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In Fux we don’t trust – por Giorgio Forgiarini

O ministro do Supremo, suas convicções e a voz da “turma do vôlei”

Luiz Fux é conhecido por pelo menos duas características muito claras: primeiro pelo rigor com que julga processos criminais. Costumeiramente é um dos Ministros do STF a condenar com maior rigidez e aplicar as mais duras penas em seus julgados. Por outro lado, é conhecido também pela vulnerabilidade de suas convicções às influências da opinião pública. Ao decidir, costuma considerar pressões das mais variadas: da imprensa, de seus pares, da comunidade jurídica e, por vezes, de seus amigos e familiares.

Felipe Recondo e Luiz Weber são muito felizes ao ilustrar essa sensibilidade de Fux às pressões externas. No Livro “Os Onze – O STF, Seus Bastidores e Suas Crises” transcrevem a íntegra de uma declaração pitoresca dada pelo próprio Ministro:

“Eu sofri desprezo das pessoas que jogam vôlei onde eu vou à praia. Quando eu fui aprovado no Supremo, eles pararam a rede, foram lá, me abraçaram e tal. Quando eu julguei a ficha limpa, passavam ali, nem cumprimentavam, iam direto. Minha mãe me ligou chorando quando leu a carta aos leitores do Jornal O Globo”.

A birra da turma do vôlei tinha relação com o julgamento do STF sobre a Lei da Ficha Limpa. Aprovada em 2010, havia dúvida quanto à sua aplicabilidade já nas eleições daquele mesmo ano de 2010.

O voto de Luiz Fux foi decisivo. Foi contra e, por maioria, de 6 a 5, o STF decidiu que a Lei da Ficha Limpa não devia ser aplicada às eleições realizadas em 2010. Não podia ter sido diferente. O artigo 16 da Constituição Federal é claríssimo: “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência”. É o que chamamos de “princípio da anterioridade da lei eleitoral”.

Mas a repercussão negativa bateu forte em Fux e, desde então, abraçou cada vez mais a opinião pública. Foi entusiasta da famigerada “Lava Jato”, a ponto de ser homenageado com a frase “In Fux we trust”, escrita por Deltan Dallagnol em tom de comemoração.

Recentemente, fazendo jus à sua fama de rigoroso na esfera penal, Fux vinha acompanhando o voto dos demais ministros do STF nas condenações pelo golpe tentado de 8 de janeiro de 2023. Chegada a vez do julgamento de Débora Santos, acusada de pichar uma estátua com batom, resolveu divergir. Justo no caso de maior repercussão midiática. Mais do que isso, deu início a uma série de críticas ao rigorismo do STF em punir os envolvidos no evento golpista.

A perplexidade não reside na discordância, mas na forma e no momento em que expressada. Não se sabe se Fux mudou efetivamente de convicções, ou se deu mais espaço à voz da turma do vôlei. O que importa é que a mudança gerou perplexidade e, obviamente, incômodo na classe jurídica.

Sendo justo, Fux não é o único de considerável volatilidade. Luiz Roberto Barroso, outro Ministro do STF, já referiu que o Judiciário “eventualmente pode ser contramajoritário, mas se repetidamente não conseguir corresponder aos sentimentos da sociedade, vai viver problema de deslegitimação e uma crise institucional”.

E assim, em nome de um suposto “sentimento da sociedade” pode-se tudo. Manda-se prender, manda-se soltar, sem critério, sem parâmetro, sem nada. O direito que se exploda.

Em tempo: tanto o direito, quanto o sentimento popular exigem o fim dos super-salários de juízes e promotores. Mas talvez a sensibilidade ao clamor popular seja seletiva.

Fica a pergunta: como confiar em algo assim?

(*) Giorgio Forgiarini é advogado militante, com curso de Direito pela Universidade Franciscana, é Mestre em Ciências Sociais e Doutor em História pela Universidade Federal de Santa Maria. Ele escreve nas madrugadas de sábado.

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19 Comentários

  1. Resumo da opera V. Fux é bobo, feio e chato. E daí? Alguém mudou de ideia com o texto? Não acredito. Claque vermelha, a militancia analfabeta funcional talvez tenha vibrado. Mas é só. Nada se perdeu, muito menos se ganhou. Saiu do nada, como diz o filosofo, e foi para lugar nenhum.

