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Trump, as crianças “ilegais” e o Oscar – por Elen Biguelini

Após a segunda guerra mundial, pensou-se que nunca mais atrocidades como as perpetuadas por Hitler poderiam voltar a acontecer. Infelizmente, isto nunca foi verdade. Em países africanos os genocídios continuaram acontecendo. No Brasil assassinatos movidos pelo crime continuaram a ser horrendos (sem contar, é claro, as atrocidades da ditadura militar).

Mas é um retorno a práticas fascistas por meio de governantes que causa real medo. Isto porque, casos de violência específicos podem ser explicados pela maldade de um ou outro ser humano, mas a violência estatal, perpetuada, legitimada e aceita pelo público em geral é muito mais tenebrosa.

Não é a toa que as atitudes iniciais de Trump estão gerando medo não apenas nas minorias que moram nos Estados Unidos, mas também em moradores e governos de diversos outros países.

Claramente Trump não é o único potencial ditador em 2025, infelizmente os avanços da extrema direita tem colocado inúmeros potenciais comandantes extremos. Isso sem contar Rússia, China e Correia do Norte, que já se enraizaram em suas posições ditatoriais.

Mas um retorno ao poder, de uma figura carismática, que convenceu seus cidadãos que os estrangeiros são o outro, o inimigo, os “ilegais”, “alienígenas”, na cadeira que é consideravelmente a mais importante do mundo atual… é tenebroso.

As notícias recentes de que professores tiveram que se posicionar contra a entrada de policias da ICE (policia migratória americana) em suas salas já demonstra que aquilo que ele prometia mas nunca cumpriu em seu primeiro mandato pode estar a poucos passos de, desta vez, ser conquistado.

E muitos de seus defensores ainda não perceberam que desta vez ele parece que não irá ficar apenas na retórica xenofóbica. Muitos já se arrependeram do voto, ao perceberem que eles próprios serão afetados. Outros ainda não tiveram este momento de clareza, mas não irá demorar a perceberem.

Infelizmente, os fascismos chegam assim. Não completamente despercebidos, visto que muito foi avisado, mas de forma sorrateira, lenta e progressivamente complexa.

Enquanto isto, em uma verdadeira Pax Romana, o início do ano trás o glamour das competições de cinema para divertir o público. Enquanto o governo fecha suas fronteiras, o mundo dos famosos tenta celebrar filmes que celebram a diversidade (ou fingem a celebrar).

Mas a hipocrisia das elites que por vezes votaram em um governo que se opõe veementemente a diversidade enquanto escolhem filmes que retratam o diferente esta clara. Ainda mais, quando escolhem filmes criticados pelo próprio grupo que pretendem representar.

Os atuais escândalos recentes sobre uma atriz trans que criticou muçulmanos, brasileiros, indianos, e até mesmo outras figuras trans, demonstra que Hollywood está mais interessada em parabenizar aqueles que fingem serem abertos, aqueles que realmente o são. Muitas outras atrizes e atores trans, ou não binários já mereceram indicações ao Oscar, mas justamente aquela que é racista e xenofóbica é a escolhida como a primeira.

A ironia, é que esta indicação irritou gregos e troianos. Os conservadores não aceitam uma mulher trans na lista do Oscar. Os mexicanos já haviam avisado sobre seus comentários vis. Mas até mesmo as pessoas trans se posicionaram contra o filme.

No final, Hollywood acabou por repetir aquilo que a própria sociedade americana tem tanto gosto em fazer. Fingir “wokeness”, mas no fundo desmerecendo tudo que é diferente.

