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Pintou um clima – por Máucio

Seguidamente ouço alguém dizer: odeio inverno, odeio verão. As frases saem quase como um desabafo. Não sei se as mesmas pessoas dizem isso no início de cada temporada, o fato é que se escuta muito essas ladainhas. Sempre gostei de todas as estações, principalmente dos começos. As preliminares são especiais, contém esperança, sugerem mudanças, retomadas.

Essa época do ano – maio e abril – é muito particular, pelo frescor que está no ar e pelo cheiro de renovação que propõe. Uma espécie de Novo Tempo, lembrando Ivan Lins. Felizmente nós gaúchos somos privilegiados, temos quatro períodos de transformação bem delineados.

O outono é especial, embora às vezes meio esquecido. É um rito de passagem para o frio, além do mais quando ele chega já estamos exaustos do calor intenso do verão. Vem com temperaturas tão agradáveis que, por vezes, passam despercebidas. A luz outonal é magnífica se soubermos olhar, por exemplo, os múltiplos amarelos e dourados das folhas das árvores nas praças e nos campos. Olhem!

Sem o outono como intermediário passaríamos do verão para o inverno de supetão, o que poderia ser insuportável para as nossas rinites, sinusites e outras ites. É uma estação singela, silenciosa, que demarca alteração, sugere introspecção e faz nos lembrar, deliciosamente, que o inverno vem aí. Propõe uma reflexão acerca dos ciclos da vida. Impõe também, naturalmente, mudanças de hábitos.

Ninguém é igual em todas as estações, uns ficam mais assim no inverno e mais assados no verão. Nosso corpo e nossa psique são influenciados pelo clima, pelo calor, pela umidade do ar, pela biosfera, por mais que o homem busque se desvencilhar disso.

Do inverno para o verão modificamos muitas coisas: a duração do banho, o que comemos e o que bebemos, como cumprimentamos os amigos, o modo de nos comunicar, o número de palavras que usamos, o tempo na cama, o jeito como ouvimos os motores dos automóveis. Tudo, tudo fica muito diferente.

É recomendável enfrentarmos as estações como pudermos e tentar curti-las da maneira que se apresentam, caso contrário corre-se o perigo de se reclamar de cada nova atmosfera, o que é muito chato pra quem ouve. Elas possuem seus encantos e dificuldades, tentemos observar o lado bom das diferentes épocas, assim poderemos viver mais felizes. 

Um amigo muito sábio, que não apreciava muito o frio da terrinha, achou um modo de amenizar o problema e hoje confessa que aguarda o inverno com expectativas. Resolveu tirar seus 30 dias de férias em julho, no pico da geada. Ele se prepara e hiberna em casa com a patroa. Para tal precisa só de três telefonemas. Um para o rapaz que traz lenha para a lareira, outro para dona Gema, que lhe entrega massas congeladas e um terceiro para Seu Miolo, que leva o vinho. Isso lhe garante, segundo ele, uma autonomia de vôo de até dois meses ininterruptos. Que clima!

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Um Comentário

  1. Maucio:
    Senti nesta crônica um lirismo acentuado e aquele “quê” de humor inteligente que é cararacterítico do autor – ambos convivendo no mesmo texto ou espaço, sem misturar as estações..
    Muito embora pense que, ultimamente, as estações já não estão tão bem delineadas quanto outrora, em função da rebeldia da natureza diante de tantas agressões, certamente o tempo por aqui ainda nos presenteia com as mudanças de clima – seja para não enjoarmos da mesmice, para agradar um pouquinho a cada gosto ou até para testar nossa resistência ou capacidade de adaptação. Seja lá como for, cada estação tem sua beleza e conseguiste expressar isto muito bem.
    No mais, este friozinho até me deu vontade de pedir a teu sábio o telefone do seu Miolo para degustar, entre amigos, um bom vinho bem devagar..
    Parabéns pelo humor lírico.. Gostei. Cada texto teu é uma grata surpresa.Aguardo a próxima.
    Até mais,
    Andréa

  2. Este clima… ah! outono!
    Melhor ainda é quem o traduz com tamanha sensibilidade! Esse pensamento “outonal” faz parte dos meus melhores dias e melhores lembranças…
    Abraço

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