Terezinha vai ao posto de saúde – por Liliana de Oliveira
Terezinha vai ao posto de saúde próximo a sua casa, que a encaminha a outro posto de saúde. Lá chegando, o médico que a atende pergunta em quem ela votou e quando a mesma diz ter votado na Dilma acaba ouvindo todo um discurso das mazelas do país.
O médico ironiza e diz que o SUS não opera mais e que a mesma tendo votado na Dilma não teria o direito de reclamar, como se o voto não permitisse àquele que vota o direito de reclamar e reivindicar. Terezinha, constrangida, sorri. Sorri por não encontrar em seu vocabulário palavras que lhe permitissem contra argumentar. Afinal, o doutor deve entender um pouco das coisas.
Passados alguns meses, volta ao médico levando os exames para que pudesse ser encaminhada para a cirurgia. O médico novamente fala mal do SUS e repassa a ela o telefone de seu consultório, valores e possibilidades de atendimento particular.
Novamente fala mal do governo e das condições precárias da saúde pública. Conta que a situação está tão difícil que terá que abrir mão de uma das babás de seus filhos, ficando apenas com duas. Segundo ele, tudo isso se deve aos benefícios concedidos aos trabalhadores domésticos.
Terezinha sai de lá sem sorrir, convencida de que não faria a cirurgia, pois o valor repassado pelo médico para realizar tal procedimento implicaria sete meses de trabalho. Sem sorrir, porque continuará com dor. Sem sorrir, porque percebe o quanto a vida lhe cobrou, pois criou todos os filhos sem auxílio de babás e empregadas e escuta o doutor reclamar de como a vida anda difícil ao ter que ficar com apenas duas babás.
Terezinha, pega o ônibus, volta pra casa com dor, humilhada, sem nenhum encaminhamento pelo SUS (afinal, o médico lhe sonegou essa possibilidade), arrependida por ter votado na Dilma e lamentando os benefícios concedidos aos trabalhadores domésticos. Afinal, o doutor deve entender um pouco das coisas.
Obs.: Infelizmente a história narrada acima é verídica e se deu há poucos dias em um posto de saúde da cidade.
O médico utilizou de ironia para explicar o sucateamento do SUS, e eventualmente a situação do país por conta desses desgovernos. Como,também, é irônico que a a paciente tenha votado em quem prometeu mais saúde , mais segurança, mais educação e blá blá blá.O doutor deve entender das coisas. Talvez.É ironia ouvir diariamente, engravatados darem desculpas esfarrapadas sobre suas administrações, sempre incompetentes , irresponsáveis e levianas. A corda acaba arrebentando na parte mais fraca.Mas aí não é mais ironia…