Efeito manada. Ou o Maria-vai-com-as-outras que só beneficia a fonte. Já o leitor…
Semana passada, teria havido um enrosco entre o ministro da Justiça e o Comandante do Exército. A causa um livro sobre a tortura à época do regime militar. O curioso é que a base foi uma conversa, supostamente sem testemunhas, entre as duas personagens. No caso, Nelson Jobim e o general Enzo Martins Peri.
Mais interessante é que o diálogo que teria acontecido entre as duas autoridades foi reproduzido, quase com as mesmas palavras, em dois jornais – que deram o furo. Quem ganhou com isso? É o que comenta o experimentado jornalista Carlos Brickmann, na coluna Circo da Notícia, que ele publica no site especializado Observatório da Imprensa. Vale a pena ler. A seguir:
Efeito Manada – Fala que eu falo junto
Dois dos maiores jornais do país dão juntos um furo fantástico: os diálogos que, segundo as duas reportagens, divulgadas no mesmo dia, demonstram que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao contrário do que se pensava, enquadrou o Exército no caso do livro sobre torturas, em vez de ter sido enquadrado.
As duas matérias revelam diálogos sem testemunhas entre duas pessoas, um chefe militar e o ministro. Os diálogos aparecem iguaizinhos. A seqüência dos acontecimentos é idêntica. A leitura de ambas leva à conclusão de que a fonte foi a mesma. E, fazendo-se a clássica pergunta – quem se beneficia? – o nome da fonte, oculto nas reportagens, brilha e pisca como um luminoso de néon.
É o efeito-manada, já mencionado neste Circo da Notícia [confira as sugestões de leitura, lá embaixo]. Há vários tipos de efeito-manada: quando uma mesma fonte, cujo cultivo é vantajoso, passa sua versão de um caso para vários veículos de comunicação; quando veículos de todo o país, seguindo os passos da grande imprensa, divulgam as notícias urbi et orbi; e, o mais intrigante de todos, quando a mídia inteira, por algum motivo, aponta sua artilharia para o mesmo alvo. Nesse caso, quando se conversa com os colegas, ninguém sabe direito por que aquele foi o alvo escolhido, e não outro qualquer, talvez tão merecedor, ou mais merecedor, de um obus no telhado.
Qualquer que seja o motivo do efeito-manada, seu resultado é empobrecedor. Veículos e jornalistas têm opiniões, preconceitos, vivências que, de uma forma ou outra, dão certo viés a seus trabalhos (é por isso que a objetividade absoluta é impossível: os melhores jornalistas buscam a objetividade, sabendo que não vão alcançá-la, e têm como atributo máximo outro fator inexcedível: a honestidade). A proteção do consumidor de notícias vem do entrechoque das idéias, da certeza de que diferentes jornalistas e diferentes veículos têm diferentes opiniões, preconceitos e vivências. Nesse entrechoque de versões é que se busca a verdade. Quando o choque deixa de existir, passamos ao pensamento único.
SUGESTÕES DE LEITURA – confira aqui a íntegra da coluna Circo da Notícia, de Carlos Brickmann, publicada no Observatório da Imprensa.
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