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ENTREVISTA. Arbex Jr e a relação real da mídia com os sindicatos e a democracia

Por um bom tempo, José Arbex Jr foi editor de Mundo, no jornal Folha de São Paulo. Quer dizer, não se pode afirmar que o cara não conheça a mídia grandona. Esteve lá. E, de uma certa forma, ainda se encontra -pois trabalha num veículo alternativo,mas de grande influência, a revista Caros Amigos.

Arbex Jr: a partir de 1985, aparência de democracia. Hein? Por quê só aparência?

Ele foi entrevistado pelo colega Fritz Nunes, da assessoria de comunicação da Sedufsm, durante encontro de comunicação promovido pelo Sindicato Nacional da categoria docente (o ANDES), em meados demaio. E faz interessantes considerações sobre a relação entre mídia e sindicatos. Considero importante reproduzir esse material. Inclusive por conta de várias manifestações (contraditórias, como devem ser as opiniões que podem levar a alguma conclusão) feitas sobre notas em que o Sindiágua foi aqui citado, como fonte ou mesmo protagonista.

Creia, vale a pena ler. Arbex Jr entende do riscado. Assim como Fritz, que conduziu o papo que reproduzo a seguir e é igualmente o autor da foto. Acompanhe:

Arbex analisa a relação mídia X sindicatos

A declaração de que a democracia no Brasil é um dos grandes mitos que a mídia ajudou a construir no país é a provocação que se destaca em palestras proferidas pelo jornalista José Arbex Jr durante o III Encontro de Comunicação do ANDES-SN, em Brasília, de 21 a 23 de maio. Para ele, a partir dessa assertiva fica compreensível a relação estabelecida hoje entre a mídia e os movimentos sociais e populares no Brasil.

José Arbex Jr é jornalista, doutor em história social pela Universidade de São Paulo – USP e professor da PUC-SP. É conhecido nos meios acadêmico e sindical pela autoria dos livros Showrnalismo – A Notícia Como Espetáculo e O jornalismo canalha. A carreira de Arbex teve início quando trabalhou no semanário trotskista O Trabalho, ligado à Organização Socialista Internacionalista – OSI. Trabalhou na Folha de S. Paulo, Brasil de Fato e hoje é editor especial da Revista Caros Amigos.

Em virtude de encontro entre professores universitários e jornalistas sindicais promovido pelo Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior -ANDES-SN, Arbex esteve em Brasília e reservou alguns minutos para uma breve entrevista. Participaram da conversa a jornalista Aline Pereira, da Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Adur-RJ Seção Sindical; Clayton Nobre, da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas – Adua Seção Sindical; e Fritz Nunes, da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Santa Maria – Sedufsm.

Durante a entrevista, ele analisa historicamente a relação entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST e o movimento indígena com a mídia e a opinião pública. Ele também comenta a ameaça de fechamento da Escola Florestan Fernandes, curso superior paulista que ganhou notoriedade por ser criada por um movimento popular. Confira:

Fritz Nunes (Sedufsm) – Na tua avaliação, por que a mídia continua “demonizando” o MST? Na tua experiência, há uma relação entre o que a mídia brasileira faz com o MST e o que mídia mundial procura fazer com o Talibã, o Hamas, entre outros grupos de resistência?

Resposta – Em primeiro lugar vamos entender o que acontece no Brasil. O Brasil é um Estado marcado pelo legado da escravidão. Foi 400 anos um Estado escravista. No século XX, você teve 30 anos de República Velha, que na verdade foi um regime controlado por duas grandes oligarquias, a política do café-com-leite, as oligarquias mineira e paulista. Depois, o Estado Novo. Você pode dizer, então, que até 1945 o Brasil nunca viveu um período democrático.

E depois de 1945? Também não. Você teve a proibição dos partidos de esquerda pelo Dutra. Veio Juscelino Kubitschek com toda a ideologia dele de um país moderno, mas foi um momento em que os partidos continuavam clandestinos, e se abriram as portas para o capital estrangeiro. Houve o golpe de 1964, mais 20 anos de ditadura militar. Nós chegamos basicamente até 1985, ou seja, 485 anos da história brasileira sem democracia. Nem mesmo a aparência de democracia. Nada. Um Estado absolutamente autoritário…”

