Parecia piada, mas não era – por Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha
Coluna Além das 4 linhas – edição da semana de 24 de agosto de 2012 – por Anderson Santos (editor), Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha
Há poucos anos, a Confederação Brasileira de Futebol resolveu colocar clássicos estaduais para fechar as rodadas finais dos turnos do Campeonato Brasileiro. Internacional X Grêmio e Cruzeiro X Atlético-MG ocorrerão neste final de semana, pela 19ª rodada do torneio, mas bem diferentes do que se imagina para jogos deste nível.
Mesmo com a volta do Estádio Independência, cheio de grades, em Belo Horizonte, segue a ordem para que o maior clássico de Minas Gerais ocorra apenas com a torcida do mandante. Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, Internacional X Grêmio jogarão com um Beira-Rio reduzido a quase 18 mil pessoas.
As discussões iniciais entre Brigada Militar e as diretorias de Grêmio e Inter foram iniciadas com a decisão de que o jogo só poderia ter a torcida do Internacional presente na cancha. Por conta das obras para a Copa do Mundo FIFA 2014, que começaram com bastante atraso, o anel inferior e parte do anel superior do Estádio Beira-Rio foram interditados por motivos de segurança.
Realizar um dos maiores clássicos do futebol brasileiro com torcida única parece mais uma piada de muito mau gosto. Mas, infelizmente, a grandiosa ideia partiu do comando da Brigada Militar. Esta corporação já “ganhou” algumas edições desta coluna descrevendo como costuma tratar o torcedor nos estádios e ao seu redor – como parece ter voltado a fazer na última quarta-feira no clássico Pelotas X Brasil, pela Copa Hélio Dourado. Detalhe, não vamos esconder que o clássico pelotense gera muita tensão na cidade, mas como atestamos ao vivo uma série de vezes, o comportamento das “forças da ordem” gera ainda mais desordem.
De volta para a Beira do Rio, para a BM as obras poderiam influenciar negativamente no policiamento, podendo criar problemas por conta das pedras e pedaços de madeira “disponíveis” no setor – algo que ocorreu em 1995, com a decisão da Supercopa São Paulo de Futebol Júnior entre Palmeiras e São Paulo, no Pacaembu.
Se o policiamento entende ser arriscado que um jogo que envolve tamanha rivalidade, como o Gre-Nal, seja realizado próximo a um canteiro de obras, ainda que os torcedores fiquem no andar superior, que faça um relatório e sugira que os clubes joguem em outro estádio.
Acordo e solução
A solução encontrada, se é que podemos chamar assim, foi diminuir a capacidade para cerca de 18 mil torcedores, com 17 mil e 250 ingressos à disposição dos colorados e 750 para os gremistas. Esse acordo desrespeita o Estatuto do Torcedor, que obriga que o clube visitante tenha direito a dez por cento dos ingressos. A lei ora a lei!
No clássico do returno, que deve ser o jogo de despedida do Estádio Olímpico, a torcida colorada receberá mil entradas. Neste caso, o problema é ainda maior, já que a capacidade do estádio gremista é mais que o dobro do atual Beira-Rio, que vive um confronto nas esferas judiciais contra o Ministério Público para manter o estádio aberto durante a reforma.
O risco de uma tragédia ocorrer existe, as autoridades competentes sabem disso e nada farão para impedir. Esperamos não ter que ver justificativas após qualquer possível confusão.
Tornar-se-á muito simplista as desculpas de sempre: culpar as torcidas por quaisquer problemas. Não que estas não devam ser punidas, mas dar chance para que haja um confronto é de uma irresponsabilidade…
Gre-Nal fora da capital
Não conseguimos entender os motivos da resistência da direção do Internacional em jogar em outro local tendo o mando de campo. Até mesmo porque essa prática se tornou comum nos clássicos do Campeonato Gaúcho.
A Federação Gaúcha de Futebol costuma vender para alguma cidade o primeiro Gre-Nal do estadual. Ano passado, os times reservas se enfrentaram na uruguaia Rivera. Além disso, o presidente da FGF cogitou até realizar um Gre-Nal em Boston, nos EUA! É irresistível a piada de péssimo gosto. Assim como a RBS promove a gauchização do oeste brasileiro, a Federação de Noveletto vai tentar grenalizar o mundo daqui a pouco.
Voltando à lenga lenga, além disso, todos sabiam se tratar de um risco contar com um estádio em obras para a Copa do Mundo FIFA 2014 para realizar as partidas. O Beira-Rio é o único deles a não parar de funcionar, por conta do desejo dos seus dirigentes. Enquanto isso, Cruzeiro e Atlético peregrinaram pelo interior de Minas Gerais até o início do ano e o Engenhão sofreu até a diretoria do Botafogo solicitar a diminuição de jogos neste estádio do Rio de Janeiro – e que troquem de Joãos no nome do Estádio, de João Havelange para João Saldanha já!
Dado até mesmo o tamanho das torcidas de Grêmio e Internacional em todo o Rio Grande do Sul, mesmo para locais como Caxias do Sul e Pelotas, que há um forte sentimento anti Gre-Nal, é indubitável que o estádio estaria cheio, mas simplificar é muito difícil para os cartolas do futebol brasileiro.
Esperamos que a força da rivalidade entre Grêmio e Internacional fique mesmo somente dentro das quatro linhas e que os torcedores em hipótese alguma aceitem um Gre-Nal de torcida única. Isso seria o “começo do fim” de um das mais apaixonantes rivalidades do futebol.
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QUEM ESCREVE:
Anderson Santos é jornalista e mestrando em comunicação social na Unisinos ([email protected]), Dijair Brilhantes é estudante de jornalismo
([email protected]) e Bruno Lima Rocha ([email protected]) é editor do portal Estratégia & Análise (www.estrategiaeanalise.com.br).
Twitter da coluna: @alem_das4linhas
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