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Los desaparecidos – por Máucio

Fazia muito tempo que eu não encontrava o Hélio, nem sei precisar quanto, mas creio que foi no final das nossas faculdades. Fazíamos parte da mesma turma de amigos onde, além de estudar, curtíamos festas, namorávamos e tudo o mais que um grupo de jovens costuma viver. Ele se formou e saiu da cidade, sabia que havia casado com a Cláudia, namorada da época, e nada mais. Batemo-nos de frente em pleno calçadão e sentimos, nas duas ou três primeiras frases que o papo duraria mais um pouco. Convidei-o para um cafezinho e fomos caminhando em direção sem interrompermos a conversa.

Depois dum pequeno resumo sobre nós mesmos vieram as perguntas inevitáveis sobre os outros integrantes da ¨tiurma¨.

– E o Felipe? Perguntou o Hélio.

– O Felipe, que eu saiba, está fazendo doutorado na Alemanha, conversei com ele rapidamente em Porto Alegre uma vez. Só sei que separou da Marli.

– Chiiii… e o Batata largou a medicina, é músico numa banda que toca em baile.

Passa viajando por todo o país: Mato Grosso, Goiás…

– Era tudo que ele queria.

Hélio interrompe bruscamente o papo e com voz um pouco mais alta e olhar arregalado fulmina:

– Caraaa, o Eusébio. Sabia do Eusébio? Ele desapareceu!

– Como assim?

– Está desaparecido! Há uns quinze dias eu entrei num hotel em Floripa e tinha um cartaz na parede escrito: procura-se! Olhei a foto e era o Eusébio ali.

            – Sério?

            – Claro!

            – E ai?

            – Ai eu peguei o celular e liguei pro telefone que estava no cartaz.

            – …?!

            – Atendeu uma criança, falou e chamou a mãe.

            – A Berinita atendeu?

            – Sim, a Berinita. Lembra? Eles casaram e foram pra Goiás. Faziam um trabalho social por lá.

            – Sim, junto aos índios. Mas e ai, o que ela disse?

            – Disse que o Eusébio estava desaparecido há mais de um mês. Então resolveu fazer um cartaz pra procurá-lo e saiu distribuindo por ai.

            – Mas tem alguma coisa a ver com os coronéis da região?

            – Não se sabe, mas é provável, né? Ela só sabia dizer que a última ação conhecida dele é que havia sacado 100 reais num caixa eletrônico e nada mais.

            – 100 pilas? Mas como está situação agora?

            – Não soube mais. Eu continuei minha viagem e não falei mais com ninguém a respeito.

            – Opa, tá na minha hora!

            Nossa conversa foi interrompida, porque lembrei, subitamente, que tinha horário no dentista e faltavam somente 5 minutos. Ainda bem que era ali perto. Saímos às pressas, prometendo nos encontrar pra continuar colocando as fofocas em dia.

Aquela notícia sobre o sumiço do Eusébio, no entanto, não saiu da minha cabeça! Ele sempre foi de lutar em favor dos menos favorecidos e agora desaparece assim, misteriosamente. Muitas coisas terríveis vieram à cabeça: seqüestro, assassinato, ¨marcado pra morrer¨, etc. Essa preocupação persistiu durante toda a noite e manteve-se acesa vários dias depois. Era a primeira vez que eu tinha um amigo desaparecido e, provavelmente, tragicamente.

            Dois meses depois reencontro o Hélio comprando carne num supermercado, viera visitar a sogra e o churrasco era por conta ele.

            – E ai Hélio!?

            Mal nos cumprimentamos e a pergunta saltou da minha boca, como cuspe em dia de vento com poeira.

– Tem notícias do Eusébio?

            Ele balançou a cabeça e sem que eu pudesse entender se a cara era de riso ou alívio tascou: o Eusébio tá vivo, tchê! Muito vivo e feliz, pelo que imagino. Ele não foi seqüestrado coisa nenhuma.

            – ?

            – Ele fugiu de casa!

            – Como assim?

            – Não agüentava mais a Berinita! Não tinha coragem de dizer pra ela e resolveu simplesmente sumir!

            – Não é possível!

            – Há, há, há!

            – Mas que báh!

            E nos despedimos rapidamente porque chegou a vez dele na fila do açougue.

            – Até mais, então.

            – Té mais, Hélio.

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