A partir de 1985, temos aí uma aparência de democracia, as pessoas já podem votar, mas na verdade se mantém o regime de exceção por meio do governo de medidas provisórias e por meio do impedimento de que o brasileiro tenha acesso a sua própria memória. Nenhum ditador foi punido, por exemplo. Nenhum torturador foi punido. O aparato da antiga SNI (Serviço Nacional de Informações) se manteve intacto, se transformou em Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Todo o aparato de repressão da ditadura se mantém. Nós vivemos um Estado de exceção com a aparência de uma normalidade democrática…”

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Um Comentário

  1. Rogério! Não duvido, em absoluto, do trabalho de vocês. Infelizmente, o que chega aos olhos da sociedade e dos cidadãos comuns com relação ao sindicalismo, é essa visão, talvez distorcida, de que sindicalismo e política partidária, assim como política estudantil e política partidária, cada vez mais, andam de mãos dadas.
    Meu amigo, não me leva a mal, peço, inclusive desculpas, mas é o que penso.
    Em tempo: Não estou entre os que acham que a CORSAN deva ser munipalizada, incampada, privatizada ou qualquer outra coisa. Falta d’água, cano estourado, buraco abertos e mal fechados, não são nenhuma novidade. Isso acontece desde o tempo em que os bichos falavam. Não é novidade nenhuma.

  2. @Jader Hoffmeister
    Jader
    Concordo contigo. Mas, desde já, te convido a conhecer um pouco melhor o trabalho da atual gestão do SINDIÁGUA. Com as renovações de contrato sendo discutidas em todo o estado, com a roubalheira das empreiteiras dentro da Corsan, com demissões sem justa causa, com chefias inoperantes por esta corsan afora, te afirmo que não nos sobra tempo para tomar cafezinho. Mas, te digo, isto é a nossa Direção Sindical. Lógico que toda generalização tende induzir a erros tanto para os bons quanto para os ruins.
    Sobre partidos políticos nos sindicatos, já postei aqui, mas repito: Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, mas em Santa Cruz, por exemplo, onde o PT é vice, fizemos uma grande luta contra a privatização da Corsan, sendo necessário inclusive o PT colocar a Brigada Militar contra nós para votarem o projeto privatista. Lá, jogávamos moedas aos petistas, chamando-os de mercenários. Portanto, fico muito tranquilo neste aspecto. Nesta luta, já nos abraçamos ao DEM, PSDB, PMDB, enfim, todos aqueles que se propõem a manter a água longe da iniciativa privada.
    Concordo contigo também sobre as centrais sindicais. E esta visão sobre sindicatos é uma culpa exclusiva de sindicalistas que fazem isto que tu cita.
    Abraço

  3. Caro Rogério! Imparcialidade deveria ser um pré-suposto sempre de todo o sindicato. E sempre, também, os sindicatos deveriam defender os seus trabalhadores. Mas isso depende de da ideologia do governo que está de plantão e do sindicato e/ou centrais sindicais. Veja o caso da CUT e outras menos citadas. Onde estão? Enquanto a ideologia presente estiver no governo, as centrais estarão de férias, lendo jornal e tomando cafezinho nas suas sedes ou então lotados em alguma secretaria, ministério ou em qualquer outro cabide de mamata que existe aos montões em Brasília. Infelizmente, caro Rogério, nas relações onde imperam, acima dos interesses maiores, as paixões e ideologias, acaba nisso. Um abraço!

  4. Aqui no sul, chama a atenção a relação da RBS com os sindicatos. Para os patrões colocarem “informações” a seu favor, ou no caso o governo do Estado ser protegido com uma blindagem midiática. Basta um investimento muito grande do dinheiro público nestas emissoras. Notícias sobre o governo? Só se for favorável.
    Pois para os sindicatos conseguirem colocar matérias nestas empresas de comunicação que deveriam ser imparciais, sobretudo quando os sindicatos se dispõem a pagar pela matéria, a coisa não é bem assim.
    Tentamos como SINDIÁGUA colocar material sobre as demissões imotivadas na Corsan, em horário nobre (durante a manhã) da rádio Gaúcha. Uma vinheta de 45 segundos custaria R$ 1.040,00 (vejam bem: a unidade). MAS, e bota MAAAS nisto, para sindicatos há um acréscimo de 100% deste valor.
    E são tão descarados que isto já vem escrito na proposta deles.
    Portanto, a luta é muito desigual.
    E olha que o governo comprou esta parcialidade justamente com o dinheiro dos trabalhadores e contribuintes. Para mim, esta é a relação da dita mídia grandona com os movimentos sociais.

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