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Docência: um ato de amor? – por Liliana de Oliveira

Outro dia era dia dos professores e recebi algumas mensagens de alunos e ex-alunos. Nunca dei muita importância para datas, mas me importo com aquilo que as mensagens deixadas enunciavam. Mensagens cheias de carinho que indicavam a importância do professor na formação e na vida deles. Fiquei pensando sobre isso e, pensando nisso, comecei a observar as mensagens que circulavam nas redes sociais no dia dos professores. Sim, para mim não é dia do professor, mas dos professores. Afinal, somos muitos e diversos, não podemos nos encerrar numa categoria universal.

Observei mensagens que colocavam o professor como aquele que ama, conduz, ensina, educa, dirige. Muitos professores assumiram esse discurso para si, de tal modo, que entendem que a docência é uma vocação. Tanto é assim que, algumas semanas antes do dia do professor, a RBS mostrava as péssimas condições de algumas escolas. Escolas alagadas, com infiltração, sem ar condicionado, paredes rachadas, estrutura comprometida. Uma das professoras entrevistadas lamentava e dizia que o que a fazia permanecer na docência era o amor. Amor? Se for vocação ou amor que nos fazem ficar, então, sigamos, mesmo com escolas deterioradas, mesmo com salários baixos. Afinal, o amor tudo suporta.

Outros professores se colocam no lugar do profeta ou messias que vem garantir que os alunos abandonem sua condição de ignorância e possam acender a um lugar de verdade e esclarecimento, dando origem a enunciados que dizem que a educação salva.

Entendo que para que possamos realizar um determinado trabalho é preciso que nos comprometamos com ele, que sejamos capazes de realizá-lo da melhor forma. Entendo que lidamos com pessoas e que precisamos ter o mínimo de sensibilidade para que possamos não ferir ninguém e nem disseminar preconceitos. Entendo que como educadores, temos o compromisso de defender a dignidade humana. Entretanto, entendo que o discurso amoroso, messiânico ou profético, nos coloca num lugar muito complicado. Não estamos na docência porque amamos, apesar de muitas vezes amar o que fazemos e amar nossos alunos. Não estamos na docência na condição de profetas ou messias que pretendem salvar seus alunos. Estamos na docência porque nos comprometemos com a formação e dignidade humana. Por isso, se pretendemos garantir dignidade à atividade docente, precisamos abandonar os discursos amorosos, proféticos, messiânicos.

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