  2. Resumo da opera IV. Vermelhos só tem compromisso com eles mesmos e com os proprios objetivos. Instituições não vão agarrar os proprios colarinhos e se arrancarem do atoleiro que se meteram. Padrão brasileiro é empurrar com a barriga até o problema cair de podre.

  3. Resumo da opera III. ‘Subitamente a Suprema Corte começou a investigar qualquer critica em qualquer lutar’. Por ai vai.

  4. Resumo da opera II. New York Times. 16 de outubro de 2024. ‘A nemesis de Elon Musk está salvando a democracia ou a ferindo?’. ‘No inicio de 2019, reportagens sugeriram que uma investigação em expansão sobre corrupção, Operação Lava a Jato, estava começando a sondar alguns ministros, incluindo o presidente do STF à epoca, Ministro Toffoli’. ‘Ele atacou reportagens que afirmavam que a corte estava tentando abafar as investigações’. ‘Atacar um de nós é um ataque a nós todos’ afirmou ele em 2019. ‘Injuria, difamação e insultos não serão tolerados’. No dia seguinte as afirmações iniciou o Inquerito das Fake News.

  5. Resumo da opera. Fux desagradou os vermelhos. Desclassificou o crime de Debora dos Santos para ‘deterioração de patrimonio tombado’. Tirou o ‘gópi de Estado’ e ‘organização criminosa’. Narrativas tombam. Desculpas da ‘unamimidade’ tombam.

  6. ‘Em tempo: tanto o direito, quanto o sentimento popular exigem o fim dos super-salários de juízes e promotores. Mas talvez a sensibilidade ao clamor popular seja seletiva.’ Problema é que não dá para acabar com o super-salario só de Fux.

  7. ‘E assim, em nome de […]’ uma suposta “defesa da democracia” ‘[…] pode-se tudo. Manda-se prender, manda-se soltar, sem critério, sem parâmetro, sem nada. O direito que se exploda.’

  8. ‘Foi entusiasta da famigerada “Lava Jato” […]’. Vermelhos e Geneticamente Modificado, exemplo de honestidade, são contra a Lava a Jato. Para os normais o que aconteceu foi um mar de lama ficando impune por tecnicalidades. Mimimi juridico. Simples assim. Ficam tentando emplacar a ‘narrativa’ de que ‘foi uma conspiração para incriminar as almas honestas’.

  9. Barroso orientava doutorados na UERJ com base em ‘notorio saber’. Problema nenhum, mas o pessoal da Academia é conhecido por navegar mal no mundo real. Filha de Fux virou desembargadora pelo quinto constitucional com 35 anos. Parecido com a filha de Marco Aurelio Mello. Nada ilegal. Só fica a pulga atras da orelha.

  10. Fux é vaidoso. Barroso é muito mais. Apesar das deficiencias cognitivas deve se acreditar ‘estadista’. Coisa que um magistrado não deveria pelo menos externar.

  11. Barroso é autor da frase escrita com o batom. ‘Perdeu mané!’. Também é autor da frase ‘derrotamos o bolsonarismo’. Idem, ‘o papel iluminista do STF, a vanguarda iluminista’. Quando Temer assumiu fez insinuações a respeito numa sala de aula. Lei Organica da Magistratura. Deveres do magistrado. ‘manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.’

  12. ‘Mais do que isso, deu início a uma série de críticas ao rigorismo do STF em punir os envolvidos no evento golpista.’ Tirou o dele da reta. Sabe dos absurdos que ali foram cometidos. A narrativa é que ‘havia uma sitação anomala e foi necessario tomar medidas extraordinarias’. Critica desde o começo: para salvaguardar o dito ‘Estado Democratico de Direito’ não se pode violar as normas do mesmo caso contrario não sobra muito o que defender. Logica que escapa a capacidade cognitiva de alguns.

  13. ‘Golpe’ tentado com um batom. Pena superior a muitos crimes mais graves. Alas, se tivesse sido presa em flagrante com armas ou drogas havia chance de ser libertada na audiencia de custodia.

  14. Livro não vou ler. Perda de tempo. Maioria sabe para que time torcem os autores. Chupinharam até no titulo. Livro ianque de 2008, ‘The nine, inside the secret world of the Supreme Court’. Jeffrey Toobin.

  15. Primeira constatação é que Fux não vai dormir hoje de preocupado. Melhor, vai dormir na pia, só de meia e mascando bombril.

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