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CRÔNICA. Orlando Fonseca e um país que comemora seus 14 mil novos milionários. Os pobres? 43 milhões!

Na riqueza ou na pobreza

Por ORLANDO FONSECA (*)

Em um país cujo PIB não tem crescimento expressivo, a questão da riqueza é um jogo de perde-ganha. Se um grupo apresenta acúmulo, em um período curto, é porque outro grupo social deixou de ter. Segundo relatório anual sobre riqueza mundial da consultoria Capgemini, no último ano, o Brasil apresentou o aumento de 14 mil novos milionários – aqueles que apresentam acima de um milhão de dólares. Isso representa um crescimento de 8%.

Esses dados foram divulgados semana passada. Em abril deste ano, um relatório do Banco Mundial alertava para o fato de que a pobreza aumentou em nosso país, entre 2014 e 2017, atingindo 21% da população. Ou seja, 43,5 milhões de brasileiros passaram a viver com menos de cinco dólares por dia. Não por acaso, nosso país atravessou uma turbulência justamente neste período.

Após uma eleição conturbada, Dilma Rousseff passa a enfrentar uma oposição raivosa no Congresso. O então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, atualmente preso pela Operação Lava Jato, anunciou o rompimento com o governo, e iniciou uma guerra com o Planalto, produzindo as famosas votações das “pautas-bomba”.

Essas eram medidas com impacto nos cofres públicos, como a mudança na correção do FGTS, o que acabaria afetando programas como o Minha Casa Minha Vida e obras de saneamento básico. Ao mesmo tempo, trancou qualquer aprovação de interesse do governo, e se formaram duas CPIs que acabariam em impeachment da presidenta, e a assunção de seu vice – também condenado pela Lava Jato – Michel Temer.

O programa implementado a partir dessas mudanças visava agradar ao mercado, como a Reforma Trabalhista, que, como se vê, não cumpriu a promessa de aumentar os postos de trabalho, pois o desemprego só aumentou desde então. E tem reflexos na eleição do atual governo, que ainda não apresentou uma agenda de recuperação econômica do país, e está conduzindo uma nova reforma, esta da Previdência, que também não visa melhorar as condições de vida do assalariado, muito pelo contrário.

Como se vê, pelo que indicam os dados desses dois relatórios, de instituições internacionais, nada é por acaso. Ao longo do período que vai de 2003 a 2015, reflexo de uma economia estabilizada pela moeda forte e programas sociais consequentes, houve uma redução significativa no quadro da pobreza entre os brasileiros.

Mais de 30 milhões saíram da linha de pobreza, segundo dados da ONU. No entanto, os que defendem uma economia de mercado, olhando apenas para o PIB, viam um quadro recessivo, sem considerar que as reformas sociais ocorridas no período poderiam não gerar novos milionários, mas estava estancando a chaga da fome e da miséria.

De 2016 para cá, quase a metade dos que haviam saído da linha de pobreza voltaram; o desemprego e a informalidade só aumentaram, e a economia, em seus dados globais, está paralisada no país – sem produtividade, sem competitividade com os produtos externos, o que não aponta um equilíbrio na balança comercial tão cedo.

No entanto, há os que consideram o dado divulgado pela Consultoria Capgemini um indicador de melhora. O grupo formado pelos 14 mil dos que alcançaram uma fortuna maior do que um milhão de dólares (excluindo a residência de moradia, artigos colecionáveis e bens de consumo duráveis) aponta para o novo Brasil.

Não interessa que 43 milhões não tenham onde morar, não tenham artigos comestíveis, e bens duráveis só os retirados de contêineres do lixo pelas avenidas das grandes cidades do país.

Agora vai se cumprir a profecia do Renato Russo: “Mas o Brasil vai ficar rico/ Vamos faturar um milhão/ Quando vendermos todas as almas/ Dos nossos índios num leilão”. Que país é este? Piada no exterior já somos, desde o início do ano.

(*) ORLANDO FONSECA é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃO: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução de internet (es.dreamstime.com/).  

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