade que o tema já teve em solo brasileiro, tendo sido, inclusive, secretário nacional de Economia Solidária nos governos Lula e Dilma, ela, a economia solidária, é um ato de vontade de construir, por lutas e outras formas, uma sociedade se não ideal, melhor do a que nós temos aqui.

E isso me leva diretamente a outra voz, esta da também saudosa economista e professora luso-brasileira Maria da Conceição Tavares, dona de uma das posições mais lúcidas no terreno dos cálculos, planilhas e teorias macroeconômicas. Para ela, “uma economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os povos a isso que está acontecendo no mundo: uma brutal concentração de renda e de riqueza, ao desemprego e à miséria”.

Ou seja, não nos faltam motivos para, entre os dias 12 a 14 de julho, trocarmos informações, conhecimento, assistir a oficinas e palestras e apreciarmos o que é produzido pela agricultura e agroindústrias familiares, pelos catadores, pelos povos indígenas e pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade do RS, do Brasil e de vários país vizinhos.

Uma outra economia é possível! Um outro mundo é possível!

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

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