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República dos Bananas – por Luciano Ribas

No que se refere a bananas, Daniel Alves e Luciano Huck estão em pontas absolutamente opostas.

Enquanto o lateral direito da seleção agiu de forma espontânea, irônica e radical, ridicularizando o agressor racista, o apresentador-negociante apenas revelou a essência oportunista do “neo-liberalismo midiatizado” – de quem é um porta-voz destacado, vestido com roupas de bom moço.

O primeiro comeu a banana e, simbolicamente, iniciou o processo natural que fará o preconceito se transformar naquilo que merece: adubo. O segundo postou uma “fotinho” nas redes sociais segurando a fruta e, quase de imediato, colocou uma camiseta à venda por quase setenta pilas – afinal, em tudo há oportunidades, não é mesmo?

Quem deflagrou a moda, porém, foi Neymar Jr, o craque dos intervalos comerciais. Ele foi o primeiro a fazer uma selfie com a banana na mão e “jogar pro mundo”. Não demorou muito e descobriu-se que a ação saiu da mente de um publicitário e esperava a melhor oportunidade para “causar” nas redes sociais. Como a ideia era boa, deu certo e uma legião de celebridades, subcelebridades e pessoas “normais” (sinceramente interessadas em protestar contra o racismo) inflacionou o mercado da mais tropial das frutas. Golaço.

Antes de comemorar, porém, o chato aqui precisa se somar a alguns outros que já mostraram o outro lado dessa história.

Há preconceitos em todos nós, sejamos brancos ou negros, e é um exercício constante controlá-los e tentar superá-los. Dizer que #somostodosmacacos não ajuda nisso, porque esta pseudo-ironia não colabora para o que realmente precisamos compreender, que é o fato de que somos todos humanos, com direito a sermos iguais e diferentes na nossa infinita diversidade.

Afirmar que todos somos macacos pode até parecer bacaninha, mas deixa mais difícil enxergar que muita gente que comeu banana no Facebook se acha, sim, mais humana que a maioria. São pessoas que “odeiam” os programas de inclusão social, por exemplo, e fazem questão de ignorar que eles (e todas as exigências que trazem consigo) são a forma mais eficiente de “ensinar a pescar”.

Goste você ou não, o que muda o mundo são ações concretas, que melhoram a qualidade de vida da população. São as cotas, o PróUni, o Bolsa Família (que, pasmem, não cria dependência nenhuma, algo comprovado por pesquisas e estudos feitos pelas mais diversas instituições[1]), é o investimento maciço em educação, que está fazendo o IDEB crescer de forma contínua[2] e, em alguns anos, nos fará chegar a um índice decente. Em resumo, é criar oportunidades para todos, especialmente à população negra, que ainda sofre os efeitos de quase QUATROCENTOS ANOS de escravidão.

Claro, a bananada no “Insta” e equivalentes cria polêmica e ela acaba por ajudar, de alguma forma, a trazer o assunto à tona. Mas, sem crises ou sentimento de culpa, o limite é este, não se iluda.

Aliás, falando sobre limites, é bom que eles existam, para que não achemos normal que uma causa vire camiseta vendida a R$ 69,00, fazendo engordar ainda mais o bolso de apresentador de TV espertalhão. Decididamente, ele não precisa dessa ajudinha.

No Facebook: www.facebook.com/luciano.d.ribas

No Twitter: @monteribas

1 http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/354751_O+BOLSA+FAMILIA+NAO+GERA+DEPENDENCIA+

2          http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=180&Itemid=336

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