Esperamos que a sociedade avance novamente, e que os passos fascistas sejam apenas isto, passos. Mas o medo começa a se tornar presença constante em todos aqueles que são vistos pela sociedade como diferentes.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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13 Comentários

  1. Holywood já foi movida por astros e estrelas de cinema. DiCaprio, Pitt, Jolie, etc. Quando querem bons atores e boas atrizes buscam na Inglaterra. Raras exceções (Meryl Streep, Jack Nicholson, Gene Hackman, etc.). Ruins ganham premios apesar disto. Donde se chega em outro aspecto, o lobby. ‘Emilia Perez’ segundo alguns criticos é um filme mal feito. Até o espanhol falado na pelicula é ruim. Os ‘eleitores’ costumam ganhar sessões especiais para assistir o filme. Comes e bebes, festas. Tudo gratuito. Faz parte do pacote ‘presentinhos’. Normalmente um. O pessoal do dito filme mandou três presentes para a maioria dos votantes. Incluindo um poster do filme. Emoldurado. Comentario de um deles ‘o que vou fazer com isto?’.

  2. Bem obvio, lobisomem sabe para quem aparece. Filmes abordando Carteis e a Igreja Catolica. Depois do Charlie Hebdo quem tem, tem medo. Alas, ‘Conclave’ segundo os jornalistas é um filme que ‘mostra’ como é a escolha de um Papa. Tudo, na realidade, é mantido em segredo, logo deveria ser descrito como ‘um filme que imagina como deve ser a escolha de um Papa’. E uma obra de ficção e uma ferramenta de propaganda politica.

  3. Vermelhos estão desesperados para que o filme tupiniquim e a atriz tupiniquim ganhem um premio. Seria uma ‘vitoria simbolica’. Problema é que os ianques estão preocupados com a propria politica, America do Sul não tem importancia.

  4. Oscar tem novos criterios para que um filme possa concorrer. Pelo menos um dos quesitos tem que ser atendido, Ator/atriz principal ou coadjuvante com papel significativo tem que pertencer a grupos etnicos ou raciais subrepresentados (negros, asiaticos, latinos). Pelo menos 30% do elenco tem que pertencer a grupos subrepresentados (raciais, mulheres e Alfabeto). Historia do filme tem que ser centrada em mulheres, pessoas com necessidades especiais, Alfabeto ou grupos raciais. Os mesmos criterios são aplicados na equipe tecnica do filme, diretores(as), cabeleireiros, iluminação, etc. Alem disto devem existir estagiarios dos grupos subrepresentados. Fonte? Site da Academy of Motion Picture Arts and Science.

  5. Bom lembrar, um ‘ator’ sobe no palco esbofeteia o apresentador, não é expulso da cerimonia, recebe premio e é aplaudido de pé. Hipocrisia saindo pelo ladrão.

  6. Safra de filmes não é boa. Algo que não é novidade, não indicaram o Denis Villeneuve para melhor diretor, não precisava ganhar, mas a não indicação foi considerada injustiça.

  7. ‘A ironia, é que esta indicação irritou gregos e troianos.’ Conservadores, maioria pelo menos, por lá não dão a minima para o Oscar. Premiações estão em decadencia, basta ver a audiencia das cerimonias.

  8. ‘Ainda mais, quando escolhem filmes criticados pelo próprio grupo que pretendem representar’. Não existe um ‘sindicato’ das pessoas trans e afins. O que existe é um grupelho de esquerda que sequestrou as bandeiras do pessoal do Alfabeto para utilização em fins politicos. Semana passada teve gente colocando um feminicido na conta da ‘sociedade patriarcal machista’ do RS, na Igreja e no MTG. Quem é o governador do RS mesmo?

  9. ‘[…] em uma verdadeira Pax Romana, o início do ano trás o glamour das competições de cinema para divertir o público.’ Fora da Pax Romana existiam jogos.

  10. ‘Muitos já se arrependeram do voto, ao perceberem que eles próprios serão afetados.’ Ilegais só votam onde não é necessario nem um documento de identidade para votar. California por exemplo.

  11. ‘[…] não irá ficar apenas na retórica xenofóbica.’ Ilegais são problemas. Final do ano passado a Suecia estuda implantar um programa de repatriamento, pagar até 30 mil euros para os migrantes ilegais que retornarem para seus paises.

  12. ‘Isso sem contar Rússia, China e Correia do Norte, que já se enraizaram em suas posições ditatoriais.’ E Cuba, Venezuela, Nicarágua…

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