Arquivo

Desertos verdes. Universidades a reboque do pensamento pró-destruição do meio ambiente

Aconteceu na sexta-feira e neste sábado, no campus da UFSM, em Camobi, o seminário que tem como tema “rumos na luta contra o deserto verde”. A assessoria de imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm), uma das promotoras do evento, está fazendo a cobertura jornalística. E pretendo reproduzir aqui os textos que ela está produzindo. Inclusive porque a mídia, digamos, tradicional, pouco espaço está dando ao tema. E, quando isso ocorre, privilegia apenas um lado.

 

Reconheço, com uma humildade que não me é comum (fazer o quê!), não ter opinião estabelecida acerca do que está ocorrendo no Rio Grande de hoje. Mas estou pra lá de desconfiado acerca desses projetos “de desenvolvimento” baseados no florestamento da pampa gaúcha, que tem recebido incentivos financeiros os mais variados, e  até alguma pressa na liberação de licenças ambientais. E, o que me deixa ainda mais cabreiro, elogios variados na mídia grandona (e na nem tanto também) da província de São Pedro.

 

Os beneficiados, desconfio, sejam apenas os grandes grupos nacionais e internacionais. E, no longo prazo, será que a sociedade gaúcha sairá ganhando? Ou, mesmo, empatando? São dúvidas que mantenho. E, por isso, ao largo da cobertura oficiosa, me interessa discutir o tema, dando espaço para manifestações como as que surgiram no seminário sediado pela UFSM.

 

A propósito, leia a seguir, no texto assinado por Fritz Nunes, a notícia acerca da palestra feita pelo professor Paulo Brack, da UFRGS, em que ele faz séria (pertinente?) crítica às próprias universidades do Estado. Confira:

 

 

“Professor da UFRGS diz em seminário que universidade

privilegia modelo de “dependência” tecnológica

 

Na abertura do seminário regional “rumos na luta contra o deserto verde”, na manhã desta sexta, no auditório Sérgio Pires, campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o professor da UFRGS, Paulo Brack, criticou duramente as universidades. Segundo ele, uma parcela importante da instituição está a reboque de um modelo de pensamento que privilegia o desenvolvimento de uma tecnologia para a exportação, que desconsidera a questão da dependência e a destruição do meio ambiente. Brack, que é da área de botânica, criticou o processo que tem levado a uma disseminação da monocultura, que antes se restringia à soja, e agora se estende para o eucalipto.

 

O docente fez um alerta em sua explanação: “estamos perdendo 150 mil hectares de terras ao ano do bioma pampa (*) para as monoculturas”. Paulo Brack ressaltou que na região dos Campos de Cima da Serra (RS) a mata nativa está desaparecendo, dando lugar às florestas de pinus. O professor participou da mesa “Histórico ambiental e econômico da região afetada pelos projetos de silvivultura”, juntamente com Leonardo Melgarejo, do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), Martin Zamora (mestrando em Economia pela UFRGS) e Paulo Zarth (professor de História da Unijuí). O auditório estava lotado, com o evento sendo transmitido pela internet através do endereço www.multiweb.ufsm.br/web/cpdeventos, graças ao trabalho do CPD da UFSM.

 

Em sua exposição, Leonardo Melgarejo, do Incra, argumentou que o eucalipto é um tipo de espécie vegetal com ciclo bastante curto, justamente por ser produzida para a exportação, chocando-se com uma visão mais ampla de desenvolvimento, ou seja, que inclua as comunidades e não que as exclua desse processo. O técnico do Instituto também ressaltou que existe uma relação íntima entre latifúndio e monoculturas. Entretanto, a visão defendida por ele como ideal é que fosse incentivada a policultura, com prioridade ao mercado interno. Melgarejo também critica a pressão que as grandes empresas fazem para tentar expandir-se a qualquer custo, citando especificamente os casos da Aracruz Celulose e a multinacional Stora Enso. No Rio Grande do Sul, conforme o funcionário do Incra, o Ministério Público já foi acionado para verificar a compra irregular de áreas para plantio de eucaliptos por parte de uma dessas empresas.

 

Martin Zamora, mestrando em Economia pela UFRGS, que também já atuou num grupo de assessoria ao Movimento de Mulheres Camponesas, fez uma abordagem buscando aspectos históricos que demonstrariam que a lógica de desenvolvimento do Brasil sempre foi pensada na ótica da exportação, e, portanto, da dependência externa. Os ciclos da cana-de-açúcar, do café, mostraram o quanto o ambiente e as pessoas podem ser exploradas para produzir o “desenvolvimento”. Zamora busca seus argumentos em autores clássicos do pensamento econômico do país, como é o caso do já falecido Celso Furtado. Já o professor Paulo Zarth, do curso de História da Unijuí, fez uma relação entre desertos e latifúndios, segundo ele, algo histórico na Metade Sul do Rio Grande do Sul.

 

DEBATE – Após a exposição dos palestrantes, no período reservado à manifestação da platéia, algumas vozes discordaram da abordagem dada no evento. O professor José Américo Filho, do departamento de Engenharia Rural da UFSM, lamentou a ausência de educadores desse setor na mesa de debates e também classificou o “zoneamento ambiental como sendo um equívoco”. Ele defendeu também um zoneamento para as áreas de soja e não somente para as florestas.

 

Para o professor José Sales Mariano da Rocha, ligado aos temas da Engenharia Florestal, há um erro no debate. Segundo ele, é preciso fazer um zoneamento ambiental em todo o Rio Grande do Sul. “O que está nos faltando é respeitar a vocação da terra”, defendeu. Sobre a destruição ao ambiente, afirmou que a solução é o uso da tecnologia.

 

DENÚNCIA– Passou rapidamente pelo auditório Sérgio Pires, o deputado estadual Elvino Bonh Gass (PT), que criticou duramente o governo do Rio Grande do Sul. Segundo ele, cedendo à pressão das indústrias de celulose (papeleiras) o Executivo gaúcho editou uma portaria através da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) que não respeita a legislação ambiental no aspecto do zoneamento para a silvicultura. Bonh Gass disse ainda que o governo criou um fórum em que não há participação das entidades ambientais. A gravidade da questão levou a que o deputado procurasse, no último dia 28 de maio, o procurador Mauro Renner, solicitando que o Ministério Público faça cumprir a legislação sobre o meio ambiente.

 

ABERTURA– A abertura do seminário contou com a presença do presidente da SEDUFSM, professor Diorge Konrad, que enfatizou a importância de discutir esse tema. Compôs a mesa o representante da Regional RS do ANDES-SN, promotora do encontro, o professor Dante Barone. Representando a seção sindical de Rio Grande, o professor Ubiratan Soares Jacob (AProFURG); pela seção sindical de Pelotas (ADUFPel), Althen Teixeira Filho. A Reitoria da UFSM enviou correspondência justificando não poder enviar representante ao seminário.

 

(*) Bioma – conceitua-se bioma como sendo uma comunidade biológica, ou seja, fauna e flora, interadas entre si, junto ao ambiente físico.“

 

SUGESTÃO DE LEITURA – clique aqui, se desejar outras informações oriundas da assessoria de imprensa da Sedufsm.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo