Acontece nesta quarta, no Cemitério Jardim da Paz, em São Borja, a retirada dos restos mortais do ex-presidente João Goulart. É o início de uma viagem ao final da qual vai se descobrir, enfim, se a morte de Jango, há 37 anos, foi “natural” ou criminosa – como há quem suspeite -, por iniciativa de agentes da ditadura militar, em conjunto com forças de repressão de outros países sul-americanos.
Santa Maria, de todo modo, faz parte do trajeto a ser seguido pelo corpo, a caminho de Brasília, onde será recebido, com honras, pela presidente Dilma Rousseff, antes do processo de exumação. Sobre tudo isso, e especialmente o que acontece aqui no Estado, acompanhe o texto principal da reportagem que o jornal A Razão publica em sua edição desta quarta. O autor é Luiz Roese. As fotos são do arquivo do jornal (sepultamento) e de Marcelo Oliveira, da Comissão Nacional da Verdade. A seguir:
“Corpo de Jango passará a noite de hoje em Santa Maria…
…Depois de ser retirado na manhã de hoje (quarta) da sepultura no Cemitério Jardim da Paz, em São Borja, o corpo do ex-presidente João Goulart, o Jango, será transportado para Santa Maria, onde passará a noite na Base Aérea. Amanhã (quinta), os restos mortais serão levados em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para Brasília (DF). A intenção é verificar se Jango sofreu morte natural, como constam nos registros oficiais, ou se foi envenenado pela ditadura militar no desenrolar da Operação Condor. Presidente do Brasil entre 1961 e 1964, Jango foi deposto pelo golpe militar.
O transporte do corpo de Jango de São Borja até Santa Maria será feito por um helicóptero. Durante a estada no Coração do Rio Grande, os restos mortais do ex-presidente não poderão ser acessados por ninguém, e haverá um forte esquema de segurança.
O governo do Estado, via Casa Militar, organizou o esquema de segurança para que familiares, autoridades e cidadãos acompanhem o procedimento em São Borja. Apenas os peritos terão acesso ao jazigo no Cemitério Jardim da Paz. O governador Tarso Genro estará na cidade da Fronteira Oeste para acompanhar a exumação.
Conforme a ministra da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Maria do Rosário, a exumação é um pedido da família a ela, ao Ministério Público Federal e à Comissão da Verdade. “A nossa atuação é conjunta com os peritos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal e da Argentina, Uruguai, Cuba (com um perito que trabalhou na exumação do revolucionário Ernesto Che Guevara) e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Durante dois anos, realizamos uma pesquisa sobre os tipos de produtos que as ditaduras da Operação Condor realizavam para o envenenamento de pessoas, e esta pesquisa de caráter histórico serve justamente para verificar o que os peritos estarão procurando”, disse Mária do Rosário. O resultado da investigação será apresentado ao governo brasileiro e à família e posteriormente noticiado publicamente.
“Trata-se de um chefe de Estado, estamos nos preocupando com a preservação deste momento, tanto pelo resgate da memória de Jango, como pela família que irá acompanhar. Teremos um aparato de segurança diferenciado em toda a área do cemitério, mas isso não impede que as pessoas acompanhem o ato”, ressaltou o secretário-chefe da Casa Militar e responsável pela operação, coronel Oscar Luís Moiano.
Depois de sair de Santa Maria, haverá uma recepção ao corpo de Jango na capital federal, com uma mobilização político-partidária para marcar a chegada dos restos mortais. Jango será recebido com honras de Estado.
Da Base Aérea de Brasília, os despojos serão transportados para a sede da Polícia Federal, onde serão feitos os exames por peritos brasileiros, uruguaios, argentinos e cubanos. O governo federal se comprometeu com a devolução dos restos mortais de João Goulart ao seu jazigo na cidade, assim que o Instituto Nacional de Criminalística (INC), ligado à PF, concluir a coleta das amostras para os exames antropológico, toxicológico e de DNA. A meta é que o ex-presidente seja colocado de volta em sua sepultura no dia 6 de dezembro, quando se completarão 37 anos de seu falecimento.
Na segunda-feira, os peritos e a equipe de apoio que trabalharão na exumação do corpo do ex-presidente João Goulart já passaram por Santa Maria, depois de chegarem de avião, vindos de Brasília. Ontem (terça), eles foram de ônibus para São Borja.
O grupo é formado por especialistas do Departamento da Polícia Federal (DPF), que coordena os procedimentos técnicos, além dos peritos da Argentina e de Cuba e observadores do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Também integram a comitiva servidores da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente.
Os ministros Maria do Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça) se juntaram à comitiva ontem, quando já estavam em São Borja para uma audiência pública. A família do ex-presidente também chegou a São Borja ontem.
Também ontem, a equipe de peritos que vai trabalhar na exumação esteve no Cemitério Jardim da Paz, de São Borja. Os técnicos fizeram medições, repassaram a lista dos equipamentos necessários e definiram as estratégias do procedimento.
O coordenador da equipe de Perícia, Amaury de Souza Júnior, da Polícia Federal, reforçou que se trata de um trabalho de fôlego, que teve início há seis meses, com reuniões e visitas periódicas ao cemitério: “Esse é um trabalho que não se inicia hoje, e nem termina amanhã. Porque vamos trabalhar ainda em laboratório, e só depois chegar a um resultado”.
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