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O advogado do diabo – por Luciano Ribas

Até o ano de 1983, caso um conjunto de fiéis pleiteasse a canonização de um católico, entre os obstáculos a serem vencidos estava o advogado do diabo. Este, chamado de advocatus diaboli, devia opor-se à argumentação do Promotor Fidei, que era quem argüia a favor daquele (ou daquela) ao qual membros da Igreja Católica desejavam dar o status de santo (ou de santa, pois padres e criaturas santificadas têm sexo, ao contrário dos anjos).

Naquele ano, o então papa João Paulo II escancarou as portas e mandou o advogado do diabo para o quinto dos infernos. Isso acelerou enormemente a velocidade das canonizações, multiplicadas pela necessidade urgente de segurar fiéis no rebanho de Roma. Num certo sentido, proliferar santos pelos quatro cantos do mundo pode ser considerado, então, uma espécie de “empreendedorismo da fé”, parte do contra-veneno católico na dura disputa pelo mercado mundial dos que crêem com outras confissões e religiões.

Não devia ser fácil a função de quem argumentava em nome do capeta. Suponho, por isso, que fosse bem pago para assegurar o direito que todo indivíduo tem de ser defendido por um profissional habilitado – o que inclui o coisa ruim, o goleiro Bruno e até a quase-ex-governadora Yeda. Provavelmente, entre as dificuldades do advogado do diabo estava o fato de que ele não era, necessariamente, contra tornar fulano ou fulana de tal santo ou santa; imagino, inclusive, que pelo sim, pelo não, até acendesse uma vela para o postulante e lhe dedicasse uma meia dúzia de pais-nossos antes de dormir. Quem sabe até afrouxasse um pouco no ataque, sem que o chifrudo percebesse. Mas, trabalho é trabalho e, por pior que seja, tem que ser feito, como diria o maquiador do Serra.

Por argumentar sem a necessidade de ter convicção do que diz (supomos), a função passou a designar quem procura apontar eventuais falhas numa argumentação, projeto, obra ou qualquer outra atividade humana. Seu papel é o de tentar impedir que seja aplicada a duríssima Lei de Murphy, assegurando que todo o esforço empreendido não vá para o espaço. É como o sujeito que, hipoteticamente, deveria ter dito “governador, não diga que o senhor não conhece o Paulo Preto, de repente aparece uma foto sua inaugurando o Rodoanel junto com ele e a coisa preteia pro nosso lado”.

Ou seja, o advogado do diabo pode até ser um chato, mas certamente ele é necessário. Nesse segundo turno, por exemplo, é o sujeito que tem que dizer “não facilitem” pois eles podem voltar e afundar o Brasil de novo. Podem entregar o pré-sal para a BP, dar um jeitinho do dólar bater outras vez nos R$ 4,00, retirar milhões que são injetados na economia de Santa Maria (e de todas cidades brasileiras) com o Bolsa-Família, acabar com o Pró-Uni, rasgar as 14 milhões de carteiras assinadas nos últimos 8 anos, levar a senhora Crusius para um ministério e fazer muitas outras coisas, algumas que até Satanás duvida.

Por isso, eu digo, com especial ênfase a quem votou na Marina no primeiro turno: pensem bem! Quem avisa amigo é…

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Um Comentário

  1. Dizer que é um bom artigo do Luciano é (até de acordo com o dia), chover no molhado.
    Eu sendo gaúcho, se estivesse ainda indeciso, só a possibilidade de Yeda ir parar num ministério já me faria decidir o voto.
    Notaram uma coisa? Onde está o furo que pode derrubar de vez o Serra? Em obras do rodoanel. Lembram da campanha de Yeda? De cada duas palavras, uma era o rodoanel na capital. Será que ela iria trazer o Paulo Preto para “tocar” a obra?

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