Entranhas. Inicia a discussão interna que pode mudar (ou não) o Partido dos Trabalhadores
Junte três petistas em Santa Maria. Não, não é em São Paulo, São Bernardo, ou mesmo, para não ir tão longe, em Porto Alegre. Se você tiver a sorte (ou procurar bem) de o trio ser da mesma corrente, a discussão não será tão longa. Mas haverá discussão, ainda assim.
Agora imagine três petistas de Santa Maria. Um do grupo do Valdeci, outro do PT Amplo, e o terceiro da Ação Democrática. São três correntes internas locais significativas. Bem, aí… Aí o debate se prolongará, não sendo descartada a possibilidade de o tom subir.
Assim é o PT. E não vejo chances – nem entendo que necessariamente ele será melhor ou pior por isso – de um acordo amplo. No máximo, no máááximo, um acordo simples. Se é que tudo não continuará como está. E olha que, mesmo as pedras sabem, em nível nacional o PT, goste ou não, é, mais que o, do Lula.
Em todo caso, até os mais ácidos críticos do petismo não deixam de reconhecer: os petistas debatem. Meeeesmo. E talvez se saiam, em função disso, muito melhor no futuro, por exemplo, que o PSDB – que ainda não se deu conta, é o que aparenta, que perdeu a eleição presidencial. Para o Lula (e não necessariamente para o PT), mas perdeu.
Quanto aos petistas, o encontro (ou desencontro) das idéias definitivamente já começou: mais de 150 lideranças se reuniram na noite de segunda-feira, em São Paulo, para praticar o esporte favorito dos petistas: debater. E foi só o primeiro encontro, aliás. Que vai desembocar, ano que vem, num congresso partidário. Veja no que deu, na reportagem de Gilberto Maringoni, da agência Carta Maior:
PT começa a discutir a relação consigo mesmo
Partido dá início a uma série de debates, com vistas ao congresso que realizará em 2007. Para dirigentes, é necessário mudar as relações internas e com o governo federal, para que o futuro não seja uma repetição do que já existe.
Passadas as eleições – mas não o bombardeio da mídia – o Partido dos Trabalhadores busca agora discutir a relação consigo mesmo. Um primeiro passo foi dado no debate que envolveu Ricardo Azevedo, presidente da Fundação Perseu Abramo, vinculada ao PT, Flávio Aguiar, editor da Carta Maior, e Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do partido, na noite de segunda-feira. Com a presença de cerca de 150 pessoas, na sede nacional, em São Paulo, o debate marca o início dos preparativos para o congresso interno, previsto para o ano que vem.
Alvo de uma verdadeira trama midiática para forçar o segundo turno, o PT, através das ações de alguns de seus membros, deu motivos de sobra para os ataques vindos de fora. Mas engana-se quem pensa que o motivo reside apenas nas condutas tortuosas de alguns aloprados, como classificou o presidente Lula. O problema essencial do PT é sua linha política, avalia Valter Pomar. Se perdemos as referências do socialismo e adotamos uma conduta de conciliação de classes, qual a surpresa de termos nos contaminado com as práticas da burguesia?, pergunta ele, valendo-se de um vocabulário clássico entre a esquerda.
Hegemonia neoliberal
Flávio Aguiar vai pelo mesmo caminho. O PT precisa definir se deseja discutir o futuro, entendido como a não repetição do presente, ou se deseja deixar as coisas como estão. Para ele, isso envolve acabar com a hegemonia neoliberal do final do século XX, consciente da necessidade de não repetir erros anteriores. Com suas fragilidades, o partido abre espaço para um movimento externo de transformar a pauta derrotada em 1º. de outubro, na agenda do segundo governo Lula. A grande questão, de acordo com ele, é que este movimento não vem apenas de fora. Existe no interior do partido e do governo, também.
Ricardo Azevedo complementa, lembrando que, apesar de tudo, a realização do segundo turno consolidou uma vitória política e ideológica sobre a direita, confrontando dois projetos, sintetizados nas privatizações e na política externa. Sem deixar de calibrar duramente suas críticas – As bases e fundamentos da política econômica no primeiro mandato foram neoliberais ele atenta para o fato da existência de uma contraface desenvolvimentista no BNDES, na Caixa Econômica Federal e nas estatais. Mas fulmina: O Brasil, com isso, teve um crescimento pífio, maior apenas que o do Haiti. Para quem se surpreende com a linguagem dura de um dirigente vinculado à ala majoritária do partido, Azevedo vai mais longe: Precisamos avançar na
SE DESEJAR ler a íntegra da reportagem, pode fazê-lo acessando a página da agência Carta Marior na internet, no endereço http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=12834.
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