Buffet: que é aquilo? – por Máucio
Minha avó costumava dizer: futuramente as casas não terão mais cozinha, as pessoas todas farão as refeições fora e essa peça das residências será coisa do passado. Não sei se ela tinha razão, mas que o número de pessoas que comem na rua vem crescendo é evidente. Sem dúvida, o aumento do tamanho das cidades, a quantidade de tarefas diárias, a velocidade cotidiana, a distância ente a casa e o trabalho, o preço dos transportes, tudo isso empurra, cada vez mais, as pessoas a se alimentarem em restaurantes ou lanchonetes.
A partir da década de 1990, a grande tendência do almoço passou a ser os restaurantes por quilo. Na verdade foi um grande achado tanto para os fregueses, que imaginam que estão pagando o preço justo/exato pela quantidade de alimento que consomem, como para os donos dos estabelecimentos que tem facilitados, inclusive, seus cálculos de custos. Como costuma dizer um amigo gourmet: – claro, eles compram um quilo de feijão por Y, adicionam água e sal e vendem por seis Y. É um bom negócio.
No entanto, quando um ramo empresarial começa a dar muito certo, logo se multiplicam o número de empreendimentos e esse tipo de buffet proliferou às pencas. Este fato passou a ser um prato cheio para o surgimento de serviços de baixa qualidade, que vendem gato por lebre. Neste caso a ordem do dia passou a ser, muitas vezes, a de inventar cardápios que fossem mais rentáveis. Afinal, percebeu-se que não era tão difícil ludibriar famintos distraídos.
Os buffets por quilo normalmente apresentam o básico – arroz, feijão – feitos diariamente, mas muitos deles entremeiam pratos lavoisierianos espertos. Um pastel recheado com o resto da carne de ontem; um arroz de anteontem enfeitado com pedacinhos de cenoura e algum enlatado; uma beterraba murcha com flocos de coco; um resto de torta salgada de outrora… Até aí, nada de grave. O problema maior são os falsos pratos tradicionais.
Canso de ver, por exemplo, lasanha que só tem a aparência de uma lasanha, quando se vai comer, arg! São feitas com queijo de qualidade duvidosa, com molhos enlatados e até mesmo sem massa. Isso mesmo, acredite: lasanha sem massa! Já vi, em mais de uma ocasião, este prato feito só com camadas de molho de frango e fatias de presunto e queijo. As lâminas de massa, que definem esta clássica e saborosa iguaria, foram subtraídas. Não me perguntem por quê!
As sobremesas grátis também são muito estranhas. De sagu só tem o nome e raramente está acompanhado do creme de baunilha que é a melhor parte dessa guloseima. São muito freqüentes, porém, uns creminhos indecifráveis que vêm misturado com umas gororobas de difícil identificação. Se perguntar para o garçom nem ele sabe responder do que se trata. E as pessoas comem sem reclamar porque, afinal, é oferta da casa. É claro que estamos pagando também esses grudes.
Tem outra receita famosa que quase todos os restaurantes por quilo assassinam – vocês hão de concordar: é o tal do estrogonofe. Invariavelmente ele se apresenta com uns cubos de carnes boiando num molho aguado, vermelho-leitoso. Não se consegue ter a menor noção de sua composição alimentar. E o gosto, arg 2!
E ainda por cima, nestas ocasiões, alguns lugares têm o cuidado de colocar uma plaqueta escrita: lasanha, estrogonofe, etc. Não sei se fazem isso por ironia ou para tentar nos convencer que se trata mesmo daquilo. A maioria das pessoas, no entanto, não se importa. Isso também é sinal dos tempos, as coisas hoje não precisam mais ser, bastam parecer. Neste caso é como no Jogo do Bicho: vale o escrito.
Não sei o que minha querida avozinha diria desse hoje em dia, mas creio que ela riria muito. E ficaria com saudade dos tempos das cozinhas domésticas, onde as balanças só existiam para a preparação das receitas e não interferiam nas receitas e nos balanços dos negócios.
Acho que tenho afinidades culinárias com o Maucio… Sou amante da culinária do tempo de nossas avós…Comida simples, caseira mas elaborada com produtos de boa qualidade e com dedicação…Cada tempero a seu tempo….Cozinhar, misturar temperos e iguarias também é uma arte…Abraços Tânia