Jannah Theme License is not validated, Go to the theme options page to validate the license, You need a single license for each domain name.
Coluna

Uma filha sob influência – por Bianca Zasso

bianca-aUma sequência de imagens mostra o despertar de uma mulher e seu ritual insólito de beleza. Depois de tirar alguns pedaços de elásticos que sustentam seu rosto, até então não revelado, ela inicia a limpeza das mãos, braços e unhas com afinco. Esfrega forte, como se quisesse tirar uma sujeira pesada, apesar de sua pele parecer limpa. Segue-se a rotina com a escolha da roupa, o embarque no carro e o primeiro de muitos autógrafos sobre sua foto. Senhoras e senhores, assim surge Joan Crawford em Mamãezinha querida.

Lançado em 1981, o filme dirigido por Frank Perry buscou inspiração na autobiografia homônima escrita por Christina Crawford, filha adotiva de Joan. O lançamento do livro e, posteriormente, do filme, tornaram a persona da estrela de Hollywood ainda mais complexa do que seus fãs poderiam supor.

Christina não poupou palavras para registrar no papel sua relação traumática com a mãe famosa e coloca em dúvida o amor de Crawford por ela e seu irmão Christopher. Para dar vida à agridoce mistura de atriz consagrada com matriarca tirana, a escolhida foi Faye Dunaway, que já tinha no currículo um Oscar de melhor atriz pelo ótimo Rede de intrigas, de 1976. Apesar das críticas, a escolha foi certeira.

Mamãezinha querida, lançado numa edição caprichada no Brasil pela distribuidora Obras-Primas do Cinema, é um “tour de force” de Dunaway. A missão de interpretar um dos nomes mais importantes do cinema não foi um impedimento para que a atriz criasse uma Joan Crawford que equilibra o glamour do “star system” com os problemas pessoais de uma mulher que, desde a primeira cena, tenta não perder a pose, em especial diante da imprensa e dos fãs.

Por ter como base o livro de Christina Crawford, Mamãezinha querida traduz o olhar da filha oprimida por uma mãe egocêntrica. No entanto, num acerto do roteiro, é Faye Dunaway quem ganha destaque na história e, apesar dos absurdos que realiza com os filhos, em nenhum momento é julgada pela câmera de Perry. Pelo contrário, há vários momentos em que ela surge soberana, usando belos vestidos e com a postura que só uma estrela poderia ter.

É nessas sequências que somos lembrados de como Crawford era vista pela mídia no seu tempo, um exemplo de atriz e dona de uma família perfeita. Imortalizada nos melodramas, a atriz tem seus ataques de fúria e ciúme contra a filha retratados na tela embalados justamente pelo clima melodramático, com um overacting da parte de Dunaway que cai como uma luva para acentuar a transformação da protagonista de diva para um verdadeiro monstro.

A cena do banheiro, em que ela obriga a filha a limpar o chão enquanto mistura críticas e lembranças de traumas do passado é antológica. Crawford, com a cara lambuzada de creme de beleza, despeja na filha seus dilemas sem dó, incluindo uma surra com um cabide de metal.

Por tentar abranger um período longo da vida de Joan e Christina, que vai da primeira infância até a entrada na vida adulta, Mamãezinha querida acaba perdendo um pouco seu ritmo do meio para o fim, mas nada que atrapalhe o sentido principal da trama, que é nos apresentar Crawford na sua intimidade. Não há preocupação em entender os motivos que fizeram a protagonista agir daquela forma com os filhos, apenas dicas sutis sobre sua juventude difícil.

bianca-bA personagem de Christina, em especial no período da adolescência, não esconde as marcas deixadas pela mãe, inclusive em sua escolha por estudar arte dramática. Em vários momentos, Christina interpreta diante do espelho e imita gestos e olhares de Crawford. Já crescida, ela inicia a contestação das atitudes da mãe, mas sem abandonar o medo de sua tirania. Tanto que não abandona o hábito de chamá-la de mamãezinha querida mesmo já sendo uma mulher. É a força da megera Joan Crawford na vida alheia, tão forte quanto seu magnetismo na tela grande.

Mamãezinha querida não é inovador e tem até seus momentos dispensáveis. Porém, não se pode ficar imune à performance de Faye Dunaway e ao trabalho detalhista da direção de arte. Cultuado até por quem não tem interesse na carreira de Joan Crawford, o filme mantém seu lugar na lista de metamorfoses artísticas, já que Dunaway confunde até quem está acostumado à imagem da protagonista de Johnny Guitar. Também pudera, já que Dunaway tem fama de ter uma personalidade forte. Intriga da oposição ou a mais pura verdade, talvez um dia alguém escreva um livro sobre ela e tudo se revele, provando, mais uma vez, que não há criatividade que supere os problemas da alma.

Mamãezinha querida (Mommie Dearest)

Ano: 1981

Direção: Frank Perry

Disponível em DVD pela Obras-Primas do Cinema

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo